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Passagem para o verde das serras
André Vieira
Do Diário do Grande ABC
18/09/2010 | 07:27
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Às 10h da manhã de ontem, na Estação da Luz, em São Paulo, após soar o apito característico dos trens, a composição do percurso do Expresso Turístico para Paranapiacaba iniciou sua viagem inaugural.

A partir de amanhã, quinzenalmente, o trem fará o passeio até a Vila, que começou se desenvolver em meados de 1860, por ingleses que trabalhavam na construção - e mais tarde fariam a manutenção - da primeira ferrovia do Estado.

A locomotiva a diesel que puxa os dois carros que transportam os passageiros do Expresso tem mais de 50 anos. Os vagões, com banheiros e bancos mais confortáveis do que os trens comuns, são da década de 1960.

O percurso até Paranapiacaba, com parada na Estação Prefeito Celso Daniel, no Centro de Santo André, será realizado em 90 minutos.

O valor do ingresso, que terá desconto a partir da compra de mais de um bilhete, é de R$ 28, para os que embarcam na Capital (às 8h30), e de R$ 25, para os que sobem em Santo André (9h). Até a noite de ontem, ingressos para 150 dos 174 assentos disponíveis já haviam sido comercializados.

ROTEIRO
A maior parte da viagem, 37,2 quilômetros, corresponde ao trajeto da Linha 10 Turquesa da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que termina em Rio Grande da Serra. O restante até Paranapiacaba tem 11 quilômetros.

Enquanto o trem segue pelos trilhos, uma locução informa aos passageiros os pontos turísticos - ou nem tanto - que podem ser visualizados no caminho.

O serviço de voz explica o contexto histórico do desenvolvimento das regiões por onde passa o trem, bem como a data de abertura das estações atravessadas.

Da Estação da Luz até as proximidades de Mauá, parte do que pode ser visto pela janela são ruínas das indústrias que se estabeleceram no século passado na Capital e no Grande ABC. A partir de Ribeirão Pires a paisagem muda para o verde das serras.

"Essa é a vila ferroviária mais importante do Brasil e é preciso que os turistas conheçam seus valores culturais", afirmou o presidente da CPTM, Sérgio Avelleda.

Para embarque e desembarque dos passageiros, a Prefeitura ergueu uma plataforma de madeira com cobertura de vinil. Sem oferecer prazos ou informar o valor dos investimentos, o prefeito Aidan Ravin afirmou que pretende melhorar as condições da vila, mas "sem alterar o estilo, que precisa ser rústico."

Na opinião dos que moram em Paranapiacaba, a oferta precisa começar pelos serviços básicos, como acesso mais facilitado ao transporte público.

 

Governo planeja implantar três novos itinerários
O governo do Estado trabalha com a possibilidade de colocar à disposição mais três trajetos para o Expresso Turístico. Além de Paranapiacaba, os trens realizam viagens para Jundiaí e Mogi das Cruzes. Juntos, custaram R$ 1 milhão para implantação.

Segundo o secretário adjunto da Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos, João Paulo de Jesus Lopes, São Roque, Aparecida e Pindamonhangaba, que fará ligação com Campos do Jordão, estão em negociação.

Internamente, segundo Lopes, técnicos da secretaria também trabalham em estudos para verificar a viabilidade de desenvolver outras linhas. Uma das ideias é reativar o caminho para Santos, que poderá ser feito a partir de Paranapiacaba.

A avaliação que o governo do Estado faz do serviço, em funcionamento desde abril do ano passado, é positiva.

 

Pesquisa com os usuários revelou que as mulheres representam 63% do público dos trens turísticos e que 56% viajam com a família. "Quase 90% dos passageiros se disseram satisfeitos", afirmou Lopes. (André Vieira)

 

 

Escritor revive lembrança carinhosa do pai em passeio

Filho de um ferroviário apaixonado por trens, o jornalista e escritor Ignácio de Loyola Brandão, também entusiasta dos transportes, realizou ontem, mais de quatro décadas depois, a viagem entre a Capital e Paranapiacaba.

Para Brandão, o passeio foi uma oportunidade de mergulhar em reminiscências da juventude.

"Faltou uma pessoa aqui, o meu pai, que há 40 anos falou para mim e para meu irmão que iria nos levar para viagem mágica, e nos trouxe até aqui, em Paranapiacaba", afirmou o escritor.

"Eu nunca mais me esqueci desse dia e hoje (ontem) eu recuperei também um pouco a memória do meu pai", completou Brandão.

O escritor contou que a Paranapiacaba de hoje é diferente daquela que ele guarda na lembrança, resgatada no passeio conforme o trem avançava pelos trilhos.

 

"Hoje me parece um pouco decadente, mas tem também o seu charme e qualquer coisa que se faça para que as condições melhorem é uma esperança", afirmou. (André Vieira)




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