Com escassez do produto, moradores fazem filas e esperam horas para garantir a compra
Filas enormes, muita espera, informações erradas e consumidores precisando se locomover em tempo de coronavírus, quando o recomendado é que não se saia de casa. Tudo porque o desabastecimento de gás ainda é realidade no Grande ABC, com expectativa de que o problema esteja resolvido em três ou quatro dias. O aposentado Eduardo Nascimento, 56 anos, afirma que rodou por cidades em busca de gás por uma semana.
Ontem, após ficar em filas pela manhã, no período da tarde, com a ajuda de sua irmã, conseguiu em distribuidora localizada no bairro Capuava (Mauá). Nascimento reside na divisa de Santo André com o Jardim Elba, em São Paulo. “Em muitos locais fazem você ficar esperando, dão horários, e quando chega a hora falam que os botijões não chegaram, que não há previsão. A minha sorte e da minha mulher é que moramos ao lado de minha irmã, por isso, tínhamos lugar para fazermos nossas refeições. Mas e quem não tem essa comodidade?”, indaga ele, que pagou R$ 70 pela unidade. Onde costuma comprar, estava a R$ 79, mas, segundo os funcionários, assim que normalizar o fluxo de vendas, o preço voltará a R$ 75.
De acordo com o Sindigás (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo), as “empresas distribuidoras estão trabalhando com capacidade máxima de colaboradores para atender à demanda, inesperadamente intensificada nos últimos dias. Para desmotivar a compra considerada desnecessária com vista a formar estoque, o Sindigás lançou campanha de consumo consciente. O objetivo é despertar o senso de solidariedade entre os consumidores para que quem precise do gás imediatamente não corra o risco de ficar sem o produto.”
Ainda de acordo com a entidade, o aumento da demanda gerou atraso de dois dias na normalização do gás da Petrobras, por isso as “filas e a sensação de escassez para o consumidor final”. O Sindigás informou que nova carga de gás importado que chegou ontem ao Porto de Santos foi transportada para Mauá, o que deve restabelecer o abastecimento dentro de três a quatro dias.
Questionada pelo Diário, a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) informou que a falta é pontual. “Com a quarentena, o consumo das famílias aumentou. E parece que nas semanas anteriores algumas pessoas estavam estocando. Com as medidas que vêm sendo tomadas, a situação vai se normalizar.”
O soldador Antônio Fernandes, 39 anos, de Santo André, passou o dia, ontem, em busca de um botijão. “Tenho mulher e filho em casa e está sendo muito ruim ficarmos dois, três dias sem gás. No jantar dá para comer um pão, mas não o dia todo. Nesse momento que a gente deve ficar em casa estou indo até minha sogra buscar comida. E o pior não é isso, mas a falta de previsão por parte das distribuidoras e a desatenção dos funcionários.” Segundo Fernandes, o botijão, que costuma pagar R$ 68, já foi encontrado por R$ 90.
Alexandre José Borjaili, presidente da Associação Brasileira dos Revendedores de GLP, acredita que é errado delegar ao consumidor a responsabilidade por erros cometidos pelos órgãos que regulam o setor. “Medidas emergenciais já deveriam ter sido tomadas, inclusive pela Petrobras, que estava ciente desse risco e poderia ter limitado a compra a um botijão por pessoa.”
Segundo ele, a situação de escassez é a mesma no Rio Grande do Sul, Bahia, Espírito Santo, São Paulo, Goiás e Minas Gerais.
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