Determinados automóveis nascem predestinados a serem clássicos. Carregam em suas curvas, estilo e desempenho o carisma dos automóveis que marcam época. Este é, sem sombra de dúvidas, o caso do sedutor MP Lafer. Inspirado no MG TD 1952, o modelo foi fabricado durante 14 anos em São Bernardo (1974/1988) e conquistou muitos admiradores. Um deles é o empresário Alberto Fiasqui, 53 anos, morador de Santo André.
Proprietário de um exemplar 1977 vermelho em perfeito estado de conservação, sua paixão pelo conversível de dois lugares é de longa data. Em 1986, por exemplo, adquiriu um Lafer 1982, mas, a pedido da mulher, Marlene, trocou por um Chevette - algo que parece incomodá-lo até hoje. "Me arrependi profundamente na época", admite Fiasqui.
No entanto, o mundo gira, o tempo passa e as coisas mudam. As pessoas mudam. E a própria Marlene, há alguns anos, sugeriu ao maridão que comprasse uma motocicleta para viajarem pelo interior de São Paulo. Proibido pelos pais de ter uma magrela quando jovem, o andreense de nascimento teve uma ideia melhor. "Falei para ela que compraria algo mais confortável, que não precisaria usar capacete e que poderíamos sentir o vento no rosto do mesmo jeito. Decidi então comprar outro MP Lafer!"
PROCURA-SE - A caça pelo modelo ideal teve início. Os Lafer em perfeito estado de conservação eram muito caros. Fiasqui buscou daqui, fuçou dali, acessou à internet e comentou com amigos. E por intermédio de um colega que estava atrás de um Lafer também, ele chegou ao modelo 1977. Fez uma proposta e levou. Qual era o estado de conservação do clássico? A expressão ‘muito ruim' talvez seja branda. A palavra ‘deplorável' é mais adequada.
Encostado, era possível reconhecê-lo apenas pelo formato. "O ex-proprietário disse que a funilaria e o assoalho estavam bons. Mas a verdade é que nem isso prestava", relembra. "Tive que refazer tudo. O processo de restauração durou 56 semanas, das quais em 52 sábados passei na oficina em São Bernardo para acompanhar o trabalho e ver se estavam precisando de algo", revela Fiasqui, aproveitando a oportunidade para fazer uma revelação. "Minha mulher fala que ‘ela' (MP Lafer) é minha amante!"
Já a filha Camila, ao ver o carrinho e notar a inscrição MP no capô, não teve dúvidas e passou a chamá-lo de Maria Paula - nome pelo qual o Lafer nos foi apresentado.
CHEIO DE DETALHES - Enquanto os mecânicos-paramédicos ressuscitavam o antigo, descobriu-se que ele tinha cinco camadas de tintas, entre elas bege, verde e até mesmo amarelo. Agora, o MP Lafer Clássico é vermelho. "São duas camadas de alumínio e outras quatro de vermelho transparente", explica o empresário, que rasga elogios ao interior com painel e volante em rádica - laminado de raiz de árvore. "Acho que os Maserati de hoje utilizam o mesmo material."
O modelo é todo peculiar. A começar por se inspirar em um veículo 30 anos mais velho (MG TD 1952). Os para-lamas, por exemplo, atravessam o carro de ponta a ponta. A grande frontal não funciona como entrada de ar - sequer é vazada - , pois o motor Volkswagen 1.600 é traseiro (no caso da Maria Paula, a carburação é dupla e a transmissão manual de quatro marchas é do SP2). "Até que você veio devagar", brinca Fiasqui, ao comentar a velocidade de 90 km/h que trafegávamos na Rodovia Anchieta.
MAIS QUE UM CARRO - Alberto Fiasqui reconhece que o poder dos carros antigos vai muito além de chamar a atenção ou contar parte da história. "Os antigos quebram o gelo das pessoas. Elas deixam seu mundo particular e veem conversar com você sobre o carro. Uma vez estava no posto de combustível e pedi para o frentista jogar uma água no MP Lafer. Um senhor parou de ler o jornal e veio conversar comigo. Depois veio uma outra pessoa. Fiquei lá por uns 15, 20 minutos", conta. "Nos semáforos, por exemplo, nunca vieram me pedir dinheiro. Sempre perguntam: ‘Tio, que carro é esse?'"
"Nestes anos, o MP Lafer só me deu boas coisas", conclui o empresário andreense, que não pensa duas vezes em usar o carro para o dia a dia ou passear aos fins de semana. "Em um ano e meio já rodei 9.000 quilômetros. Agora no fim do ano, talvez eu passe o Réveillon no Rio de Janeiro. Estou pensando em ir com ele", revela Fiasqui, que já tem planos para o próximo antigo, um Dodge Dart R/T 1977 "de preferência amarelo".
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