"Eu não sou nem pró nem antiamericano", mas a realidade é que os "Estados Unidos dominam o mundo, que somos todos súditos do império. Os iraquianos sabem algo a respeito", declarou Arcand. "E o império vai decidir nossa cultura. Eu sou pessimista, porque a cultura continua sendo a das armas", como demonstra a história, disse, acrescentando: "Nós podemos falar de Sartre e de Primo Levi, mas isso não vai influenciar (Donald) Rumsfeld (secretário de Defesa americano)".
A decadência do império americano foi o primeiro filme francófono do Canadá a conseguir um verdadeiro êxito internacional, colecionou prêmios e deu ao Quebec sua primeira candidatura ao Oscar, em 1987.
Roteiro sólido, diálogos cortantes, humor totalmente sem preconceitos, liberdade de linguagem e uma reflexão intelectual séria sobre a sociedade sem resvalar no maniqueísmo ou no pedantismo: os ingredientes que garantiram o êxito de A decadência do império americano também estão presentes em As invasões bárbaras, assim como o elenco de atores que encarnava o grupo de professores universitários de Montreal e que protagonizaram impagáveis discussões sobre a vida, a história e o sexo.
Mas o tempo passou e os personagens envelheceram. Remy (Remy Girard), professor de história, um Casanova infatigável, está com câncer. Seu filho (Stephane Rousseau), com quem tem uma péssima relação e que vive em Londres, é convocado para tomar conta do pai por sua mãe Luise (Dorothée Berryman), que se divorciou de Remy por causa de suas infidelidades. Louise o convence de que o melhor que pode fazer por seu pai é dar-lhe a felicidade de se reunir com seus amigos antes de morrer. Todos são convocados e vão para a cidade.
Arcand afirmou que seu objetivo não era uma espécie de "20 anos depois", mas que quis fazer um filme sobre um homem que enfrenta a morte, mas só conseguiu elaborar "roteiros sinistros até que tive a idéia de recorrer aos personagens de 'A decadência'". A partir daí, o projeto decolou.
Adversário - No pólo oposto, o segundo filme na competição na quarta-feira, The brown bunny, do americano Vincent Gallo, ator e diretor de reputação corrosiva, foi uma decepção total e sua projeção terminou entre risos de deboche.
O filme de Gallo dá a impressão de ser um exercício narcisista. Durante uma hora e meia a câmera segue um personagem (interpretado pelo próprio Gallo) através de um interminável percurso pelos Estados Unidos, filmando a estrada e o personagem em seus gestos cotidianos: dirige, toma banho, escova os dentes ou põe um pulôver. No fim de seu périplo, chega a Los Angeles e procura a mulher que ama.
Finalmente, no filme ocorre algo. A mulher em questão aparece em seu hotel e faz uma felação filmada pela câmera de forma crua e sem subterfúgios. Na quarta-feira, esta cena era o tema de todas as conversas no festival, não por puritanismo (Cannes viu outras mais ousadas) mas porque é realmente o único momento de ação do filme. Sem ele, não haveria nada para ser dito sobre o filme de Gallo.
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