Além do trânsito caótico, pistas da Anchieta e Imigrantes têm problemas de manutenção
Às vésperas do feriado de Carnaval, a Ecovias – concessionária responsável pelo SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes) – estima que cerca de 550 mil veículos vão circular pelas vias entre amanhã e a quarta-feira de Cinzas. Além dos temidos congestionamentos, o motorista que fizer o trajeto entre a Capital e o Litoral enfrentará problemas causados por falhas na manutenção das vias.
A equipe do Diário percorreu as duas estradas e observou que, além dos velhos e conhecidos buracos, rachaduras, desníveis nas pistas e ambulantes, os telefones de emergência que ficam próximos à serra, nas duas vias, não funcionam, tampouco há sinal para celular.
Aparelhos instalados entre o km 39 e km 40 da Anchieta também estão quebrados, enquanto no trecho que vai do km 30 ao km 40 da Imigrantes há placas que indicam a existência de pelo menos sete telefones SOS, mas que não estão instalados. Em nota, a Ecovias informa que já havia identificado os telefones inativos, e que deverão ser consertados até o fim da semana. Quanto aos demais, afirma que as placas SOS indicam existência de baias de segurança mais seguras para que o motorista possa parar em caso de emergência, não necessariamente que existam telefones..
Os problemas, porém, não deveriam fazer parte do trajeto, como observam usuários, já que a concessionária cobra o pedágio mais caro do País em valor nominal – R$ 27,40 para quem vai ao Litoral, além de valores que chegam a R$ 13 nos bloqueios instalados nas entradas de municípios – na região, as rodovias cortam São Bernardo e Diadema.
“Pagamos muito caro no pedágio e não sabemos para onde vai o dinheiro. A Ecovias fala que faz obras, mas é tudo de qualquer jeito. As pistas, tanto da Anchieta quanto da Imigrantes, deixam muito a desejar”, disse o motorista Marco Antônio Correia Sandrin, 42 anos.
Caminhoneiro há 20 anos, Sandrin coleciona reclamações. “Tem muito remendo malfeito, os buracos são tapados com material de péssima qualidade e temos grandes desníveis nas pistas. Esses problemas significam perigo, sobretudo à noite, já que a iluminação, onde existe, é péssima”, afirmou. A concessionária disse que faz semanalmente serviços de manutenção e conservação das rodovias.
Sandrin destacou ainda a falta de segurança nas estradas. “Já fui sequestrado e perdi as contas de quantas vezes fui roubado. Falta fiscalização, falta atenção, falta muito para termos exemplos de boas estradas”, criticou o motorista.
Não bastasse o alto custo para utilizar os 31,1 quilômetros da Anchieta e os 32,3 quilômetros da Imigrantes, os usuários do sistema ainda têm de lidar com a presença de vendedores ambulantes, que circulam à vontade para comercializar água e salgadinhos, entre outros produtos – o que é proibido pela lei estadual 7.452, de 26 de julho de 1991.
Pai de um menino de 2 anos, Pedro Henrique Botelho, 19, diz que fica cerca de 12 horas vendendo pipoca, água e salgadinho nos pedágios. “Preciso sustentar meu filho, e não consigo emprego”, contou o jovem. No caso dos ambulantes, a Ecovias informou que não “tem poder de polícia para fiscalizar e coibir atos que ferem a lei, mesmo que ocorram dentro de sua área de concessão”.
RECORRENTES
Há menos de um ano, a equipe de reportagem fez o mesmo percurso e, passado todo esse tempo, os problemas continuam. Na Anchieta, próximo ao trecho do pedágio, o destaque fica para as falhas, a começar pela placa de proibido estacionar que fica quase coberta por folhas de plantas. Entre os km 30 e km 31 é possível visualizar os remendos e rachaduras no asfalto, inclusive desnível na lateral da pista.
Também no trecho que antecede o pedágio, moradores do entorno reclamam da falta de iluminação. Além disso, a população que mora no km 31,5 tem de se arriscar andando pela via, já que não existe acostamento naquela área. “É muito perigoso andar por aqui. Não somente por acidente, mas principalmente pela falta de iluminação. Muitas vezes ando pela pista para não passar perto da mata no escuro”, disse a cabeleireira Carolaine Pereira Batista, 18.
Na Imigrantes, os trechos com mais problemas ficam próximos à serra, onde a pista se mostra mais gasta. A neblina, por sua vez, é ainda a questão mais temida pelos usuários.
A Ecovias publica em suas redes sociais e site avisos de trechos com a visibilidade comprometida. Mesmo que o nevoeiro seja causado pela natureza, somado às falhas do sistema, motoristas afirmam que a sensação de insegurança é maior.
Ecovias tem concessão das estradas há 22 anos
A Ecovias é responsável pela operação, obras, manutenção, atendimento aos usuários e investimentos no SAI (Sistema Anchieta-Imigrantes) desde 1998. Mesmo há 22 anos à frente da concessão, ainda não conseguiu resolver problemas recorrentes nas rodovias, que ligam a Capital ao Litoral. O contrato, entretanto, está previsto até 2026, já considerando aditivos relativos a obras e obrigações que foram incluídas no pacote ao longo dos anos.
Diante dos problemas estruturais observados nas vias, o professor da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Creso de Franco Peixoto observa que o valor cobrado pelo pedágio, “justificável pela complexidade do sistema”, deveria ser destinado a melhorias. Entretanto, destaca que é importante que os usuários levem à concessionária suas insatisfações e apontem as falhas no sistema. “A população tem de reclamar. Indico que anotem protocolos para, caso não sejam atendidos em prazo razoável, avançar um questionamento da não resolução, onde aí sim a Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) deve entrar em ação.”
O especialista destaca ainda que, se o serviço de socorro pelos telefones SOS não funciona, sobretudo em locais em que não há sinal para aparelhos móveis, há falta de atuação da concessionária.
Segundo a Artesp, não há estudos em andamento para renovação do contrato com a Ecovias. A agência informou que, desde o início da concessão, a Ecovias investiu R$ 14 bilhões em obras, manutenção, operação e no atendimento aos usuários.
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