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Forte cheiro e fumaça preta da Petroquímica incomodam moradores

Munícipes do entorno do Polo Petroquímico, reclamam do fogo no 'flare' alto e cheiro forte

Yasmin Assagra
do Diário do Grande ABC
27/01/2020 | 12:27
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Claudinei Plaza/ DGABC


Mesmo ressaltarem que já estão acostumados com a situação, os moradores do bairro Parque Capuava, na divida de Santo André com Mauá, ainda apontam transtornos com as chamas emitidas pelo flare (a chaminé) do Polo Petroquímico. Segundo os munícipes, na semana passada, de quinta-feira a sábado, em todo entorno da empresa, era possível sentir o forte odor e a fumaça preta, oriunda da queima de gases. Segundo a população, esse problema "está longe de acabar". 

O motorista de ônibus, Laércio Nascimento, 60 anos, morador do bairro há 25 anos, comenta que, apesar dos perigos com a fumaça tóxica, ficou aliviado que choveu. "O impacto sempre é de preocupação dos moradores. Isso é um problema antigo, por mais que estamos acostumados, é muito desagradável essa situação", destaca. 

A autônoma, Érica Dias, 40 anos, comenta que, além de toda fumaça, o cheiro incomoda seu filho, o estudante Felipe Viana, de 18 anos, que sofre com asma. "O uso da bombinha aumenta praticamente o dobro. É muito difícil", comenta. Dias ainda conta que em cinco anos como residente do bairro, nunca recebeu aviso sobre as operações realizadas no local. "Seria melhor se soubéssemos o que estaria acontecendo", avalia. 

A situação para a dona de casa, Andréia Martins, 41 anos é muito parecida. Os filhos, Gabriel Roberto, 12, e Guilherme Martins, 5, sofrem com bronquite e rinite e com o cheiro, os gastos da casa aumentam. "O umidificador fica ligado direto, aplicação de soro em pano úmico, máscaras e inalação duranteo dia. Eu sinto cheiro de gás, sei que os meninos (Gabriel e Guilherme) pioram", observa. 

A dona de casa ainda conta que já viu "gotículas de algum produto" caindo em cima dos carros da rua e calçadas. "A gente nunca sabe o que acontece então sempre dá medo", finaliza. 

O advogado ambientalista e membro do MDV (Movimento em Defesa da Vida) do Grande ABC, Virgílio Alcides de Farias, declara que, primeiramente, a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) precisa verificar se a licença ambiental do Polo Petroquímico está renovado, pois segundo o advogado, quanto mais risco à poluição, menor o prazo de validade da licença. "Toda vez que a Companhia for realizar essa renovação, é fundamental que eles ouçam a população e busquem saber se o Polo está solucionando os problemas e tomando as devidas providências", declara. 

Além, disso, Alcides observa que, além da Cetesb, a Secretaria do Meio Ambiente da cidade e o Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) também podem intervir. "É um caso terrível contra o meio ambiente, então, são órgãos que também estão em contato com os moradores e podem cobrar a Cetesb dessa renovação e atenção com o problema", disse. 

O munícipe que deseja realizar alguma reclamação para Cetesb, é necessário acessar o site https://cetesb.sp.gov.br/ e relatar o problema no ícone da Ouvidoria. Na aba, é possível também enviar fotos e vídeos. "Depois disso, a Cetesb vai avaliar o caso e iniciar um procedimento administrativo e com isso, informar ao morador quais providências serão tomadas", finaliza Virgílio. 

Em nota, a Braskem informou que no dia 18 de janeiro, em razão de uma falha em um transformador do sistema elétrico interno, sua produção foi paralisada de forma segura e, automaticamente, foi acionado o sistema conhecido como flare, um mecanismo seguro para queima de gases utilizado por indústrias químicas, petroquímicas e refinarias.

"Este processo de queima não oferece risco aos moradores do entorno da fábrica e segue as normas internacionais de segurança. Quanto ao odor, a Braskem informa que a base da atividade industrial petroquímica é formada por diversos gases, que eventualmente, podem emitir odores quando há variações no clima ou nos processos produtivos. Tais odores, contudo, não representam descumprimento das normas de qualidade, saúde, segurança e meio ambiente, as quais a Braskem segue de forma rigorosa", esclarecem em nota. 

Diário aguarda um posicionamento da Cetesb. 

ESTUDOS

No início de 2018, o Diário publicou matéria sobre uma pesquisa que concluiu a poluição registrada no entorno do Polo Petroquímico de Capuava, onde potencializa o desenvolvimento de doenças. Isso devido ao volume elevado de compostos químicos nocivos concentrados em raio de até 8,5 quilômetros do complexo industrial – composto por 14 empresas – em área onde vivem aproximadamente 2,5 milhões de pessoas. 

Na época, uma das constatações feitas a partir do trabalho foi a de concentração de materiais particulados – resíduos da queima de combustíveis fósseis – é até 30% maior do que os índices registrados pelas estações de monitoramento da Cetesb no local – 48,5 microgramas por metro cúbico na unidade móvel e 37,5 microgramas por metro cúbico na estação do órgão estadual.

Chama atenção ainda a presença de compostos nitroaromáticos na atmosfera da área analisada – geralmente utilizados por indústrias na produção de tintas e plásticos – em concentração superior à recomendada pela OMS (Organização Mundial de Saúde). O limite determinado pela entidade é até 1 nanograma por metro cúbico, no entanto, foram registradas amostras com índice acima de 2 nanogramas por metro cúbico.

A presença de metais pesados, como o níquel e o cobre – que potencializam o risco de câncer – também foi registrada, bem como do dióxido de nitrogênio (gás alaranjado tóxico e de cheiro forte), foram constatadas em valores acima dos padrões de qualidade do ar vigentes.

Matéria na íntegra, amanhã (28) no caderno de Setecidades e pelo site www.dgabc.com.br.

Leia mais: Poluição no entorno do polo petroquímico amplia risco de doenças 




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