No dia 19 deste mês, em um grande estúdio de Nova York, o rei do futebol, hoje com 61 anos, será escaneado e filmado durante dois dias, para que se consiga uma reprodução em 3D verídica da jogada. O diretor de animação responsável pelo trabalho é o brasileiro Luiz Briquet, publicitário, dono da empresa especializada em animação para comerciais Briquet Filmes.

O lance ficou conhecido como “o gol da rua Javari”, no melhor estilo futebol arte que caracterizou o estilo brasileiro de jogar e que anda sumido dos gramados. Foi marcado em 2 de agosto de 1959, numa partida entre Santos e Juventus, no estádio da rua Javari, em São Paulo. O Santos ganhava a partida por 4 a 0, mas Pelé jogava mal e era vaiado em campo. E, então, marcou o último gol da partida: foram quatro chapéus sucessivos que culminaram num golaço. O jogo parou. Os jogadores adversários e do próprio time foram cumprimentar Pelé. O juiz e os bandeirinhas, também. O público aplaudiu durante dez minutos. Pelé tinha 19 anos e um ano antes havia sido coroado rei na Copa da Suécia.

“Marquei 1.281 gols nas 1.375 partidas que disputei em toda a carreira. Gols de todos os jeitos, nos mais diferentes gramados, em estádios espalhados pelo mundo inteiro. Mas agora, estou me preparando para marcar um muito diferente, em 3D, o ‘gol da rua Javari’,” afirmou Pelé.

A idéia de reproduzir o gol foi do cineasta Aníbal Massaini Neto, que prepara aquele que, para o próprio jogador, será “o documentário definitivo sobre Pelé”. Para a realização do filme, intitulado Pelé, o Atleta do Século, foram recolhidas gravações de mais de 250 gols e entrevistadas mais de 100 pessoas. Durante a produção, foi descoberto que “o único gol não filmado foi o gol mais bonito da minha carreira”, disse Pelé.

Amigo de Massaini, foi de Luiz Briquet que partiu a idéia de utilizar a tecnologia de animação mais avançada do mundo para (re)criar essa imagem. Massaini teve dificuldade em conseguir cenas daquele gol. Havia testemunhos, mesmo assim incompletos e até contraditórios. Briquet convenceu-o de que não faria sentido colocar pessoas falando diante da câmera. Para mostrar o que não se tem, só (re)criando.

Motion capture – Briquet utilizará tecnologia de ponta, a mesma que permitiu a criação da atriz virtual de Final Fantasy – o motion capture. A máquina é cara. Custa cerca de US$ 150 mil, e é muito usada na criação de games e desenhos de última geração (para cinemas e comerciais). Não existe no Brasil.

Na tela, o lance terá de 12 a 15 segundos. “Com uma câmera virtual, filmaremos todas as partes do corpo de Pelé, com sensores especiais que captam seu movimento. Separadamente, confeccionaremos seu corpo em três dimensões, para juntar ambos os arquivos, de modo que o computador tenha seus movimentos completos”, explicou Briquet, que nunca utilizou esta tecnologia antes.

Pelé também será escaneado em três dimensões. Para que ele volte aos 19 anos que tinha quando marcou o gol, sua imagem será rejuvenescida, uma verdadeira escultura virtual. O trabalho com Pelé durará dois dias e deve ser finalizado em dois meses. Uma equipe do Fantástico, da Globo, acompanhará o trabalho com o jogador, cujo making of será mostrado depois no programa.

Briquet também pensa em reconstituir outro lance famoso de Pelé que desapareceu – o “gol de placa”, marcado contra o Fluminense em 1963, no Maracanã.