Jair Bolsonaro bateu o PT, que havia vencido quatro eleições seguidas para a Presidência, foi aplaudido em estádios de futebol e nas ruas, conseguiu emplacar uma ampla reforma da Previdência (mesmo sem ter articulação própria no Congresso), transformou o pequeno PSL num grande partido. Há alguns sinais tímidos de crescimento econômico, depois de anos de paralisia, a inflação está controlada, os juros oficiais jamais foram tão baixos, a Bolsa bate recordes, tendo já superado os 115 mil pontos. E, apesar disso, a aprovação do seu governo, conforme a última pesquisa Ibope, é só de 29%. Menos de um terço do eleitorado o considera ótimo ou bom. Já 38% o veem como ruim ou péssimo. Para 31%, é apenas um governo regular. Esta pesquisa foi pedida pela CNI, Confederação Nacional da Indústria, que pode ser tudo, menos socialista ou petista ou esquerdista.
Como explicar tão baixa aprovação para um presidente que colecionou tantos êxitos? Talvez a resposta esteja na velha Grécia: quando um homem tinha orgulho desmedido, a ponto de não se importar com mais ninguém, os deuses lhe enviavam Nêmesis, a vingança, para fazê-lo retornar aos limites. Se não se convencesse de que era homem, não deus, viria a Ate – destruição.
Fernando Collor também tomou boas medidas, também teve apoio nas ruas, mas quando se sentiu balançar e pediu apoio à multidão, não mais o teve. Bolsonaro tem tempo, ainda. Mas precisa lembrar-se de que não é deus.
Os problemas e a reação
Bolsonaro já demonstrou que não se importa com ninguém, nem os mais próximos aliados. Descartou Gustavo Bebbiano, que chefiou sua campanha, livrou-se de um amigo de 40 anos, o general Santos Cruz, esqueceu Paulo Marinho, em cuja casa esteve montado seu QG de comunicação, entregou velhos aliados como Alexandre Frota e Joice Hasselmann à grosseria de seus piadistas, rompeu com Luciano Bivar, que lhe cedeu o partido, de porteira fechada, durante todo o período eleitoral. A última pessoa que pôs a mão no fogo pelos outros foi o Capitão Gancho – mas estariam todos conspirando contra ele há tanto tempo? Aí veio Nêmesis, a deusa da Vingança. Se é só com os filhos que Bolsonaro se preocupa, agora tem com o que se preocupar. E os problemas do senador Flávio, o 01, visivelmente o preocupam – a ponto de dizer que um repórter tinha cara de homossexual, mas nem por isso iria acusá-lo de ser homossexual. Desde quando chamar alguém de homossexual é acusação? As perguntas sobre Flávio e Queiroz irritam o presidente. Talvez até a palavra correta não seja “irritem”. Talvez se deva dizer “tirem do sério”.
A boa notícia
Mesmo com a alta da carne, a inflação está sob controle. Na pior previsão, a inflação anual fica em 3,95%, abaixo do teto oficial de 4,25%.
Má notícia
A alta da carne não será revertida rapidamente. Esta coluna informou há tempos que a Austrália, vítima de pesadas chuvas e enchentes, foi obrigada a sacrificar o rebanho. Grande exportadora, vendeu tudo, inclusive as vacas. Vai levar uns três anos para normalizar a situação. E o consumo da China continua em elevação. Menos carne no mercado, maior consumo, preços mais altos – a solução está no frango e no porco, mais baratos que o boi.
Novidade na tela
Preste atenção na TV Cultura. Quem está no comando é um dos melhores executivos da TV brasileira, José Roberto Maluf, que foi homem-chave das redes Bandeirantes e SBT em algumas de suas melhores fases (este colunista teve a oportunidade de trabalhar com ele em ambas as redes). A Cultura já atinge 90% do público e continua ampliando a rede. Seu jornalismo, comandado por Leão Serva, veterano do Projeto Folha, capitão do Jornal da Tarde, mostra a que veio: amanhã, dia 23, às 22h, o tradicional Roda Viva apresenta o historiador israelense Yuval Harari, cujos livros e palestras são um sucesso internacional. Vale a pena ler Harari. E vê-lo.
É coisa nossa
Um romance publicado há quase 30 anos, O Papagaio e o Doutor, e a peça Adeus, Doutor, ambas da notável psicanalista e escritora brasileira Betty Milan, estão sendo adaptados para o cinema em Nova York pelo diretor Richard Ledes. O filme vai-se chamar Adeus, Lacan (referência ao psicanalista francês Jacques Lacan, com quem Betty Milan se especializou). O papel de Lacan será vivido por David Patrick Kelly.
Ele também acerta
Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro e o segundo dos zeros à esquerda do presidente da República, voltou a se manifestar, depois de curtíssimo tempo de silêncio.
Segundo disse, a equipe que cuida da comunicação no governo “sempre foi uma bela de uma porcaria”. O responsável direto pela área é Fábio Wajngarten, tido até agora como aliado de Carluxo. Mas, se Bolsonaro descartou amigos seus, por que não descartaria algum ex-amigo do filho?
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