A reforma da Previdência está aí, o megaleilão do pré-sal não foi lá essas coisas, mas se realizou, discretamente há privatizações andando, a inflação está baixa, os juros (oficiais) nunca foram tão reduzidos. Há até um ou outro tímido indício de recuperação econômica – pequena, pequena, mas melhor do que zero. Cadê a avalanche de investimentos estrangeiros que, dizia o ministro Paulo Guedes, esperava ansiosa essas medidas para inundar o País?
Pelo jeito, faltou apenas uma coisinha: combinar com os investidores do Exterior. Pois, ao contrário do que se imaginava, de janeiro até agora o que houve foi desinvestimento: quase US$ 50 bilhões deixaram o Brasil. Parte pela situação internacional – para o cidadão americano de classe média baixa que aplica suas economias em fundos, Bolívia, Venezuela, Argentina, Chile e Brasil são tudo mais ou menos a mesma coisa, latinos – e crises nos países vizinhos os levam a desconfiar do Brasil. Fora isso, é mais fácil e seguro pôr dinheiro nos Estados Unidos, onde a economia vem crescendo. Mas parte é culpa brasileira: essa coisa bolsonariana de crise permanente não anima os investidores, e eventos como o crescimento da área derrubada da Amazônia fazem surgir temores de represálias que podem prejudicar o agronegócio e a mineração, pontos fortes do Brasil. O investidor tem outras oportunidades. E, entre suas características, adora a tranquilidade. Como achá-la por aqui?
Pois é
A literatura econômica ensinou ao ministro Paulo Guedes que, preparado o terreno para recebê-los, os investimentos fluem. E ele acreditou.
Brigando com fatos
Diante do derrame de petróleo em costas brasileiras – a responsabilidade não é de Bolsonaro – nosso governo correu para parecer culpado. Acusou o Greenpeace, acusou um navio grego, sem comprovar nada, exceto que não tem ideia do que houve. Aí surge um tal secretário da Pesca e diz que peixe é inteligente: foge do petróleo e não se contamina. Cresce o desmatamento na Amazônia, e o governo põe a culpa até na Noruega. Mas, diante das palavras oficiais contra a os defesa do meio-ambiente, os delinquentes se animaram e ampliaram as atividades ilegais. Só agora o governo promete reprimir ilegalidades. Teve de recuar. É duro brigar com fatos – eles vencem.
Escondendo o bom
Na briga com os fatos, o governo ocultou uma boa notícia: com a redução das despesas públicas e o aumento da arrecadação, os recursos orçamentários que tinham sido bloqueados foram liberados. Ou seja, na gestão econômica, sem envolvimentos políticos, o governo vai bem. Mas quem presta atenção em notícias como essa, quando Bolsonaro e antigos aliados trocam insultos?
Proibido para menores
O texto que se segue transcreve, sem modificações, um debate do ministro da Educação, Abraham Weintraub, pelo Twitter, com gente que o criticou. Sua excelência lembrava favoravelmente a Monarquia, e um crítico disse: “Se voltarmos à Monarquia, certamente você será nomeado bobo da corte!” Weintraub: “Uma pena, prefiro cuidar dos estábulos, ficaria mais perto da égua sarnenta e desdentada da sua mãe”. Em seguida, outra pessoa reagiu: “Andando na rua encontrei seu bom-senso. Ele mandou lembranças e disse que está com saudades!” Weintraub: “Que bom, agora continue procurando pelo seu pai...” Mais surpreendente do que ser ministro é cuidar da Educação.
Economia é a chave
Espere-se que as brigas partidárias e grosserias públicas não atrapalhem o que é importante: como dizia o principal assessor de Bill Clinton na disputa pela Presidência norte-americana, “é a economia, estúpido”. Afinal, se a economia der certo, o balanço do governo será positivo. O Ministério da Economia promete enviar ao Congresso um vasto programa de reforma tributária, que deve simplificar o ultracomplexo sistema nacional de impostos.
Os novos caminhos
O plano é enviar a reforma tributária em quatro etapas, sendo a primeira neste mês e a última em meados do ano que vem. Primeira: unificar PIS e Cofins, que alcançam produtos e serviços. Em seguida, no começo do ano legislativo, o novo IPI, que deve mudar de natureza: em vez de arrecadatório, passa a seletivo, para inibir o consumo de cigarros, bebidas etc. A terceira fase, até o fim do primeiro trimestre, mexe no Imposto de Renda de pessoas físicas, com uma alíquota extra para rendas mais altas, e aumento da faixa de isenção. A última fase é a desoneração da folha de salários das empresas.
Sem fantasia
Não se impressione com a campanha que pede o impeachment de Toffoli e Gilmar Mendes. Não é impossível que dê certo, mas é improvável. O STF segurou o processo contra o filho de Bolsonaro e libertou Lula. A campanha pela prisão após condenação em segunda instância também é complicada. Os parlamentares sabem que podem ser vítimas. Vão piorar a própria situação?
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