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Refugiados realizam sonho de estruturar rádio haitiana

Moradores de Santo André apostam na miscigenação cultural em programação que atinge 30 mil pessoas

Por Yasmin Assagra
Do Diário do Grande ABC
27/10/2019 | 07:00
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André Henriques/DGABC


 Desde que chegou ao Grande ABC, em 2014, Pierre Montalais, 36 anos, trabalha para colocar em prática sonho antigo: manter rádio com programação capaz de miscigenar as culturas haitiana – sua origem – e brasileira. Assim como os outros quase 500 refugiados que escolheram a região como local de recomeço após terremoto de grande escala matar 300 mil pessoas e iniciar crise no Haiti, em 2010, ele revela contar com o acolhimento e solidariedade dos brasileiros.

Montalais chegou ao Brasil em fevereiro de 2014 com a missão de prosseguir na carreira de radialista, exercida há 25 anos. O objetivo, entretanto, era ser responsável pelo próprio estúdio. Foram necessários dois anos de batalha até conseguir o primeiro passo rumo à concretização de seu sonho. Morador do Núcleo dos Ciganos, área carente de Santo André, ele precisou atuar como ajudante de obras mesmo sendo graduado em jornalismo – cursado no Haiti. “Meus irmãos e cunhado já estavam aqui, então não foi tão difícil a adaptação ao novo país. O povo brasileiro é acolhedor e logo encontrei meu primeiro trabalho”, lembra.

A ideia de ter sua própria rádio surgiu em 2013, quando Montalais morava no Equador. Ele até tentou iniciar seu sonho no país, mas foi barrado pela burocracia. Já no Brasil, sozinho, conseguiu montar pequeno estúdio na comunidade onde mora. “Baixei um sistema pelo computador e comecei a mexer, mas só deu certo para transmissão via site. Na época, precisava esperar os vizinhos dormir para produzir os conteúdos, pois o ambiente não era adaptado contra ruídos externos”, comenta.

Montalais encontrou na USIH (União Social dos Imigrantes Haitianos), localizada na Vila dos Estudantes, na Capital, oportunidade de montar estúdio onde funciona a Rádio TV Latina do Caribe, que hoje conta com 18 funcionários voluntários. “Com muita luta, hoje temos o CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica) e, daqui seis meses, teremos nossa própria frequência”, celebra.

A programação 24 horas está disponível no www.radiotvlatinadocaribe.com ou em aplicativo na PlayStore. Os programas abordam temas diversos, entre política, cultura, atualidades e, é claro, músicas. A rádio atinge 30 mil visualizações por mês. Montalais divide a bancada da rádio com o comerciante James Lubin, 32, também haitiano.

Professor de teologia na Universidade Presbiteriana Mackenzie e historiador, Gerson Leite de Moraes, avalia que trabalhar com serviços que remetem à própria cultura traz o resgate de memórias afetivas. “O produto acaba viralizando pois eles (refugiados) trazem essa memória material da cultura para outro lugar.”




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