João Carlos Martins acaba de lançar livro em que mergulha em lembranças afetivas
Há muitas formas de se fazer um retrospecto da vida. Alguns traçam uma linha do tempo, outros remontam os melhores momentos em fotos. Mas o maestro João Carlos Martins, 79 anos, teve uma ideia inédita: elencou suas lembranças afetivas de acordo com as letras do alfabeto. E o seu ‘bê-á-bá’ está impresso no recém-lançado João de A a Z (Sextante, 209 páginas, R$ 39,90).
“Escrevi o livro todo à mão, porque não sei digitar no computador. Fiz rapidamente, com uma letra horrível. Usei o abecedário para mostrar o que cada uma das palavras me ensinou na vida. A letra ‘A’ falo sobre amor, o ‘B’ é de Bach, o ‘C’ é concerto e assim por diante. Gostei muito do resultado”, analisa o maestro. Segundo ele, trata-se de uma abordagem singular na sua história, que já foi tema de programa de rádio norte-americano, documentários alemão e belga, enredo de Carnaval, além de filme, em que foi interpretado por Alexandre Nero, e peça teatral. “Eu sempre falava: ‘Essa vai ser a última vez que recontamos minha história.’ Mas daí veio esta proposta e não pude resistir.”
Embora João Carlos Martins seja dono de uma trajetória de superação – já fez 24 operações para manter o sonho de continuar na música, embora não consiga mais tocar piano – o livro não trata de autoajuda. “Descrevo em cada uma das palavras o que a vida me ensinou e aproveito para dividir emoções, pois só sabe multiplicar aquele que aprende a dividir. E no final de cada verbete, lembro de casos engraçados, o que dá um ritmo à leitura.”
Em uma desas passagens bem-humoradas, Martins lembra de certo dia, antes de um ensaio, quando foi apresentado a um compositor promissor, que pediu para fazer uma improvisação em sua homenagem. “A música não acabava. Já passava de 20 minutos e eu já não aguentava mais, mas fiquei firme. Quando ele finalmente parou, fui sincero e recomendei que ele estudasse outra coisa, medicina, por exemplo, que também fala da expiração. Nesse momento ele confessou que tudo não passava de um trote.” A brincadeira foi idealizada por um fagotista amigo seu, chamado Eliseu.
O maestro acha que agora é a hora de deixar um legado. “O que a vida me ensinou? De uma adversidade, depois de 24 operações, ou você dá um salto para o abismo, ou você faz da adversidade uma plataforma para voar mais alto. As situações foram muito boas para minha vida, mas chegou a hora de tentar deixar um legado. E o que estou deixando é o Projeto Orquestrando o Brasil.” Trata-se de uma plataforma digital que busca unir regentes e líderes de grupos musicais que trabalham por todo o Brasil para troca de experiências e ajuda mútua. Hoje, a iniciativa já conta, segundo ele, com 500 orquestras parceiras, uma delas a Orquestra Versolato, de São Bernardo.
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