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Os devotos do luxo
Carlos Brickmann
13/10/2019 | 07:00
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Irmã Dulce, agora canonizada, passa a chamar-se Santa Dulce dos Pobres. Certíssimo: aquela que foi santa em vida passa a ser cultuada e a dar seu santo exemplo aos católicos. Mas, fora isso, está tudo errado: o presidente Bolsonaro não foi à canonização por questões eleitorais, o que é inaceitável, por misturar religião e política, e a comitiva brasileira que está no Vaticano, com algumas exceções, aproveita a inscrição de Santa Dulce dos Pobres no rol dos santos católicos para fazer uma viagem de rico, paga por todos nós.

Jair Bolsonaro deveria representar o Brasil no louvável evento. Não foi por esquecer que, presidente, é presidente de todos. Sua mulher é evangélica, evangélicos são muitos de seus apoiadores. E daí? A Irmã Dulce une, não divide. Une a maioria católica sem ofender outras religiões e deve ser louvada por todos – o que inclui este colunista, que não é católico nem cristão, mas louva quem faz o bem, seja qual for a religião que professe.

Quanto à enorme comitiva que foi ao Vaticano, com tudo de graça, com hospedagem na magnífica Embaixada brasileira em Roma, com diárias, muitos levando esposas, muitos levando filhos, que vergonha! O vice-presidente Hamilton Mourão cumpriu a missão de nos representar na canonização da primeira santa aqui nascida. Os presidentes de Câmara, Senado, STF (Supremo Tribunal Federal), vá lá. O procurador-geral da República viaja por sua conta, ele e a esposa. Certo: mostra sua fé. Torrar dinheiro público e ostentar um terço no bolso, fé não é.

Muy amigo

Bolsonaro acreditou que, fazendo uma série de concessões a seu ídolo Donald Trump, conquistaria o status de aliado preferencial dos norte-americanos. O Brasil foi duríssimo na ONU ao apoiar a posição dos Estados Unidos com relação à Venezuela, o filho do presidente se fez fotografar com o boné de propaganda de Trump, e Trump, em troca, prometeu apoio à pretensão brasileira de entrar na OCDE, Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Mas, em carta à OCDE, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, só citou Argentina e Romênia entre os candidatos à OCDE. Brasil, nem sonhar.

Trump garantiu a Bolsonaro que sua promessa continua valendo e disse que a carta de seu secretário de Estado era fake news. Só que é uma carta, escrita, assinada pelo governo norte-americano, e a promessa de Trump é verbal. Mas o problema não é só esse: a Europa quer expandir rapidamente a OCDE, para garantir maioria de votos, e os Estados Unidos querem um avanço mais lento. Por isso propuseram só dois candidatos, Argentina e Romênia. o que a Europa não pode aceitar: por vários motivos, precisa colocar também a Bulgária. Se o Brasil for proposto, abre-se espaço para a Bulgária, o que Trump não quer. Logo, vale o que Pompeo escreveu, não o que Trump falou. Simples assim.

E faz falta

Para o Brasil, entrar na OCDE seria excelente: as normas do grupo exigem estatísticas precisas, normas rígidas de combate à corrupção, padrões iguais de legislação. Para os investidores (especialmente fundos), estar na OCDE dá a um país um selo de boas práticas comerciais e segurança jurídica. Quem sabe um dia o presidente Trump, nosso muy amigo, muda de ideia?


Bons indícios...

Há indicações de que Estados Unidos e China estejam chegando a acordos que, ao menos parcialmente, resolvam os problemas entre os dois países. A informação da agência Bloomberg foi reforçada pelo presidente Trump que disse que há “boas coisas” entre Estados Unidos e China e que, tão logo se confirmem, haverá um acordo “rápido e limpo”. Com base nesses indícios, a Bolsa brasileira subiu, e tudo indica que seu índice ultrapassará 104 mil pontos nos próximos dias. A Bolsa de Nova York subiu 1,5%. Boas notícias.

...mas a guerra continua...

O presidente da República continua a exercer brilhantemente o papel de líder da oposição. Há boas notícias? Então, deflagrou uma guerra com seu partido, o PSL. Bolsonaro sabe que o PSL, antes um partido nanico, cresceu com sua adesão (e com a vitória eleitoral dos bolsonaristas) e se tornou um dos maiores partidos do País. Se ele sair, o PSL volta à posição de partido nanico. É verdade – mas, se os bolsonaristas saírem, poderão perder o mandato por infidelidade. E as suculentas verbas destinadas ao partido ficam com ele, enquanto os parlamentares ficarão sem dinheiro para a próxima campanha. A saída dos bolsonaristas, sob este aspecto, seria ótima para o presidente do PSL, Luciano Bivar: quem ficasse teria verbas muito maiores.

...e se amplia

Houve declaração de guerra também entre aliados. Eduardo Bolsonaro e Major Olímpio, senador por São Paulo, praticamente romperam relações. A luta envolve também a deputada federal mais votada, Joice Hasselmann, que se aliou a Major Olímpio. Joice é candidata à prefeitura paulistana, mas quem não a quer é o próprio Bolsonaro, que pretende lançar o apresentador José Luiz Datena. Por que Datena? Porque tem prestígio. Porque não é Joice.




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