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Fila da laqueadura dura até 2,5 anos
Verônica Fraidenraich
Do Diário do Grande ABC
12/12/2005 | 08:27
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A fila para uma cirurgia de laqueadura ou vasectomia gratuita na região pode demorar até dois anos e meio. A espera é maior em Mauá, onde as mulheres chegam a amargar mais de dois anos à espera da operação para evitar a gravidez. Período suficiente para duas gestações.

O motivo de tanta demora é a alta procura que ultrapassa as 32 laqueaduras e vasectomias disponíveis no SUS (Sistema Único de Saúde) todo mês na cidade. Além disso, não só Mauá como todas as outras prefeituras informaram que a prioridade é dada aos partos. Por isso, se não houver leitos suficientes para as duas intervenções cirúrgicas, a laqueadura (especialmente essa cirurgia, já que a vasectomia não exige que o homem fique internado) será deixada para segundo plano. As operações são pagas pelo governo federal. Cabe à Prefeitura disponibilizar médicos e leitos para atender o paciente.

Em geral, as cidades realizam mais laqueaduras do que vasectomias. Diadema é exceção. No município, são feitas, em média, 40 operações mensais nos homens, e apenas 20 nas mulheres. De acordo com o secretário de Saúde de Diadema, Marcos Calvo, a curiosidade da maior procura de homens se deve a um trabalho contínuo de conscientização para convencer a população masculina que a cirurgia não provocará problemas de ereção. A operação do homem é muito mais simples e a recuperação mais rápida.

Com a vasectomia, a administração ainda economiza em leito hospitalar. A fila de espera para as operações dos dois sexos é de oito meses. O secretário de Diadema disse que no início de 2006 será feito um mutirão para diminuir a demanda por laqueaduras. As vasectomias não irão integrar o mutirão.


Lei – A cirurgia é regulamentada pela lei 9.263, de 1996, e garante assistência a todos os brasileiros à concepção e contracepção. Homens e mulheres maiores de 25 anos, com pelo menos dois filhos vivos, podem se inscrever e entrar na fila para conseguir uma cirurgia gratuita. Uma vez inscritos, é preciso que o casal passe por um programa durante 60 dias. Durante esse período, os dois participarão de palestra sobre planejamento familiar e serão informados sobre outros métodos contraceptivos, os riscos que o procedimento implica e a possibilidade de arrependimento, entre outras informações.

“Como a população que usa o SUS é majoritariamente pobre e não tem nem o primeiro grau completo, os casais têm aula de conhecimento do corpo, aparelho reprodutor e como age cada método”, explica Cristina Boaeretto, diretora do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas, do Ministério da Saúde.

Célia Cândida de Oliveira, 40 anos, moradora do Zaíra 4, em Mauá, diz que espera pela cirurgia há dois anos e meio, desde que engravidou do terceiro e mais novo filho, hoje com um ano e oito meses. Tempo contestado pela Prefeitura, que diz que a dona-de-casa está há um ano e sete meses à espera da cirurgia. Célia e o marido deram entrada nos papéis no posto de saúde e, como rege a lei, participaram de palestra sobre planejamento familiar e decidiram que ela iria fazer a laqueadura. Para se prevenir de outra gravidez, Célia diz pagar R$ 3,50 por mês por uma cartela de anticoncepcional, pois diz que tentou por duas vezes retirar os comprimidos no posto de saúde Zaíra 1, sem sucesso.

A espera poderia ser menor se o seu marido entrasse também na fila da vasectomia, que costuma demorar menos tempo. “Meu marido até se ofereceu, mas para mim é melhor do que pra ele”, acredita a dona-de-casa que aguarda ser chamada com todos os exames realizados em mãos.


Preconceito – “Pela própria cultura, o homem não aceita, tem medo de perder a masculinidade”, acredita Cacilda Maria de Oliveira Maia, ginecologista e membro da Comissão de Ética Médica de Planejamento Familiar, de São Bernardo. Essa comissão, formada por médicos, psicólogos e assistente sociais, avalia caso a caso, para autorizar as cirurgias. “Há casos negados, por exemplo, quando a mulher está recentemente com um parceiro que não tem filho ou se estão juntos há pouco tempo”, explica Maria Inês Puccia, assistente de direção do Departamento de Assistência à Saúde de Santo André.

O assessor parlamentar Rubens Bigu Sapucaia, 47 anos, de São Bernardo, não tem esse receio e resolveu se submeter à cirurgia. Há seis meses, procurou um médico que o orientou a participar, junto com a mulher, do grupo de planejamento familiar na Sedesc (Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania), onde são realizadas as palestras com os casais interessados. Com três filhos de 4, 6 e 17 anos, Rubens diz que o procedimento vai permitir que a mulher deixe de tomar anticoncepcionais. “Ela se dá bem (com o remédio), mas acha melhor parar de tomar.”

O mecânico de indústria Inácio Alves Pereira, 45 anos, casado há 14 anos e com três filhos, conta que em março foi no posto de saúde da Vila São José e entrou na fila da vasectomia. “Tá demorando muito, mas tô aguardando.” Inácio diz não se sentir ameaçado quanto aos problemas que os amigos dizem existir. “Meus dois irmãos fizeram e tá tudo certo, não tem nada a ver, até melhora (a relação)”, brinca.

Tudo sobre contracepção definitiva

Laqueadura
Método definitivo de contracepção que consiste na obstrução das trompas para impedir que o óvulo chegue ao útero. É pelas trompas que o óvulo se desloca, ao deixar o ovário, em direção ao útero. A cirurgia amarra ou secciona as trompas e impede que o espermatozóide tenha acesso ao óvulo para fecundá-lo.MétodosLaparoscopia

Menos agressivo e mais indicado porque faz apenas dois cortes, no umbigo e no abdomen, por onde são introduzidos os cateteres para cortar e cauterizar as pontas das trompas, que não são ligadas.

Corte no abdome
Feitos após o parto de cesária (permitido para quem já fez no mínimo duas cesariana) – ou dois meses após o parto-normal. Consiste na compressão, secção e ligadura das trompas. Os procedimentos podem durar entre 20 minutos e uma hora. Geralmente, a mulher fica internada 24 horas no hospital. Quem faz a videolaparoscopia, deve repousar 15 dias. As operações pós parto exigem repouso de 40 dias.

Vasectomia
É feito um pequeno corte na bolsa escrotal, para cortar os canais deferentes por onde passam os espermatozóides. É importante lembrar que o homem continua ejaculando, produzindo hormônio masculino, líquido seminal e secreção prostática, só que sem presença de espermatozóide.  O homem é liberado logo após a cirurgia, que dura 30 minutos, mas precisa ficar de repouso. Se faz muito esforço físico, serviço braçal ou fica muito tempo sentado, deve descansar por sete dias, para evitar riscos de infecção, hematomas e edemas. Trabalhos mais leves exigem do homem repouso de até três dias.

Reversão
Há várias formas de religação das trompas como a própria videolaparoscopia. Por meio de microcirurgia, parte da tuba uterina que foi laqueada é retirada e as duas partes restantes são religadas com agulhas e fios extremamente delicados. 

A reversão é bem-sucedida em 10% a 15% dos casos, tanto para a laqueadura quanto para a vasectomia.

Casos de reversão espontânea são difíceis, mas podem ocorrer, variando de acordo ao procedimento adotado na cirurgia.

Tanto na laqueadura como na vasectomia, uma pessoa em cada mil tem reversão espontânea.

C
uidados
No intervalo de tempo entre a marcação da cirurgia e a operação, não é raro a mulher relaxar e deixar de usar algum método contraceptivos. Até a realização da cirurgia, é imprescindível evitar a gravidez por algum método.

Os homens também devem ser cautelosos porque depois de feita a vasectomia ele ainda precisa zerar o espermograma e isso só acontece, em média, depois de 25 ejaculações. Isso, porque ainda restam espermatozóides no canal deferente. Para ter certeza de que não há mais espermatozóides no canal, recomenda-se fazer um espermograma três meses após o procedimento cirúrgico.




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