"Acredito que Deus me deu a permissão para desmaiar enquanto ele me agredia". A frase é da metalúrgica M.J., 45 anos. Ela é uma das quatro mulheres que reconheceram Roberto Nunes Pressoto, 25, como o homem que as agrediu. O acusado está preso desde a última quarta-feira e nega os crimes. M. foi atacada na madrugada do último dia 6 na rua Nestor de Barros, no Jardim Ana Maria, em Santo André. Ela apanhou, teve o rosto desfigurado por mordidas e, segundo admitiu à polícia, foi estuprada. M. concedeu entrevista ao Diário no Centro Hospitalar de Santo André, onde permanece internada.
O caso de M. foi o único com essas características registrado na Delegacia da Mulher da cidade. Mas o episódio de agressão repercutiu e deixou as mulheres dos bairros da divisa de Santo André, Mauá e São Paulo em pânico. Outros episódios de agressão semelhante começaram então a chegar ao conhecimento da polícia, que centralizou as investigações nessa região. Pressoto foi preso no Parque Novo Oratório, em Santo André, quando, segundo a Polícia Militar, acabara de tentar outra abordagem.
Mãe de três garotas de 16, 19 e 26 anos, M. afirma que não tem dúvidas de que o acusado preso é o homem que a agrediu. Com grande apego à Igreja Batista, a vítima afirma: "Deus não permitiria que eu me enganasse". Além da crença, a fisionomia do suspeito é o que não deixa dúvidas à metalúrgica. "Quando ele me abraçou enquanto eu caminhava, olhei bem para o rosto dele". Outro momento que garantiu à M. marcar os traços do agressor foi quando ele a deitou no chão e sentou em cima de sua barriga. "Ele me agredia e eu cravava o olhar em seu rosto."
Ainda com a face desfigurada pelas cicatrizes, a vítima se diz aliviada com a prisão de Pressoto. "Não queria ter me tornado conhecida por causa de um caso desses, mas agradeço a Deus por ter sido depois de ele ter me atacado que ele foi preso. Agora não haverá novas vítimas". M. ainda tem várias escoriações no braço esquerdo e um curativo esconde a mordida do braço direito.
Médicos que atenderam M. revelaram à polícia que a marca no braço da paciente indicava que o agressor tinha falha na arcada dentária superior. O rapaz detido na Cadeia Pública de Santo André tem falha exatamente igual à descrita pela equipe do hospital.
No resto do corpo, M. diz não ter sofrido agressão. Ao Diário, ela não confirmou o estupro. Mas quando reconheceu o suspeito na delegacia, M. confirmou a violência sexual, segundo os investigadores. A polícia aguarda também resultado de exame de DNA do pêlo pubiano retirado de Pressoto, que poderá confirmar a autoria. O laudo será comparado ao sangue encontrado na camisa masculina abandonada ao lado de M. e ao esperma encontrado nela.
M. conta que o agressor não roubou seu dinheiro, mas levou sua calcinha. A peça descrita pela vítima (branca com bordados azuis na lateral direita) não estava entre as seis roupas íntimas encontradas no posto de gasolina abandonado na avenida Sapopemba, onde o suspeito Pressoto morava.
A mulher supõe que o agressor pensou que ela estivesse morta quando a deixou num terreno baldio. M. ficou desmaiada por mais de cinco horas. "Eram 4h30 quando ele me pegou". A vítima só foi socorrida depois das 11h. Seu corpo foi encontrado por operários que trabalhavam em uma obra na mesma rua.
Fé - M. afirma que desde o dia em que foi atacada, emprega o tempo em orações. "Pedi tanto, que ele foi encontrado". Quando chegou de ambulância para fazer o reconhecimento no 5º Distrito Policial, na última quarta-feira, a vítima chorou muito. "Tudo o que ele me fez voltou à minha mente. Agora, o que mais quero é retomar minha vida normalmente ao lado das minhas filhas e planejar um casamento. Quero muito me casar de novo". A metalúrgica é separada. "Gosto muito de alguém. Estamos saindo e desde que sofri a agressão ele vem me dado muito apoio".
M. descreve-se "muito vaidosa" e afirma que é difícil olhar-se no espelho e ver as seqüelas da agressão. "Quero ver meu rosto bonito e poder me cuidar." Por outro lado, a metalúrgica sente-se aliviada por não ter sofrido conseqüências mais graves. "Também agradeço muito por não ter perdido a memória. Desde que ele me agrediu, fiquei sem enxergar, sem respirar direito, mas em momento algum me esqueci dos detalhes".
A vítima relata que caminhava pela rua Nestor de Barros. Ela seguia para o ponto do trólebus, onde pegaria a condução rumo ao trabalho, em Diadema. Carregava a bolsa pessoal com R$ 200 para pagar a conta do supermercado, o celular e a carteira com trocados, documentos e cartões de crédito. Na outra mão, M. levava a sacola com iogurtes que comercializa para incrementar a renda.
"Ele me abraçou no ombro. Quem passava pensava se tratar de um casal. Disse para eu andar ao lado dele e me levou para o terreno". Já no local ermo, M. teria oferecido o dinheiro que tinha na bolsa para que ele a deixasse ir embora. "Ele dizia que não queria dinheiro. Disse que só queria a mim". Foi nesse momento que ele tentou tirar sua calça comprida. "Eu evitei ao máximo. Só pensava nas minhas filhas e pedia a Deus que não me deixasse morrer".
M. perdeu as forças quando foi derrubada no chão e o agressor sentou sobre ela para espancar seu rosto. "Não vi se estava armado, mas era bem vestido". Segundo ela, o agressor usava calça jeans e uma camisa social branca abotoada até o colarinho. O mesmo estilo de roupas que Pressoto usava no dia da prisão e que, segundo a família do acusado. "Agora quero ficar bem e pôr uma pedra sobre esse dia", afirma M.
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