Ainda que com mais de quatro meses de demora, o mais belo gol da carreira de Matheus Cunha poderá colocá-lo de vez no radar do torcedor brasileiro. Com 20 anos, o atacante do RB Leipzig foi indicado nesta semana para o Prêmio Puskás, que a Fifa vai conceder ao gol que for considerado o mais bonito da temporada, e pode estar prestes a sair do anonimato resultante da trajetória profissional construída fora do País.
A lembrança da entidade máxima do futebol a Matheus Cunha é mais um fato positivo que pode contribuir para o atacante se tornar conhecido no Brasil, de onde saiu em 2017. Afinal, na última sexta-feira foi convocado pelo técnico André Jardine para defender a seleção brasileira olímpica em amistosos contra Chile e Colômbia, nos dias 5 e 9 de setembro, no estádio do Pacaembu.
"Cada convocação é uma felicidade enorme. Meu projeto a curto prazo é defender a seleção em Tóquio-2020. Tenho a consciência de que o meu trabalho no dia a dia e no Leipzig é o que vai me levar a seleção", disse o jogador ao Estado.
Os compromissos preparatórios ao torneio pré-olímpico, agendado para janeiro em solo colombiano, serão os primeiros jogos da carreira de Matheus Cunha dentro do País como profissional. É um cenário cada vez mais comum aos jogadores brasileiros, tanto que 14 dos 23 atletas chamados por Jardine para os amistosos já estão fora do Brasil. Assim, as histórias que ele tem para contar são do período em que está no exterior.
Paraibano, Matheus Cunha começou a jogar futsal em João Pessoa, mas logo se mudou para Recife, onde defendeu o CT Barão, clube pelo qual despontaram outras promessas do futebol brasileiro, como o volante Otávio, ex-Internacional e hoje no Porto. E ainda precisou encarar a reprovação em um teste no Santos antes de ser levado por um olheiro ao Coritiba em 2013, onde, após avaliação, chegou para atuar pelo time sub-15.
Lá, então, cresceu até se destacar na Dallas Cup de 2017, tradicional torneio de base do qual o Coritiba foi semifinalista há dois anos. Acabou sendo adquirido pelo Sion, da Suíça, onde bastaram uma temporada e dez gols marcados para chamar a atenção do RB Leipzig, clube alemão que tem crescido na sua liga pela aposta em jovens.
Na temporada passada, a sua primeira no novo time, fez nove gols, o mais importante em 6 de abril, quando deixou o banco para, aos 38 minutos do segundo tempo definir a vitória do RB Leipzig por 4 a 2 sobre o Bayer Leverkusen.
"Lembro do lance e da jogada perfeitamente. Bola longa, o Wendell veio rápido na minha direção e o que puder fazer foi o giro. Logo após o giro a bola ficou a feição para a conclusão. O goleiro saiu para tirar meu ângulo e dei a cavadinha. Sensação indescritível até pelo fato de eu ter entrado no decorrer da partida", descreveu Matheus Cunha.
O gol ganhou novo significado agora, ao colocá-lo como candidato ao Puskás, concorrendo com nomes do futebol mundial como Messi e Ibrahimovic. "Foi uma surpresa muito grande. Lembro que quando fiz o gol dei algumas entrevistas fazendo campanha para o meu gol entrar. Mas, sinceramente, não esperava. Um amigo meu jornalista me deu a notícia e eu não acreditei em um primeiro momento. Trinta segundos depois meu telefone não parou mais. O que posso dizer é que eu já votei no meu gol. Espero que o povo brasileiro também vote", comentou o jogador.
Conquistar espaço entre grandes nomes do esporte, aliás, é uma meta para ele na recém-iniciada temporada 2019/2020 do futebol europeu, em que Matheus Cunha terá a sua primeira chance de participar da Liga dos Campeões pelo RB Leipzig, onde agora também tem a companhia de outro brasileiro, o lateral-esquerdo Luan Cândido, ex-Palmeiras.
"A estrutura é fantástica e a cada temporada melhora. Temos objetivos bem traçados e o clube todo se move em prol daquilo que foi planejado no começo da temporada. Uma instituição muito voltada a dar oportunidades a jogadores jovens", diz. "Poder jogar a Champions sem dúvida alguma mexe com o meu imaginário. Disputei duas vezes a Liga Europa e já deu para ter um gostinho daquilo que pode vir a ser a Champions. Será mais um sonho realizado", acrescenta.
Além de vencer a concorrência de Timo Werner pela titularidade no RB Leipzig, ele espera estar em Tóquio, na Olimpíada. E, mais do que o golaço pelo seu clube, tem os quatro marcados no Torneio Maurice Revello (antigo Torneio de Toulon), vencido pela seleção brasileira em junho, como melhor cartaz para buscar o ouro.
BRASILEIROS JÁ LEVARAM O PRÊMIO - Criado em 2009 pela Fifa para reconhecer o mais belo gol do ano, o Prêmio Puskás nunca teve um vencedor repetido e apenas um país contou com representantes agraciados mais de uma vez: o Brasil, com Neymar em 2011 e Wendell Lira em 2015.
Enquanto o golaço em derrota do Santos por 5 a 4 para o Flamengo premiou a carreira já em ascensão de Neymar, o anotado por Wendell pelo Goianésia, diante do Atlético-GO, não o ajudou a decolar, a ponto de ele ter ficado desempregado. Aposentado, hoje se dedica aos videogames. Além dos premiados, o Brasil já teve Grafite, Nilmar, Marlone e Camilo Sanvezzo (jogava no México) indicados ao Puskás. Neymar é o recordista do País em indicações: cinco vezes.
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