Dois jovens jogadores chamaram a atenção na atual janela de transferências na Europa. O atacante João Félix, 19 anos, foi comprado pelo Atlético de Madrid por 126 milhões de euros (cerca de R$ 519 milhões), enquanto o zagueiro De Ligt, 19 anos, custou 85,5 milhões de euros (aproximadamente R$ 369 milhões) à Juventus. As altas cifras envolvendo jovens que trocam de clubes dentro do Velho Continente é uma tendência.
Hoje, no Top 5 das contratações mais caras da história, três estavam com menos de 21 anos quando foram negociados. Mas, se antes o mercado para essas cifras milionárias era restrito de um clube europeu para outro, agora as equipes se sentem mais confortáveis para investir pesado em jovens de outros países, principalmente no Brasil, como aconteceu com Vinicius Junior e Rodrygo, comprados por 45 milhões de euros (algo em torno de R$ 201 milhões) antes mesmo de completarem 18 anos.
"Os clubes hoje têm pagado grandes valores nos jovens, pois sabem que este investimento pode garantir no futuro um retorno maior, uma possibilidade de maior sucesso. Quanto mais jovem chegam no exterior, existe um tempo maior para se adaptar aos hábitos, entender o clube, a cultura, as maneiras de jogar, de trabalhar, e isso faz com que eles sejam lapidados profissionalmente, com tranquilidade para dar resultado em um futuro próximo", explica o empresário Nick Arcuri, da agência Un1que Football.
O Brasil sempre foi uma reserva de talentos brutos para o mercado internacional quando se fala de futebol. No entanto, as equipes do exterior tinham receio de investir altas cifras. O principal motivo era a dificuldade dos brasileiros se adaptarem. Língua, temperatura, sistema de trabalho e a exigência tática sempre faziam os atletas acabarem pedindo para voltar.
Mas essa realidade vem mudando nos últimos anos. Parte desse motivo é a profissionalização dos estafes dos jogadores. Cada vez mais pessoas e empresas estão preparadas para cuidar de questões financeiras, jurídicas, de imagem e até auxiliando com acompanhamento psicológico.
"Com a profissionalização do estafe, os jogadores são munidos de informações para cada clube e cada país aos quais são transferidos. Antes, sem essas informações, isso demorava muito mais tempo e criava dificuldades", aponta Arcuri.
Claro que vários brasileiros brilharam no exterior, mas eles geralmente já eram mais experientes e consolidados. É o caso de Zico, que deixou o Flamengo para defender a Udinese com 30 anos ou Falcão, que foi para a Roma, aos 27 anos, para se tornar o Rei na capital italiana.
UMA NOVA GERAÇÃO - No dia 18 de junho, o brasileiro Rodrygo foi apresentado no Real Madrid e fez toda a coletiva de imprensa em espanhol. Este fato foi muito elogiado pela imprensa local e mostrou essa mudança de postura dos jogadores formados no Brasil. No caso do jovem revelado pelo Santos, outro fator que contribuiu foi o pai Eric Goes.
Lateral-direito com passagem por várias equipes do interior de São Paulo, ele conhecia e pôde mostrar de perto para o filho as vantagens e as dificuldades da vida de um jogador desde muito cedo.
"Ele, desde os seis anos, me acompanha. No vestiário, vendo palestras, vídeos, participando de treinos... Ele viu muito cedo o que é a vida de um atleta, com uma proporção, claro, menor do que é a situação dele hoje. Ele se preparou muito cedo e, quando surgiu no Santos, aos 16 anos, aquilo não era novidade", conta o ex-jogador, que abandonou o esporte aos 34 anos para cuidar da carreira do filho.
No Real, a ideia de comprar jovens talentos e desenvolvê-los ganhou força com o sucesso de Vinicius Junior. O jovem revelado pelo Flamengo também só foi para a Europa depois de completar a maioridade. A ideia era usá-lo no time B e acompanhar de perto seu desenvolvimento nos treinos. Mas o talento falou mais alto e, pouco mais de seis meses depois, Vinicius Junior já estava sendo presença constante no time titular.
"Hoje, desde a base, já existe uma preparação muito grande e essa geração do Rodrygo tem todo esse preparo, que envolve os clubes, familiares e estafe, para que eles cheguem ao profissional bem preparados e cientes do que ajuda e do que atrapalha no desenvolvimento da carreira", finaliza Goes.
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