A riquíssima mitologia grega abrigava deuses, semideuses, titãs – estes se tornaram tão poderosos que ensaiaram uma rebelião contra os deuses. Os atuais estudos arqueológicos revelaram uma nova categoria de mitos: os Tantãs. Os Tantãs eram mais poderosos que os Titãs. Sua afiada língua, comprida e venenosa, infundia temor. Mas tinham uma compulsão que os enfraquecia: quando tudo dava certo, queriam imediatamente melar o jogo.
O reino dos Tantãs, assolado há muitos anos por sedentos inimigos que se achavam os únicos deuses, foi retomado; tudo parecia conspirar para que, fosse bom ou mau o governo Tantã, a recuperação fosse rápida. Velhos parasitas perceberam que ou reduziam sua gula ou logo não haveria nada mais para sugar. O Grande Conselho do Ócio despertou, imagine!, com vontade de trabalhar. Os deuses supremos mostraram-se gentis. E foi então que a língua comprida dos Tantãs machucou os Grandes Conselheiros e os deuses supremos.
O Alto Comando Tantã aproveitou para fazer desfeita ao chanceler de um país amigo com o qual o reino dos Tantãs fazia bons negócios. E, numa daquelas conversas sem compromisso, jogaram também contra eles a numerosa e influente classe dos Homens da Lei.
Justiça seja feita: não havia na Grécia pontaria melhor que a dos Tantãs. E as usaram com precisão tamanha que nunca erraram um tiro no próprio pé. Como o herói Aquiles, seu ponto frágil foi o calcanhar.
O fim da história
Deuses, semideuses, heróis, titãs, todos acabaram dando nome a lugares e eventos, perdendo importância, transformando-se em mitos. E os Tantãs, que se colocaram como mitos antes de iniciar sua trajetória? Os arqueólogos não chegaram ainda ao fim da história: os manuscritos estão sendo organizados. É difícil: imagine um texto do filósofo Olavóstenes, em grego antigo, lido pela intelectual adversária Dilmápsia. Um dia se saberá.
Briga boba – 1
O presidente Bolsonaro não gosta do presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz; e, ao que tudo indica, Santa Cruz também não gosta dele. Jogo jogado. Mas Bolsonaro, numa conversa de barbeiro, desandou a falar sobre o pai de Santa Cruz, preso e morto por agentes da ditadura militar, em 1974. À época, Bolsonaro tinha menos de 20 anos de idade. Não tinha nada com isso, não sabia, não tinha como saber – mas disse que a morte não foi causada por agentes da ditadura. Bobagem: Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira foi preso e recolhido pelo Cisa, Centro de Informações da Aeronáutica, e disso há registro oficial. Mas não há registro da liberação. Veja em http://www.chumbogordo.com.br/26958-a-morte-e-a-morte-de-fernando-por-jose-paulo-cavalcanti-filho/ a história como ela foi, contada por quem investigou o tema e é um dos mais conceituados advogados brasileiros.
Briga boba – 2
Mas, tanto quanto os documentos, vale o desabafo do delegado aposentado Cláudio Guerra, que dirigia o Dops na época. “Como não foi assassinado? Eu é que joguei ele no forno!” O forno a que se refere Guerra é o da usina Cambahyba, em Campos, no Rio de Janeiro, muito usado para isso na época.
O Ministério Público Federal denunciou o delegado Guerra por ocultação de cadáver. É difícil que o caso vá em frente: está prescrito e há a anistia.
Briga boba – 3
Bolsonaro disse que, se o presidente da OAB quiser saber, ele lhe conta como seu pai foi morto. Em outro momento, disse que Santa Cruz foi morto por militantes esquerdistas em desavenças internas. O problema é que, por lei, se sabe algo a respeito de um crime, tem obrigação de comunicar. Não vai acontecer nada, mas é mais uma chateação por falar sem pensar.
Fora de hora
Bolsonaro criou essa nova discussão (além de ter desmarcado encontro com o chanceler francês, porque ele já tinha conversado com ambientalistas) num momento em que deveria apenas estar festejando: a taxa de juros Selic é baixa, vai baixar mais, o texto da reforma tributária deve ir ao Congresso em outubro, a Petrobras teve lucro recorde no trimestre e, eventualmente, a alta das tarifas de importação imposta pelos Estados Unidos à China (que deverá gerar retaliação) pode beneficiar as exportações brasileiras para ambos os países. Mais: de acordo com pesquisa do Congresso Data Room, 41% dos cidadãos acham que o Brasil caminha na direção correta, 36% acham ótimo ou bom o governo Bolsonaro (contra 31% de ruim e péssimo), e aproximadamente um terço do eleitorado o aprova (32%), 34% o desaprova e 34% não opinam. A cereja: apesar dos hackers, o prestígio de Sergio Moro está inabalado.
Boa, mas nem tanto
O lucro da Petrobras foi excelente considerando-se a receita da venda da TAG, de transporte de gás. Sem a TAG, foi 33% menor que o esperando. Foi de pouco mais da metade do lucro obtido no mesmo trimestre de 2018.
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