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Apesar do corte de patrocínios, Anima Mundi começa hoje em São Paulo com diversas atrações

Coala Filmes, de Santo André, marca presença no Anima Fórum e com o curta 'Gildo: Boas Maneiras'

Lorena S. Ávila/Especial para o Diário
24/07/2019 | 07:40
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Divulgação


Com roteiros mais ousados e críticos, as animações falam com público de todas as idades, o que tem rendido bilhões de dólares a grandes estúdios. Tanto que investem cada vez mais em softwares e programas de última geração responsáveis por dar mais realismo aos desenhos. Nesse contexto, o Brasil tem sido destaque internacionalmente; basta relembrar a indicação do filme O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, no Oscar 2016, as homenagens ao País no festival Francês Annecy em 2018 e o sucesso internacional de Carlos Saldanha, diretor dos filmes Rio e A Era do Gelo.

Mas apesar do potencial nacional e crescimento do setor, que chegou a movimentar R$ 4 bilhões de reais em 2016, de acordo com dados do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento), o País parece ir na contramão dessa tendência, negligenciando não apenas o impacto sociocultural das animações, mas, principalmente, o impacto econômico; o que é perceptível com os cortes de gastos e patrocínios recentes que afetaram projetos de relevância e acenderam o debate no setor.

Não fosse os esforços da comunidade artística para transformar a realidade do mercado cinematográfico brasileiro, a 27ª edição do Anima Mundi, um dos eventos mais importantes do planeta, qualificado pela Academia de Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, poderia não acontecer.

Passado o sufoco inicial, após uma campanha bem-sucedida de financiamento coletivo na internet, que levantou cerca de R$ 440 mil reais (valor que ainda não é suficiente para que o festival aconteça de forma ampla), o Anima Mundi começa hoje – até dia 28 – em São Paulo, com ingressos de R$ 10 a R$ 18. Depois da ‘tempestade’ ficaram as questões: até que ponto o País chegará com a desvalorização do audiovisual? Qual será o futuro do evento?

Fernanda Cintra, diretora executiva do festival, é otimista, mas reconhece os problemas. “A cultura foi extremamente impactada na transição de governo, principalmente por carecer de uma política pública consistente. É preciso não só entender o potencial econômico do setor como investir para que ele cresça constantemente. A falta de planejamento faz com que projetos fundamentais não consigam se desenvolver”, explica. “Pela primeira vez não conseguimos apoio da Lei Rouanet”, lamenta.

O Anima Mundi é um dos grandes responsáveis por dar visibilidade a cineastas e animadores de todos os países, principalmente de diversas regiões do Brasil, incluindo o Grande ABC, sejam eles veteranos ou estreantes. Não só isso, promove workshops, oficinas e outras atividades que incentivam crianças e jovens a desbravarem a arte, além de proporcionar debates para auxiliar profissionais e focar no desenvolvimento dessa indústria.

Cesar Cabral, 47 anos, de Santo André, é diretor e produtor na Coala Filmes e marca presença no Anima Mundi, neste ano participando do Anima Fórum e com o curta Gildo: Boas Maneiras, dirigido por Thomas Larson. “O audiovisual gera riquezas e cria milhares de empregos em toda sua cadeia produtiva. Estive em (Festival de) Cannes este ano e ficou nítido o respeito que o setor criou internacionalmente para o Brasil, tão carente de bons resultados ultimamente”, conta Cabral, que ainda acredita que é possível superar os obstáculos e elevar o nível dos projetos nacionais.

Os profissionais expõem a importância de garantir a sobrevivência do setor e sua expansão, como observa o cineasta Céu D’Ellia, 56 anos, que também já foi professor de jovens de comunidades periféricas de Ribeirão Pires e vê muitos talentos no Grande ABC.

“Há um entendimento equivocado quando associam a cultura com lavagem cerebral ou a um espectro político. A arte é o primeiro passo que se dá para se desenvolver um outro tipo de consciência. Para além dos problemas de verbas, o que se vê é uma falta de apreciação da cultura no País. Estamos colhendo o resultado de não ter de fato uma valorização da crítica e do pensamento livre”, reflete D’Ellia.

Responsável pelo curta Adeus – que será exibido novamente no Itaú Cultural como parte da mostra –, D’Ellia compreende que a corrupção e a crise econômica sejam fatores contribuintes para o cenário negativo, mas não nega que o estado tem papel fundamental em reconhecer e garantir suporte ao segmento. “É preciso acordar para essa necessidade”, finaliza.

Nesta edição, 186 filmes participam das mostras competitivas. Eles trazem técnicas que compõem o universo da animação e discutem desde questões existenciais – amor e a morte; sociais – violência, o racismo, o abuso infantil – e contemporâneas, como a conectividade e questões de gênero. Já nas mostras não-competitivas 116 filmes serão apresentados, um deles é o curta Linha, feito pelos alunos do CAV (Centro de Audiovisual de São Bernardo. A programação completa está em www.animamundi2019.com.br. <EM>

Anima Mundi – Festival de animação. De hoje a 28 de julho no Itaú Cultural (Av. Paulista, 149, Bela Vista), Petra Belas Artes (Rua da Consolação, 2.423, Consolação), IMS Paulista (Av. Paulista, 2.424, Consolação) e Auditório Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, Vila Mariana). Gratuito.  




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