Economia Titulo Análise
Saldo: 28,4 milhões de subutilizados
Anderson Thiago dos Santos*
20/07/2019 | 07:28
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Os últimos resultados referentes à taxa de desocupação no mercado de trabalho interno continuam alarmantes e lançam dúvidas sobre a capacidade de recuperação da economia brasileira no curto prazo. Com taxa de desemprego de 12,3%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o País apresenta, em números absolutos, 13 milhões de desempregados. Quando analisado individualmente, o nível de desemprego é um dos principais indicadores para avaliar a saúde econômica de um país e, nessa variável, o Brasil apresenta quadro crítico e de demorada resolução.

Na última semana de março, repercutiu amplamente imagem na imprensa e nas mídias sociais com milhares de pessoas no Vale do Anhangabaú formando fila a se perder de vista. Todos ali almejavam a mesma coisa: uma oportunidade de emprego! Não importava função, horário ou salário, contanto que lhes fossem garantidas condições mínimas de dignidade.

A cena em si já seria lamentável em qualquer contexto, mas saber que se passa na principal metrópole brasileira se torna ainda mais lastimável. Enfrentamos uma das piores crises do mercado de trabalho, fruto de um cenário político e um ambiente econômico instável, que levaram o País a uma crise fiscal sem precedentes. Investimentos minguaram e os níveis de produção e demanda despencaram. O desemprego aumentou e o Brasil caiu numa armadilha de baixo crescimento.

Um dos principais objetivos da política econômica é o combate ao desemprego e, nesse quesito, apresentamos números impactantes! Se somarmos aos 13 milhões de desempregados outras classes de trabalhadores, como os desalentados e os subocupados (aqueles que trabalham menos horas do que gostariam ou desempenham funções temporárias), chegamos ao impressionante número de 28,5 milhões de pessoas subutilizadas, o maior contingente desde 2012.

Os desalentados, aqueles que já desistiram de procurar emprego, somam quase 5 milhões de pessoas sem nenhuma perspectiva, simplesmente marginalizadas socioeconomicamente. Os que ainda conseguem se manter no mercado de trabalho acabam tendo que sobreviver com rendimento mensal deplorável. No Brasil, pasmem, 50% dos trabalhadores sobrevivem com menos de um salário mínimo! Moralmente desprezível, economicamente compreensível!

Possuímos uma massa de trabalhadores desqualificados, com baixo nível educacional, que são os mais afetados com o atual nível da atividade econômica, tendo em vista que funções que não exigem alto grau de escolaridade são as mais prejudicadas durante os períodos de recessão ou baixo crescimento.

As expectativas de curto prazo se mostram desanimadoras, por isso as altas taxas de desemprego tendem a perdurar por longo tempo. O governo aposta todas as fichas na reforma previdenciária, o que resolverá momentaneamente nosso problema fiscal, porém, a criação de postos de trabalho qualificados passa por inúmeras outras iniciativas como melhorias nos níveis educacionais e políticas públicas estratégicas que visem ao desenvolvimento social de longo prazo.

Toda nação só atinge status de desenvolvida por meio de dois caminhos: uma política vibrante ou uma economia pujante! A primeira se faz com instituições e governos virtuosos, a segunda, com indivíduos economicamente ativos e proativos. Nas terras do pau-brasil, a história tem mostrado que a política não trará as benesses esperadas, cabendo aos agentes econômicos alheios à burocracia estatal produzir estes efeitos. Entretanto, para nossa infelicidade, estamos à mercê do “jogo político”, pois no curto prazo essa é a única via capaz de desatar os nós econômicos, resgatar os investimentos e tirar milhões da condição de desempregados.

* Economista, professor e pesquisador do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo
 




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