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CD reúne baladas para curtir um romance
Por João Marcos Coelho
Especial para o Diário
21/07/2001 | 16:19
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Acaba de chegar às lojas, em edição nacional da Universal, um CD que é verdadeira aula de emoção, sensibilidade e música da mais alta qualidade. Coltrane for Lovers (Verve/Universal, R$ 20 em média) é uma coletânea, pois recolhe faixas de cinco CDs diferentes do sax-tenor John Coltrane (1926-1967) gravados nos anos 60, tendo como denominador comum as músicas lentas, as chamadas baladas. O CD, no entanto, é mais do que uma coletânea, pois Richard Seidel, o responsável pela garimpagem, fez seu trabalho com enorme competência.

Talvez seja mais difícil para um músico, e também para cantores(as), enfrentar canções lentas do que as rápidas. E o motivo pode ser simples. Nas rápidas, se o sujeito fez bem a lição de casa, treinou técnica pra valer, a virtuosidade e o adestramento tendem a impressionar mais do que aquilo que realmente importa. Ou seja, a sensibilidade, a capacidade de invenção instantânea que qualifica o verdadeiro criador e o grande intérprete. Isso é muito difícil de se conseguir, pois nas baladas o artista fica nu e não pode recorrer a artifícios para esconder sua eventual ausência de boas idéias musicais.

Baladeiro por excelência desde os tempos, nos anos 50, do grupo célebre do trompetista Miles Davis, Coltrane afirmou-se na década seguinte como um raro especialista na matéria. Foram selecionadas faixas de cinco CDs notáveis gravados entre 1962 e 1963, que poderiam tranqüilamente ser ouvidos na íntegra com imenso prazer: John Coltrane and Johnny Hartman, Impressions, Duke Ellington and John Coltrane, Coltrane e Ballads.

Em todos os discos, Coltrane já conta com os músicos que tornaram seu quarteto o mais influente grupo de jazz dos anos 60, ao lado do quinteto de Miles Davis: o pianista McCoy Tyner, o contrabaixista Jimmy Garrison e os notáveis bateristas Elvin Jones e Roy Haynes revezando-se. Um dos destaques, naturalmente, é In a Sentimental Mood, na qual o próprio compositor da música, Duke Ellington, toca piano (Duke toca também em My Little Brown Book de seu alter-ego Billy Strayhorn).

Chega a ser curioso que num disco de grandes instrumentistas as três melhores faixas pertençam ao precioso CD que Coltrane gravou com o cantor negro de poderosa e aveludada voz de barítono Johnny Hartman (1923-1983). São três obras-primas românticas da época de ouro da canção norte-americana. My One and Only Love, Dedicated To You, de Sammy Cahn, e a impressionante versão de They Say It’s Wonderful.

Ao ouvir Hartman e o tenor de Coltrane integrando-se maravilhosamente, entendemos as razões que levaram Clint Eastwood a escolher a voz de Hartman para embalar o romântico filme As Pontes de Madison, desprezando opções óbvias como Sinatra, Tony Bennett ou Dick Haymes. Eastwood acertou. É o melhor disco da carreira obscura de Hartman, cantor injustamente marginalizado pela mídia e gravadoras.




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