O médico autor das denúncias é Daniel Tabak, diretor do Centro de Transplante de Medula Óssea (Cemo) há 16 anos, que pediu afastamento da função em caráter “irrevogável e irreversível”. O motivo alegado pelo médico é a “pressão política” que vem sofrendo para incluir doentes entre os que aguardam os testes para a busca de doadores. Além disso, alegou descaso e ingerência administrativa do Ministério.
De acordo com reportagem do jornal O Globo, Tabak se recusou a citar nomes de parlamentares que teriam pressionado para a inclusão de conhecidos na lista de espera por doadores. Outros diretores do Inca, porém, teriam mencionado um pedido da vice-Presidência da República.
No documento que entregou à direção-geral do Inca e será usado como base das investigações do Ministério da Saúde, Tabak lista quais pacientes foram incluídos por interferência de terceiros. Em entrevista à rádio CBN nesta terça, ele disse que a “gota d’água” que resultou no pedido de demissão foi a ligação da família de uma pessoa doente:. “Recebi um telefone e a pessoa perguntou se o que faltava para ela conseguir o tratamento era o contato de um político. Isso é inaceitável”, declarou.
À CBN, Tabak também reclamou da falta de atualização dos valores das restituições pagas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) à Fundação Ary Frausino. O órgão é responsável em efetuar o pagamento de células de doadores localizados fora do país (em um banco internacional) e que servem para transplantes em brasileiros. “Desde 2000 esses valores não são atualizados. Em 2000, as células vinham para o Brasil por um custo de R$ 26 mil. Hoje, o ressarcimento continua o mesmo, mas os custos chegam a US$ 35 mil (R$ 90 mil)”, detalhou o médico. “Só em 2003, a Fundação Ary Frausino fechou com um balanço negativo de R$ 800 mil”, continuou.
Ainda de acordo com Tabak, em dezembro do ano passado o Cemo tinha em sua lista 2.232 pacientes. Entre 2000 e 2003, a instituição realizou 98 transplantes de medula, sendo que 40 pacientes transplantados permanecem vivos.
Crise - A denúncia de Tabak desencadeia a segunda crise enfrentada pelo Inca no governo Lula. Em agosto de 2003, cinco diretores pediram demissão após acusarem a coordenadora de Administração, Zélia Abdulmacih, de incompetência administrativa. O estoque de medicamentos da instituição ficou quase esgotado.
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