O comandante do CPA/M-6 (Comando de Policiamento de Área Metropolitano 6), coronel Rodrigo Nery Machado, está no cargo há pouco mais de um mês e avalia que os gargalos da segurança pública na região estão nos furtos de veículos, homicídios e feminicídios. Como forma de combater a violência doméstica, está sendo estabelecida articulação com o Poder Judiciário para que a PM (Polícia Militar) seja informada sobre toda medida protetiva concedida com base na Lei Maria da Penha, além de treinamento específico para atendimento das ocorrências. “O PM tem que saber que está tratando com pessoa que passa por dificuldade no campo pessoal muito grande.”
Qual a sua trajetória na PM?
São pouco mais de 32 anos de serviço. Iniciei minha carreira no 12º BPM (Batalhão de Polícia Metropolitana), na Zona Sul de São Paulo (região do aeroporto), depois fui para 24º BPM, em São João da Boa Vista, no Interior de São Paulo, onde permaneci por 23 anos. Já atuei na Corregedoria da PM (Polícia Militar) e na Coordenadoria de Assuntos Jurídicos da corporação. Promovido a coronel, fui designado para o CPA/M-6.
Como o senhor recebeu a indicação para comandar o policiamento no Grande ABC?
Foi uma honra muito grande, porque é desafio enorme. O comando de região com 2,7 milhões de habitantes, frota de veículos muito densa (1,89 milhão de veículos em 2018, segundo dados do Detran-SP), são sete batalhões sob comando do CPA/M-6, seis batalhões territoriais e o sexto Baep (Batalhão de Ações Especiais da Polícia), cerca de 3.000 policiais militares. A gente tem o desafio de provimento de recursos para que a tropa possa estar em condições de trabalhar no policiamento e cuidamos de toda parte administrativa, tanto de logística quanto de administração de pessoal, material, e também temos coordenação operacional feita pelo CPA. As grandes operações, ou as que envolvem mais de um batalhão, a gente tem que desenvolver pelo comandamento do CPA.
Quais são os principais desafios da sua função?
O mais importante de todos é dar continuidade ao trabalho dos comandantes que passaram por aqui, oficiais extremamente renomados na instituição. Temos a missão de dar continuidade ao trabalho deles e com a mesma qualidade. A gente tem que estar com os olhos voltados para as necessidades e os reclamos que a sociedade apresenta e procurar, em conjunto com a sociedade, com as forças vivas, clubes de serviço, chegar às soluções mais viáveis para atender esses reclamos. De acordo com o que é apresentado, a gente traça prioridades e vamos atendendo dentro da nossa capacidade. Exemplo disso é o sistema de policiamento orientado, onde a gente trabalha com as estatísticas das ocorrências e de acordo com os números e as necessidades locais a gente gera documento chamado ‘cartão de prioridade de patrulhamento’. Esse cartão é disponibilizado para as viaturas que estão em serviço e elas cumprem o roteiro colocado. Depois a gente faz análise se aquele cartão atendeu aos reclamos na sociedade. Caso não tenha sido tão eficaz quanto era a nossa expectativa, a gente altera o cartão de prioridades, sempre adequando o mais rápido possível.
Por isso a importância das pessoas registrarem os boletins de ocorrência?
Exatamente. O serviço público tem suas demandas e dificuldades como qualquer serviço, mas peço à sociedade que, apesar de haver dificuldade com relação ao tempo, que se utilize da delegacia eletrônica para fazer registro eletrônico naquelas modalidades em que é permitido. A gente pede o entendimento da comunidade e que realmente se registre a ocorrência, porque isso é importantíssimo para fazermos planejamento do policiamento. Verificamos dados de horário, dia de semana, localidades de maior incidência e também o modo de atuação dos marginais. Com isso a gente consegue fazer aparato completo dessa análise para poder destinar o policiamento.
Há pouco mais de um mês na região (o comandante foi apresentado em 10 de maio) já é possível identificar os principais gargalos da segurança pública no Grande ABC?
O que nos chama a atenção são os furtos de veículos e, apesar de estarmos com tendência de queda, é um delito com o qual a gente não pode relaxar. Outro delito, apesar de não ser numericamente tão alto, é o homicídio e também o feminicídio, porque provocam uma sensação de insegurança.
O Diário publicou em 9 de junho reportagem mostrando que foram registrados três casos de violência doméstica por dia na região no ano passado, 77% delas cometidas por companheiros das vítimas. Como a PM pode contribuir para combater esse tipo de crime?
A análise que faço é por duas frentes. Uma é que a partir do momento em que o feminicídio passou a figurar no código penal como crime específico, qualificação do homicídio, a gente verifica que essas ações positivas e essas campanhas vêm gerando encorajamento nas mulheres para fazerem as denúncias. Então, não tenho como medir se esses números realmente aumentaram, ou se as mulheres se sentiram mais encorajadas. O feminicídio ou mesmo os casos de violência doméstica que não chegam ao extremo da morte acontecem, em grande maioria, em ambiente familiar. Dentro da casa das pessoas é muito difícil a atuação preventiva. O trabalho da PM é estar participando de forma ativa junto a grupos que dão esse encorajamento, no fortalecimento da rede de proteção à mulher. Um aspecto muito importante para a gente é ofertar treinamentos específicos para os policiais para atendimento de ocorrências dessa natureza. É uma ocorrência extremamente delicada, porque a vitima está em uma situação de vulnerabilidade muito grande. Além do aspecto legal, o PM tem que saber que está tratando com uma pessoa que está passando por uma dificuldade no campo pessoal muito grande.
Em algumas cidades, as guardas municipais mantêm patrulhas para atendimento específico dessas ocorrências, as Patrulhas Maria da Penha. É possível pensar em alguma iniciativa em âmbito estadual, com a PM?
Para criação de um programa específico, teria que ser montado pelo governo do Estado ou pela SSP (Secretaria da Segurança Pública). Não tenho autonomia para isso, mas estamos tendo esse olhar de treinamento, com todos os PMs de qualquer programa de policiamento, seja da Radiopatrulha, Rocam (Rondas Ostensivas com Apoio Motorizado), Força Tática, que estarão em melhores condições para o atendimento. Vamos dar instruções diferenciadas para que todos tenham o olhar mais criterioso para essas ocorrências. Também estamos procurando troca de informações com o Poder Judiciário, para que, quando for expedida uma medida protetiva, a gente tenha ciência disso o mais rápido possível (segundo dados do TJ, em 2017 foram expedidas sete medidas protetivas por dia na região com base na Lei Maria da Penha, totalizando 2.817 registros, 30% mais do que em 2016, com 2.163 casos) e que a gente divulgue para as patrulhas que determinada pessoa conta com o benefício. Se houver acionamento pelo 190, que ela possa ser bem atendida.
Quem vai ministrar esse treinamento?
Em um primeiro momento é a própria PM, com nossos instrutores, no programa anual de atualização profissional. Estamos buscando parcerias com advogados, que atuam mais especificamente nesse tema, e psicólogos. Nós temos psicólogos da PM que já têm condições de dar orientação aos policiais nesse sentido. Estamos buscando novos parceiros para ministrar palestras específicas sobre esse tema.
O 6º Baep do Estado foi inaugurado no Grande ABC em abril. Qual o impacto desse equipamento na segurança pública da região e como tem sido sua atuação?
Está sendo muito boa a atuação, porque a presença da polícia ostensiva se fortaleceu e aumenta a sensação de segurança das pessoas.
O Grande ABC tem histórico de boa integração entre forças policias e GCMs. O senhor já teve essa experiência em outros locais e como avalia a importância dessa integração?
Já tive essa experiência e aqui no Grande ABC a gente vê que esse trabalho é extremamente positivo. Essa proximidade com as GCMs (Guardas Civis Municipais) e com as administrações das prefeituras, faz com que a gente consiga ter um planejamento uníssono, cada um dentro da sua esfera. Cada um já sabe bem seu papel, o que tem que fazer, e isso facilita o atendimento à comunidade.
O Diário vem denunciando o deficit de policiais militares na região, que gira em torno de 300 integrantes da corporação. Existe alguma previsão de reposição? Como o senhor acompanha essa questão?
Nossa defasagem de efetivo é em torno de 10% e isso é mais ou menos equitativa em todas as regiões do Estado. O comando da corporação vem fazendo um trabalho intenso para equilibrar isso em todo o Estado. O governo autorizou concurso para soldados da PM e também para a Academia do Barro Branco com o objetivo de readequar o efetivo, que é um esforço conjunto.
Como equacionar o deficit de policiais e equipamentos para não desfalcar o policiamento na região?
Tenho me reunido com os coordenadores dos batalhões a cada 15 dias para análise qualitativa dos delitos ocorridos no período e para empregar os meios adequados com essa análise. </CS><CS10.3>Quero enaltecer o trabalho dos Consegs (Conselhos Comunitários de Segurança) da região. Percebi que são extremamente atuantes, participativos e isso é muito importante.
RAIO-X
Nome: Renato Nery Machado
Estado civil: Casado
Idade: 49 anos
Local de nascimento: Santos, Litoral de São Paulo, e mora em São João da Boa Vista, Interior do Estado.
Formação: Direito, Academia do Barro Branco e pós-graduado em direito público
Hobby: Filmes
Local predileto: Praias, a preferida é Barequeçaba, em São Sebastião, Litoral
Livro que recomenda: O Monge e o Executivo, de James Hunter
Artista que marcou sua vida: Tom Hanks
Profissão: Coronel da Polícia Militar e professor universitário
Onde trabalha: CPA/M-6 e Unifeob (Centro Universitário Fundação de Ensino Octávio Bastos)
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