Com as dificuldades de viver em um espaço que pouco consome sua própria produção cultural, os caminhos para fazer escoar a arte que é realizada na região têm fornecido atalhos que fazem com que nossos artistas cheguem cada vez mais longe.
Já que no Grande ABC, entre os poucos concursos culturais existentes, nenhum tem representatividade, o jeito é olhar para fora, como tem feito a poetisa Rosana Banharoli, de Santo André.
Sua última vitória foi conquistada no Prêmio UFF de Literatura, da Universidade Federal Fluminense, do Rio de Janeiro, na categoria poesia. "Fui a única mulher entre os escolhidos nas categorias conto, crônica e poesia", conta Rosana.
"Conquistar esses prêmios através do que eu mesma produzo e divulgo - e o reconhecimento - me fazem sentir respeitada, ainda mais em um círculo que é fechado às experimentações, como é o mercado editorial."
O poema vencedor foi "50 Anos, Segunda Idade", cujos curtos versos dizem: "Minha terra está sempre / no mesmo lugar / enquanto meu rosto / se afasta de mim".
Sem nenhum livro individual publicado, Rosana tem participação em 13 antologias. Ao longo dos anos, foram mais de 20 prêmios literários.
No mês passado, conquistou um em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, cuja recompensa era ter sua obra divulgada nos trens e ônibus da cidade. "Meus poemas começam a circular neste mês. Mais importante do que ter um livro que pouca gente lê, é ter uma obra sua que milhares terão acesso."
TRANSPIRAÇÃO
A paixão pelos livros começou na infância, com uma coletânea de contos de fada que Rosana ganhou dos pais e conserva até hoje. Conheceu, na adolescência, a Biblioteca Nair Lacerda, no paço andreense, e centenas dos seus livros. Mais um passo dado para a carreira de jornalista, exercida inclusive no Diário.
"Comecei a canalizar minha paixão pela escrita por temas que me fossem especiais. Resgatei a poesia, prática da adolescência, e comecei a frequentar a Casa da Palavra, onde coordeno, hoje, algumas atividades."
A concisão em seus versos, o reflexo de sua inspiração em poetisas como Hilda Hilst e Olga Savary, ao contrário de sugerir facilidade, denota um trabalho que, exatamente por conter poucas palavras, tem de expressar-se com força e emoção, sem rodeios.
"É uma atividade solitária, uma briga interna, onde só a transpiração vence a inspiração. Uma ideia te estrangula até você torná-la verso", declara a poetisa, que ainda não tem planos de um livro somente com suas obras, mas que neste deserto, poético ou não, encontrou nos concursos um oásis para as suas produções
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