Dois irmãos dividem o quarto. Disputam espaço, brinquedos. Brigam. Nada diferente do que acontece em todas as casas em que dois irmãos dividem o quarto. O mais novo, assistindo ao noticiário da tevê, tem uma ideia: por que não construir um muro entre as duas camas? Assim, a luz do telefone do irmão não atrapalharia mais o seu sono, e seus brinquedos estariam a salvo do "invasor".
Esse é o enredo de Querido Senhor Presidente, escrito pela neozelandesa Sophie Siers e ilustrado pela canadense Anne Villeneuve, que chega às livrarias brasileiras pela Melhoramentos. Por meio das cartas que Samuel vai escrevendo ao presidente, acompanhamos o desenvolvimento de seu projeto, suas dúvidas, o efeito que sua ideia tem dentro de casa e como a ideia de Donald Trump é recebida pelos seus pais, amigos e professores. As ilustrações alternam entre o conflito familiar e as negociações por uma solução e as tentativas de entregar as cartas a Trump.
Sophie Siers, que vive longe de muros, em uma fazenda na Nova Zelândia, e recentemente assumiu o comando da editora de seus pais - que ela pretende transformar numa editora de livros para crianças -, respondeu às perguntas do jornal O Estado de S. Paulo por e-mail.
Por que contar essa história?
Eu gosto de escrever livros que se posicionam decididamente no mundo das crianças, não no que nós imaginamos que ele seja a partir de nossa perspectiva adulta. A óbvia comparação entre o problema da rivalidade entre irmãos e a política do muro de Trump pareceu uma oportunidade boa demais para se perder. Eu pude ver um fabuloso livro que falaria diretamente a crianças sobre os problemas da vida doméstica e, ao mesmo tempo, levaria alguma diversão aos adultos que o lessem.
O que você espera que as crianças tirem do livro?
Espero que elas vejam os problemas que surgem nas famílias através de uma lente mais ampla. Às vezes, ver nossos problemas a partir da perspectiva de outra pessoa pode nos ajudar a compreendê-los melhor. Espero que elas possam se sensibilizar com as questões do Sam, mas que também percebam que relações complicadas podem ter seus benefícios. Espero que as famílias usem o livro para falar sobre muros e decisões que possam funcionar para todos dentro de uma família.
É seu primeiro livro publicado em outros países. Como vê isso?
O livro já foi publicado em 16 países! Precisamos educar as crianças de maneira a desenvolverem um julgamento crítico, de si mesmas e de situações. As conversas na vida familiar são o ambiente mais formativo no desenvolvimento do pensamento das crianças. Então, fico feliz que os editores internacionais estejam se conectando com a mensagem do livro.
O que pretende fazer como editora? Por que investir em livros para crianças e em que tipo de literatura você acredita?
A coisa mais importante que podemos fazer por uma criança é ensiná-la a ler e oferecer histórias que instiguem sua imaginação e desenvolvam sua capacidade de pensar. Colocando ao lado da história uma arte bonita aumenta sua apreciação de cores e formas, que pode ser importante mais adiante na vida. Amo histórias que entendam de verdade o mundo da criança, histórias que nos contam o melhor da vida para nos inspirar e nos elevar.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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