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Independentes se juntam para exportar o som brasileiro
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
23/02/2002 | 16:59
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  A música independente brasileira agora é tipo exportação. A analogia com produtos nacionais vendidos no exterior, como o café – cujos melhores grãos são destinados ao consumidor estrangeiro –, também vale para a cultura: o mercado internacional quer produtos culturais brasileiros de qualidade. “Cerca de 70% da música do Brasil que interessa ao mercado exterior é produzida pelos selos independentes”, diz José Carlos Costa Netto, presidente da Dabliú Discos e da recém-criada BMA (Brazilian Music & Arts).

Cumprindo o bordão “a união faz a força”, as gravadoras e selos independentes formaram essa organização sem fins lucrativos para facilitar a exportação da música brasileira e, de quebra, o brazilian way of life. A iniciativa visa popularizar a imagem do país no exterior em primeiro lugar com a música – que possui grande aceitação lá fora – e, em um segundo momento, com artes cênicas (teatro e balé). O cinema ficou de fora, pois já é bem articulado em outros países.

“A influência de um filme ou música no consumo de produtos dos Estados Unidos, por exemplo, tem efeito incalculável, maior do que propaganda direta. Queremos fazer o inverso: aumentar o interesse pelo Brasil via cultura nacional. A reboque, aumentaria o consumo de produtos brasileiros no exterior”, afirma Eduardo Muszkat, diretor-superintendente da BMA e diretor do selo MCD World Music.

Nas primeiras ações da BMA está a música brasileira independente, que dificilmente está na programação da maioria das rádios e nas prateleiras das grandes lojas, dominadas pelos gêneros populares sertanejo e pagode. Estes, porém, também podem fazer parte da pauta de comércio exterior. “A BMA facilitará a exportação cultural brasileira. Se lá fora quiserem discos de dance music brasileira, ou de samba, ou de boquinha da garrafa, nós iremos atrás. Nosso negócio é aumentar o potencial de nosso produto cultural”, diz Muszkat.

A BMA foi criada em outubro. Em março passado, foi formalizada a ABMI (Associação Brasileira de Música Independente), com 30 selos e gravadoras fundadores e outros 100 pleiteantes, berço da BMA. Esta reúne 15 integrantes, entre gravadoras e representantes de artes cênicas. A primeira ação da BMA no exterior ocorreu de 19 a 24 de janeiro passado, na 36ª feira anual internacional de música Midem, em Cannes, na França, com apoio do Ministério da Cultura e do Sebrae.

O estande do Brasil, primeira representação conjunta do país na feira, contou com oito gravadoras independentes (MCD World Music, Dabliú Discos, Brazilbizz, ST2, Nikita, Visom Digital, Biscoito Fino e Net Records). Chamou atenção e gerou para os próximos 12 meses uma expectativa de receita de aproximadamente US$ 500 mil em licenciamentos vendidos e comprados para o exterior.

Entre os artistas mais procurados estavam Beth Carvalho, Maria Bethânia, Fátima Guedes, Fortuna, Funk como Le Gusta, entre outros. A Velha Guarda da Mangueira foi comparada ao Buena Vista Social Club nos Estados Unidos e na França e a música instrumental brasileira, especialmente samba e bossa nova, foi muito procurada por selos da Coréia do Sul e do Japão devido à Copa do Mundo. Entre outros artistas bem divulgados pela BMA estão o andreense Kléber Albuquerque, Wagner Tiso e Mônica Salmaso.

No Brasil, música independente é tudo o que não é produzido pelas multinacionais chamadas majors (Sony Music, EMI/Virgin, Universal, Warner e BMG). “As grandes gravadoras têm base no exterior e seu maior interesse é vender a música produzida por eles lá fora. Entre negociar no exterior um grupo inglês e um brasileiro de sucesso por aqui, elas preferirão o estrangeiro”, afirma Muszkat.

As gravadoras independentes são empresas com recursos próprios, sem capital de investidores. A Trama, presidida por João Marcello Bôscoli, é independente (teve um estande exclusivo no Midem), mesmo com seu grande crescimento. A Abril Music é outro caso. Também participante do Midem com estande próprio, não é multinacional, mas pertence a um grande grupo empresarial e está filiada à ABPD (Associação Brasileira dos Produtores de Discos), junto com as majors. “Acredito que dentro de um ano, a Abril terá mais afinidade com as independentes do que com as majors”, diz Muszkat.




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