A figura de um ator vestido com a camisa da seleção brasileira e batendo panela não faz parte de qualquer protesto ou um novo folclore brasileiro. Pelo menos não em Hamlet Cancelado, o figurante explica. "É que o diretor da peça não encontrou a camisa da Dinamarca."
Estreia nesta sexta, 7, no Teatro Pequeno Ato, Hamlet Cancelado, novo solo de Vinícius Piedade. Com ares de ser uma grande fábula sobre a vida do artista e o ambiente político do Brasil, o ator empresta a tragédia de Shakespeare para enfrentar a crise insolúvel proposta pelo príncipe da Dinamarca. Na montagem, a plateia fica sabendo que a grande produção inspirada na obra iria estrear naquela noite, mas enfrentou alguns problemas e não poderá ser realizada. "No palco, ele está diante do que restou do cenário e dos figurinos", conta o ator, que assina a dramaturgia com Flávio Tonnetti. "E com um impulso sobre a existência, ele se propõe a contar, sozinho, a história da peça."
Com direção de Fábio Vidal, a peça pretende ecoar as principais questões do clássico e atualizar o que podem ser "as novas questões de existência, vingança, e o ato de ir contra as instâncias de poder, como o jovem Hamlet fez", afirma o diretor.
Para Piedade, a trama da peça pediu algumas atualizações, por exemplo, sobre o conflito entre o tirano Claudio, que assume o trono após a morte do pai do príncipe Hamlet. "Um ano atrás, eu havia focado em outros partes da história. Agora acredito que Claudio se torna mais central na montagem."
É nessa cena abertamente precária ao estilo "aqui tudo parece, que era ainda construção, e já é ruína" na música de Caetano Veloso, que a peça quer ampliar a missão hercúlea do artista. "Faz parte do trabalho de todos nós, de elaborar questões, e Hamlet está repleto de personagens que falam da vida, das relações, do poder e da morte. É para todos."
HAMLET CANCELADO
Teatro Pequeno Ato. Rua Dr. Teodoro Baima, 78. Tel.: 99642-8350. 5ª, 6ª, sáb., 21h, dom., 20h. R$ 30 / R$ 15. Estreia 7. Até 30/6.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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