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Sombra e água fresca

CCBB inaugura a exposição ‘Vaivém’, que apresenta redes de dormir na arte e cultura visual do País

Miriam Gimenes
Do Diário do Grande ABC
22/05/2019 | 07:08
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Luiz Ribeiro/Divulgação


Não há quem não goste de descansar deitado em uma rede, de preferência de frente para o mar. Item doméstico de origem indígena, ela teve bastante importância na história da sociedade brasileira, desde o início da colonização. De modo a mostrar toda essa trajetória, tendo como Norte a arte, o CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) abriu ontem a exposição Vaivém, que tem a curadoria de Raphael Fonseca, crítico, historiador da arte e curador do MAC (Museu de Arte Contemporânea) de Niterói.

A mostra, que ocupa o prédio todo, é composta por cerca de 300 obras, de 141 artistas. Entre eles estão nomes como Bené Fonteles, Bispo do Rosário, Claudia Andujar, Djanira, Ernesto Neto, Luiz Braga, Mestre Vitalino, Tarsila do Amaral e Tunga, além da participação de 32 artistas contemporâneos indígenas, como Arissana Pataxó, Denilson Baniwá, Duhigó Tukano, Gustavo Caboco, Jaider Esbell e o coletivo Mahku,

“Longe de reforçar os estereótipos da tropicalidade, esta exposição investiga as origens das redes e suas representações iconográficas: ao revisitar o passado conseguimos compreender como um fazer ancestral criado pelos povos ameríndios foi apropriado pelos europeus e, mais de cinco séculos após a invasão das Américas, ocupa um lugar de destaque no panteão que constitui a noção de uma identidade brasileira”, explica o curador.

Segundo ele, é mostrado por meio de pinturas, esculturas, instalações, fotografias, vídeos, documentos, intervenções e performances, além de objetos de cultura visual, como HQs e selos, como antes a rede era considerada ‘coisa de selvagem “e, no decorrer dos séculos, foi aderida pela sociedade brasileira e associada ao Nordeste, à ideia de lazer, de descanso.”

O visitante poderá percorrer seis núcleos para entender toda essa trajetória. O primeiro deles é o Resistências e Permanências, que mostra as redes como símbolos e objetos onipresentes da cultura dos povos originários do Brasil, com destaque fotografias dos artistas e ativistas das causas indígenas Bené Fonteles e Cláudia Andujar, e o objeto de Bispo do Rosário. o Rede de Socorro; há também A Rede como Escultura, a Escultura como Rede, com trabalhos que mostram redes de dormir a partir da linguagem escultórica; o Olhar para o Outro, Olhar para Si, que traz documentos e trabalhos de artistas históricos e viajantes, como Hans Staden, Jean-Baptiste Debret e Johann Moritz Rugendas, e registraram os aspectos da vida no Brasil durante a colonização.

Há também o Disseminações: Entre o Público e o Privado, que mostram como as redes surgem em atividades do cotidiano do Brasil colonial, como mobiliário, meio de transporte e práticas funerárias; o Modernidades: Espaços para a Preguiça, em que a rede passa a ser associada à preguiça, à estafa e ao descanso decorrentes do encontro entre o trabalho braçal e o calor tropical e tem como ponto central Macunaíma (1929), livro de Mário de Andrade e, por fim, o Invenções do Nordeste, com obras que transformam em imagens mitos a respeito da relação entre as redes e esta região do País.

E no último andar do prédio está uma homenagem a Tunga. O artista, que inaugurou o CCBB São Paulo, em abril de 2001, retorna à instituição 18 anos depois com a instalação Bells Falls, que ganha uma nova versão e é apresentada ao lado dos registros fotográficos da performance 100 Rede, realizada em 1997 na Avenida Paulista.

Vaivém – Exposição. No CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), na Rua Álvares Penteado, 112. Até 29 de julho, todos os dias, das 9h às 21h, exceto terças. Gratuito.  




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