Cultura & Lazer Titulo Literatura
Flip politicamente correta

Festa Literária, que fará homenagem a Euclides da Cunha, tem programação politizada

Miriam Gimenes
Do Diário do Grande ABC
16/05/2019 | 07:01
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Divulgação


A Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) ainda não atingiu a maioridade, mas conversa como gente grande. Em sua 17ª edição, que terá como autor homenageado o jornalista Euclides da Cunha (1866-1909) – e será realizada dos dias 10 a 14 de julho, na cidade histórica no Rio de Janeiro –, promete programação que atingirá a todos os públicos e que discutirá a política em seus diversos aspectos (educação, diversidade, questões indígenas, feminismo, pessoas em luta contra o Estado, crise climática, ciências). Ao todo, estarão presentes 33 autores de dez nacionalidades.

“Seria impossível homenagear o Euclides sem esse viés, mas acho que a ideia é menos ‘o quente da hora’ e mais a reflexão histórica sobre o País. O José Murillo de Carvalho (no dia 12 de julho), por exemplo, pensará historicamente como a gente olha para Canudos, o que aconteceu ali e como pensa o hoje? A ideia é essa”, explica a curadora da programação principal da Flip Fernanda Diamant. Euclides cobriu a Guerra de Canudos (1896–1897) pelo jornal O Estado de S. Paulo. Durante o tempo em que acompanhou o conflito armado entre o Exército brasileiro e a comunidade sócio-religiosa liderada por Antônio Conselheiro, no Interior da Bahia, nitidamente mudou de opinião – quem antes achava que o governo estava certo em conter a revolta acabou se sensibilizando ao vivenciar o dia a dia daquele povo. 

E da experiência nasceu um clássico da literatura brasileira, Os Sertões, que será discutido na primeira mesa da Flip, feita dia 10, às 19h, por Walnice Nogueira Galvão, uma das maiores críticas literárias brasileiras e sua principal intérprete. “(Euclides) É um autor que trata do Brasil, que viajou o País inteiro até a Amazônia. Em Sertões, especialmente, ele faz uma retrospectiva da história do Brasil para chegar àquela situação (da guerra). Achei que nesse momento que a gente está vivendo seria perfeito falar sobre tudo isso”, completa Fernanda. A obra referida mistura jornalismo, geografia, filosofia, teorias sociais e científicas para falar de um País em transição.

“A Flip é uma manifestação cultural e a dimensão política é intrínseca. Se a gente imaginar, por exemplo, o que aconteceu em 2013 com as mesas que passaram a existir no calor daquele momento das manifestações, eu acho que a gente está seguindo a tradição da festa”, diz o diretor criativo do evento, o arquiteto Mauro Munhoz.

Ainda que os recursos não estejam todos captados para realização da festa – estima-se R$ 5,4 milhões, mas até o momento conseguiram apenas R$ 4,7 milhões –, ele está otimista com o orçamento. “Este ano foi difícil e o próximo também será, mas a Flip vive”, comemora Munhoz.

Entre os autores que ‘passearão’ pelas ruas de Paraty em julho estão a nigeriana Ayobami Adebayo, a antropóloga Aparecida Villaça, além da cantora Adriana Calcanhoto, José Miguel Wisnik, Zé Celso etc. A agenda completa poderá ser acompanhada pelo site www.flip.org.br e os ingressos da programação principal, que custarão R$ 55, serão vendidos a partir do dia 3 de junho.  




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