Das 36 denúncias recebidas neste ano pela ONG ABCD'S (Ação Brotar pela Cidadania e Diversidade Sexual) sobre homofobia, 25 são de violência dos pais contra os próprios filhos adolescentes. Espancamentos, fraturas, agressões verbais e tortura psicológica estão na lista das crueldades sofridas pelos homossexuais.
Em 2007, dos 168 registros feitos pela ONG, cerca de 80% são referentes à violência doméstica motivada pela orientação sexual. O presidente da ABCD'S, Marcelo Gil, acredita que a região tenha outras situações de violência doméstica não reveladas por medo. "Temos uma sociedade tradicional e machista. O preconceito é muito grande."
Desde que assumiu a homossexualidade há um ano, Augusto (*), 18 anos, diz que é agredido pelos pais física e verbalmente. Apanha com cinto, leva tapas e socos na cabeça. Em uma das brigas saiu com um sangramento na testa, tem cicatrizes em uma das sobrancelhas e braço.
O rapaz já chegou a revidar às agressões, mas os pais registraram um boletim de ocorrência contra ele, retirado dias depois. "Todos têm preconceito e são contra mim. Sou muito magro, não tenho vontade de comer, me dá vontade de morrer... Já pensei em suicídio muitas vezes." Ele diz que os pais prefeririam que ele fosse ladrão ou usuário de drogas. "Torço para que um dia me entendam e parem de brigar."
No começo do ano, Guilherme (*), 16, jogou acetona no próprio corpo e ateou fogo depois de uma briga, seguida de ameaça de morte feita pelo pai. Passou um mês e meio internado por conta das queimaduras de terceiro e quarto graus da barriga para cima. "Fiz isto pela pressão, perdi o controle e me arrependo."
Doutora em Psicologia Clínica e especialista em Infância e Família, Vera da Rocha Resende, explica que uma série de intolerâncias típicas do preconceito ainda pairam na sociedade. Para ela, o fato de um pai dizer ao filho que prefere que seja ladrão a homossexual só mostra o despreparo humano. "Quem cria uma criança com amor vai aceitar suas escolhas. Os pais devem lutar pela sua felicidade. O homossexualismo é uma escolha íntima que não agride ninguém, diferente do roubo e das drogas que trazem mal à sociedade."
Além da polícia e do Disque-Denúncia (181), a ABCD's também recebe denúncias de violência, pelos telefones 2831-1641 e 7332-8899 ou e-mails denuncia@paradaabcsp.org.br e juridico@paradaabc.sp.gov.br.
(*) Nomes fictícios
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