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Resistência em palavras

Livro recém-lançado reúne textos que falam sobre o cenário brasileiro após as eleições do ano passado

Miriam Gimenes
17/04/2019 | 07:25
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Reprodução


Vinte e oito de outubro do ano passado foi um dia em que os brasileiros estavam à flor da pele. Depois de eleição um tanto tumultuada para decidir quem assumiria a Presidência do País – e os respectivos governadores dos estados –, o segundo turno foi decisório para Nação que estava, literalmente, dividida.

E foi no fim daquele domingo, após o resultado das urnas ser divulgado, que uma imagem viralizou nas redes sociais: o desenho feito pela tatuadora de Belo Horizonte Thereza Nardelli, com a frase ‘Ninguém Solta a Mão de Ninguém’. Dita pela sua mãe em um momento de dificuldade em que passavam, ela encaixou perfeitamente com a situação do Brasil e ganhou milhares de compartilhamentos.

Até que chegou às vistas da editora Tainã Bispo, que ficou tocada com o significado daquelas palavras. Tanto que teve a ideia de fazer um livro com este título – com a participação de Thereza, é claro –, que acaba de ser lançado (Claraboia,192 páginas, R$ 42,90).

Com o subtítulo Manifesto Afetivo de Resistência pelas Liberdades, a publicação reúne 23 textos inéditos e uma reprodução que contemplam diversos gêneros literários – prosa, poesia, ensaio, crônica, canção, charge e carta – e discutem o modo como os respectivos autores enxergam a situação do País. “Tive essa ideia em que o fio condutor era essa imagem (da Theresa), que para mim significa o afeto, o diálogo, a comunhão de algo maior que, para mim, é a democracia. E também de uma força, da coisa dos espinhos. Quando vi essa imagem percebi que podia transformar minha dor em algo maior”, diz Tainã.

Tratou, então, de convidar escritores que conhecia e alguns outros que só tinha lido os trabalhos e gostava do texto. Conseguiu, então, reunir nomes como os jornalistas Juca Kfouri, Leonardo Sakamoto e Antônio Prata, a psicanalista Vera Iaconelli, o ex-ministro de Estado da Educação Renato Janine Ribeiro, Anielle Franco, irmã da vereadora Marielle Franco, que foi assassinada no Rio de Janeiro em março do ano passado, entre outros. “Não existem reflexões repetitivas, mas todas têm o mesmo fio condutor e refletem sobre esse momento difícil que passamos no Brasil. Todas elas com a ideia de que é o afeto e o diálogo é que podem nos tirar desse momento sombrio, tão complexo. São textos lindos.”

Entre os mais tocantes está o de Anielle Franco, que tenta ajudar a família a se reerguer depois da morte da irmã. “Hoje a família de sangue da Marielle é tachada muitas vezes de família ‘daquela vereadora morta que defendia bandido’. Ora, quem em sã consciência sabe o significado de defensora dos direitos humanos? No Brasil, pelo que vemos, nem todos os cidadãos sabem do que se trata”, reclama em seu texto. Ela conta como foi quando viu Marielle e não pôde se despedir. “Ao chegar àquela rua no dia do crime, a primeira imagem que vi foi exatamente a mão da minha irmã pendurada para fora do carro com seu sangue escorrendo e pingando. (...) Uma imagem que pude apenas gravar e lembrar, pois, infelizmente, naquele momento fui proibida de segurar a mão dela. (...) Mas, hoje, sigo segurando as mãos dos meus.”  




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