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PT atravessa a maior crise de sua história
Roney Domingos
Do Diário do Grande ABC
03/07/2005 | 07:15
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O PT vive a maior crise de sua história. A afirmação é do cientista político Francisco Fonseca, professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “É a crise mais importante, porque coloca de forma bastante vigorosa e ostensiva um ponto do capital político do PT, que é o tema da moralidade pública. Colocar em xeque aquilo que por mais de 20 anos foi considerado o capital político do partido deixa em risco a própria reeleição do presidente Lula”, afirma.

Fonseca sugere cuidado: alerta para o fato de que se a atual crise for mal conduzida pelas lideranças poderá resultar no esfacelamento não apenas do PT, mas de todo o sistema político brasileiro – abrindo espaço mais uma vez para o surgimento de salvadores da pátria, como o ex-presidente Fernando Collor de Mello, que renunciou em 1992 antes de sofrer o impeachment. Tudo isso sem contar o risco de o país desperdiçar um dos raros momentos em que a economia promete engrenar, puxada pela prosperidade mundial.

“Um cenário é o da responsabilidade, com punições talvez menos amplas do que gostaríamos, e um acordo em prol de uma reforma política mesmo que no próximo governo”, explica Fonseca. pregando o consenso entre governo e oposição. “Outro cenário é o caos – um desacordo total – e a implosão do sistema político que abre caminho facilmente para um aventureiro na vida politica brasileira.”

O professor lembra ainda a possibilidade de mudança na economia internacional, ainda favorável ao Brasil. “Um ajuste na economia norte-americana e chinesa, dependendo do ritmo, e até questões como terrorismo internacional, podem afetar fortemente o Brasil. E se houver uma crise política, como essa que estamos vivendo agora, associada a uma crise econômica, o ambiente será explosivo. As lideranças precisam ter muita responsabilidade, porque o sistema político brasileiro é muito frágil.”

Os principais partidos de oposição e o maior beneficiário da crise não deveriam comemorar o desnudamento do PT. “PSDB, PFL e o PMDB, nenhum partido pode se vangloriar desse momento, porque é uma crise do sistema político brasileiro”, insiste o professor.

Ovo da serpente – A crise política que o PT e o governo federal atravessam agora têm raízes nas denúncias de envolvimento do assessor do ministro José Dirceu, Waldomiro Diniz, com cobrança de propina para campanhas do partido . “Essa crise é diferente, porque é gigantesca e está paralisando o país há semanas.” Na opinião do professor da PUC e da GV, a urgência da oposição em antecipar o calendário eleitoral e o erro do governo em tentar evitar as denúncias no primeiro momento contribuíram para inflar a crise.

Fonseca afirma que o imbróglio pode fugir do controle caso o PSDB – principal partido de oposição – aposte ‘no quanto pior, melhor‘. “Ainda é cedo porque não sabemos até que ponto o deputado Roberto Jefferson está mentindo ou falando a verdade. Até agora são denúncias, sem provas materiais. Tudo vai depender também da capacidade que o governo, de um lado, e o PSDB, de outro, terão de lidar com a situação. Se o PSDB jogar no quanto pior melhor, eu diria que o sistema político brasileiro pode implodir, porque isso geraria outras CPIs do governo anterior e também a respeito da reeleição de FHC, sobre a qual paira uma névoa. O que está em jogo é a capacidade ou não de as grandes lideranças políticas do país acharem uma saída. E essa saída é a governabilidade de um lado e a reforma política de outro.”

Inimigos mortais – Lideranças políticas com origens comuns na luta contra a ditadura e mais tarde em favor da reforma no Estado, PT e PSDB têm afinidades doutrinárias que permitiriam a convivência sob mesmo teto, na análise de Fonseca, mas, segundo ele, ‘tornaram-se inimigos mortais.” O professor ressalta que a saída é reduzir o ímpeto e trabalhar pela reforma política. “Quem está na oposição se comporta de um jeito e quem está no governo se comporta de outro, mas é irresponsável tentar antecipar a eleição. Sobretudo a reforma política precisa ser feita. Esse é o grande momento para fazer reforma política. do fundo do poço é que emerge a solução.”




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