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Aventura em clima familiar

Longe de pragmatismo e cheio de lições de moral, ‘Shazam!’ deve dividir público

Luís Felipe Soares
07/04/2019 | 07:29
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Divulgação


As infinitas crises pelas quais a parceria entre DC Comics e Warner Bros no cinema já ficaram para trás. O sucesso da trilogia Batman, comandada por Christopher Nolan, apareceu; as críticas sobre o universo da Liga da Justiça, criado por Zack Snyder, botaram quase tudo em perigo (menos as bilheterias); o universo expandido com Esquadrão Suicida é execrado; e o renascimento passou pelos ótimos resultados obtidos por Mulher-Maravilha e Aquaman. É como fruto desse momento mais tranquilo, colorido e divertido que Shazam! é apresentado ao público mundial, pronto para ousar em ideias, aproveitar referências e abusar da viagem pelo universo dos super-heróis. Seja agradando ou não o público por causa de suas escolhas um tanto quanto juvenis, o filme recém-chegado às salas brasileiras tem potencial para lotar sessões e juntar milhões aos cofres do estúdio responsável e da editora norte-americana.

Para quem não conhece o personagem do momento, ele foi criado em 1940 pelo roteirista Bill Parker e o desenhista C. C. Beck, sendo chamado de Capitão Marvel na revista Whiz Comics, da editora Fawcett Comics. Era resposta do mercado ao sucesso gigantesco de Superman tempos antes e que serviu de marco para o gênero. Complicações e disputas judiciais o fizeram entrar na lista de ‘atrações’ da DC na década de 1970. Não é difícil de imaginar que seu nome precisou ser reformulado para não haver sua ligação com a concorrente Marvel Comics, com a marca Shazam sendo trabalhada desde então. O público nerd que nunca leu nenhuma de suas HQs o deve reconhecer dos desenhos animados, caso da série Liga da Justiça: Sem Limites, e de games, a exemplo da franquia de luta Injustice.

A ideia do longa-metragem é apresentar o herói de maneira geral, explicando que o chamado ‘campeão’ reúne a sabedoria de Salomão, a força de Hércules, o vigor de Atlas, o poder de Zeus, a coragem de Aquiles e a velocidade de Mercúrio. O guardião desses poderes busca por pessoa de bom coração há muito tempo, com o surgimento do vilão Dr. Silvana (Mark Strong) e o apoio dos sete pecados capitais, obrigando a busca a ser mais urgente do que nunca. Tudo surge no caminho do rebelde Billy Batson (Asher Angel), garoto de 14 anos que ainda sonha em encontrar a mãe e que, ao clamar o nome Shazam, se transforma em versão adulta (Zachary Levi) cheia de habilidades especiais. A brincadeira é que essa figura mantém a fragilidade e visão de mundo infantil, com esse elemento sendo essencial como alma do filme e de toda a saga do personagem desde seu nascimento, o que faz a premissa ser um tanto quanto sem graça para o grande público.

INDEPENDÊNCIA
Os trailers e as imagens de divulgação já revelavam que a jornada do protagonista apostaria em forte tom cômico. Fãs mais ‘adultos’ provavelmente devem ter dificuldade para digerir o projeto, que nada se assemelha a outras adaptações da DC e está mais perto do filão Sessão da Tarde da produção holywoodiana, com o oitentista Quero Ser Grande (1988) claramente surgindo como inspiração e recebendo rápida homenagem. Claro que muitas das piadas ganham força na visão de crianças e adolescentes, mas o resultado obtido pelo diretor David F. Sandberg (de Annabelle 2: A Criação do Mal) funciona como atração para toda a família, não importando a identidade do personagem nem sua conexão com um dos maiores universos de histórias em quadrinhos. É esse espírito de independência, inclusive criativa, que Shazam! tem a oferecer.

A impressão que fica é que o longa tem, para o bem ou para o mal, personalidade própria e cria caixa única na divisão de filmes de heróis. Acaba tendo distanciamento do pragmatismo de produções recentes do gênero e dialoga bem mais com o clima familiar do passado. Parte disso se dá por conta da relação de Billy com seus novos irmãos, em especial a carinhosa Darla (Faithe Herman) e o carismático Freddy (Jack Dylan Grazer), este último conexão essencial para que o novo parceiro entenda um mínimo do mundo dos superseres. Zachary Levi mantém o clima leve e ajuda a orquestrar a série de lições de moral que surgem no desenrolar da trama – o que soa enfadonho para espectadores impacientes.

Shazam! reflete o desejo dos fãs em se tornarem astros com poderes incríveis. Ele abusa de humor para brincar com o tema e faz as cenas de ação pouco memoráveis também trabalharem em prol da diversão cinematográfica proposta por Sandberg. Não é filme para recordar, mas para se ganhar tempo quando puder. O trabalho sério fica para os adultos, leia-se Superman, Capitão América, Batman, Pantera Negra, Mulher-Maravilha e outros.




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