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Expoente da dança

Grande nome do cenário contemporâneo, Pina Bausch tem trabalho estudado

Por Vinícius Castelli
01/04/2019 | 07:16
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Maarten Vanden Abbele/Divulgação


Depois de Pina Bausch a dança nunca mais foi a mesma. Dá-se à coreógrafa alemã o mérito de ter revolucionado a linguagem artística com a qual trabalhou até sua morte, em 2009 – duas semanas após ter estreado sua última produção –, e de ter levado aos palcos outras formas de expressão. E a artista, ao longo da carreira, fez algumas visitas ao Brasil, a primeira delas em 1980. Se encantou com a cultura brasileira, com a importância da presença do corpo e, é claro, com a música, principalmente a de Caetano Veloso, de quem se tornou amiga. Foi neste momento que criou a obra Água.

Expoente da dança contemporânea, a artista, que dirigiu desde 1975 até seu último dia a companhia Tantztheater Wuppertal, tem esta coreografia com inspiração tupiniquim e a maneira de trabalhar esmiuçadas pelo escritor, crítico de arte, jornalista e professor universitário brasileiro Fabio Cyprianom no livro Pina Bausch (R$ 120, em média, 176 páginas, Sesi– SP Editora e Edições Sesc São Paulo).

A edição, ilustrada também por belíssimas imagens do fotógrafo belga Maarten Vanden Abeele, é fruto de pesquisa que começou em 1998 e foi até 2002. “Esse trabalho não é só sobre dança, mas sobre o que significa o processo criativo e dentro de um contexto que hoje em dia chamamos de residência artística”, explica o autor.

Ele diz que boa parte do trabalho da Pina é investigar e entender como as pessoas se movimentam e o que as movimentam. E nesse sentido, ela precisa de estímulos que estejam em movimento constante. “Ela tinha vindo ao Brasil em 1980, voltou em 1990 e se identificou com o jeito brasileiro”, explica Cypriano. “Se você vir a peça (Água) dela, verá praia, situações de dança, ou seja, várias referências de como o corpo é explorado”, ressalta

Mas Água, como reflete o autor, não é o Brasil sendo representado no palco. Vai além. “A ideia desses artistas não é representar, mas pensar. Acho que nesta obra ela pensa o Brasil em várias questões muito legais, como a religiosidade, força da natureza, o corpo, como eu falei, que estão muito presentes e com os quais a gente pode se identificar”, diz.

Cypriano conheceu Pina. A entrevistou e pôde ver algumas suas obras sendo apresentadas, inclusive na Alemanha. Para ele, trata-se de artista singular que traduziu no palco uma experiência que estava começando no universo da arte contemporânea. “Foi ela quem na dança melhor expressou isso, nos anos 1970. Foi buscar diálogo com o mundo de verdade. De não ficar presa no palco”, explica.

E acrescenta. “Revolucionou a dança no sentido de fazer com que fosse performática. Um bailarino no palco podia aparecer comendo cebola, mas seria cenográfica. A Pina não. O bailarino no palco, quando come, não é cenográfico. Eles fumam, falam, cospem. Tudo passa a ser entendido como movimento também. Até então não era. Ela ampliou o vocabulário da dança e isso faz com que ela seja singular.”  




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