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Sérgio Soares desabafa sobre futebol brasileiro

Técnico quer volta do característico estilo ofensivo e cobra respeito aos treinadores do País

Dérek Bittencourt
18/03/2019 | 07:20
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Celso Luiz/DGABC


Não é de hoje que o futebol brasileiro vem sendo questionado e criticado. Não só o apresentado em nosso País, como pela Seleção, que escancarou o problema na inesquecível derrota por 7 a 1 para a Alemanha na Copa do Mundo de 2014. Mas tudo isso tem motivo para o técnico Sérgio Soares, que tenta livrar o São Bernardo FC do rebaixamento na Série A-2 do Campeonato Paulista. Defensor de estudos e formações constantes para os treinadores – em dezembro, tirou a Licença PRO, da CBF –, vê falta de personalidade a diversos colegas e cobra o resgate daquele estilo de jogo que levou o Brasil a cinco mundiais.

“Em 2014 foi um acidente, dia infeliz, nunca mais vai acontecer. Não somos mais o melhor futebol do mundo, isso é claro, mas somos cobrados como se fôssemos”, crava. “Não acredito no futebol brasileiro que está sendo jogado. Está todo mundo querendo esperar para atacar, aí muita gente diz: ‘será que (o treinador) não está fazendo isso para se garantir no emprego?’. Eu não. Posso bater cabeça, mas o que penso de futebol é ter a bola, atacar e pressionar o adversário para recuperar a posse. Não acredito em futebol reativo. Sei que em alguns momentos se ganha, prova maior é o Corinthians campeão brasileiro (2017), mas não compactuo com esse tipo de jogo. Fugimos das nossas raízes”, salienta.

O atual comandante aurinegro enxerga duas equipes como suas principais referências: o Palmeiras de 1996, do qual fez parte do elenco, e a Seleção Brasileira de 1982. “Apesar de ter jogadores acima da média, o conceito aplicado facilitou muito para aqueles monstros. Os caras preenchiam espaço sem a bola, eram ofensivos, tinham transição. O futebol tem que ser assim. É o que penso de futebol. Consegui fazer no Santo André, no Ceará, no Bahia, no Paraná, no próprio São Bernardo (2016). O conceito e a postura do meu time não vão fugir disso”, se posiciona.

Utilizado como exemplo a ser seguido, Sérgio Soares crê que há muito mais recursos no futebol europeu, o que lhe permite também mais material humano. “Temos de ser claros: o futebol brasileiro tem grandes treinadores. Estão buscando melhorar, estudando, reciclando, aí chega o Sampaoli (Jorge, técnico do Santos) com um modelo que o Fernando Diniz fazia no Votoraty (em 2009). Falam que o Sampaoli é mágico. Para! Ele é bom, merece todo o respeito, é legal estar aqui, mas não pode deixar de falar do Fernando, do Renato (Gaúcho), do (Maurício) Barbieri. Por que não fala dos caras?”, questiona. “A imagem que o técnico brasileiro é fraco, preguiçoso, não gosta de estudar. Isso é de quando era jogador e virou treinador, dava treino sem camisa. Mudou. O último boleirão, que não é mais, era o Renato”, argumenta. 

Sérgio Soares ainda falou sobre as críticas sobre Luiz Felipe Scolari, que tem o elenco mais caro e com opções do País, mas que é constantemente alvo de contestações. “O Felipão sempre jogou assim, com Paulo Nunes e Jardel (Grêmio), com Paulo Nunes e Oséas (Palmeiras), quer que mude o jeito dele jogar? É de pegar a bola e transição, bola longa. Ultrapassado? Precisa respeitar. Desde que a gente conhece o Felipão, quando surgiu no Criciúma, ele faz isso. Expectativa é, mas o jeito de jogar não cabe nisso. O Felipão é um cara que se preserva e sai”, observa.

Além disso, o treinador critica quem vai ao Velho Continente para curtos períodos de observação. “Fala-se muito em ir à Europa? Ficar uma semana, 15 dias lá, vai aprender o quê? Vai precisar de um ano, como o Tite fez. Isso, sim, te dá crescimento.”

Sérgio Soares dividiu a sala de aula na Granja Comary para ter a Licença PRO com os últimos três treinadores da Seleção Brasileira, Tite, Dunga e Mano Menezes, além de outros grandes, como Vagner Mancini, Ney Franco, Marcelo Chamusca, Roger, Eduardo Baptista e André Jardine. “Caras da nova e velha guarda, todo mundo conversando para melhorar, reciclar e saber que o futebol teve mudança, ficou mais rápido. Então, tem que criar situações para agredir adversário, que se recompõe mais rápido. Não se pode ficar penteando muito a bola, a transição tem de ser rápida. Fui teimoso, falei para os caras que do jeito que a gente está jogando não dá, que precisamos volta a atacar. Se for melhor que eu e se impor, vai vencer. Falo o que acredito”, defende.




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