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Piscinões são insuficientes para solucionar enchentes

Especialistas cobram obras complementares aos reservatórios, como ampliação de galerias e áreas verdes

Aline Melo
18/03/2019 | 07:15
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Denis Maciel/DGABC


O Grande ABC viveu na última semana os efeitos de uma das maiores enchentes já ocorridas na região. Na noite de domingo e madrugada de segunda-feira, a forte chuva provocou alagamentos em todas as cidades, dez mortes e prejuízos da ordem de R$ 1,6 bilhão. Na tentativa de mitigar este problema, os prefeitos voltaram a discutir com o governo estadual, após dez anos, a construção do piscinão Jabotical em área entre São Bernardo, São Caetano e São Paulo. Santo André também tem projeto para equipamento, que vai se somar aos 20 que já existem no Grande ABC. Na avaliação de especialistas, no entanto, apenas construir novos reservatórios para armazenar água pluvial não é suficiente para acabar com o problema das cheias.

O especialista em recursos hídricos e saneamento Júlio Cerqueira César Neto foi taxativo ao avaliar a eficácia dos piscinões. “Absolutamente não são (eficientes). Estão sendo usados há 25 anos como solução para enchentes, quando deveria ser investido na ampliação da capacidade do sistema de drenagem urbana”, afirmou. Segundo o especialista, as galerias, córregos e rios não têm capacidade para receber o volume de água. “Não adianta ter o reservatório, se a via por onde a água chega não dá conta”, citou.

César Neto afirmou que a Bacia do Tamanduateí tem capacidade para receber de 470 m³ por segundo a 480 m³/s de água, mas em situações de chuvas fortes, a vazão chega a 850 m³/s. “É preciso aumentar a área dos rios, seja com desapropriação ou com retirada de imóveis. As prefeituras têm de enfrentar esta questão”, concluiu.

O professor de engenharia hídrica da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Eduardo Giansante, avaliou que o modelo de enfrentamento às enchentes com piscinões está se mostrando insuficiente e que é preciso a adoção de outras medidas. “Os responsáveis por impermeabilizar grandes áreas, com construção de supermercados, por exemplo, deveriam compensar com áreas verdes e permeáveis”, exemplificou. Giansante ponderou que ainda que a chuva que atingiu a região tenha sido mais intensa do que era esperado, a falta de áreas permeáveis, onde a água possa infiltrar, potencializou os estragos.

O professor citou ainda que as obras devem considerar as cidades como um todo, com mapeamento e manutenção de galerias pluviais. “Poucos municípios têm plantas dessas redes, porque elas foram sendo construídas e a urbanização seguiu acelerada, sem que houvesse atualização”, citou. Quanto aos rios, Giansante afirmou que “áreas indevidas foram ocupadas e sempre que chove, o rio retoma o seu espaço.”

O Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), responsável por 19 dos 20 reservatórios da região, informou que a limpeza é feita de uma a duas vezes por ano nos períodos de estiagem, e repetidas, se necessário, após as chuvas. Negou falhas nos equipamentos na última chuva e destacou que a região registrou, em sete horas, 83% da precipitação esperada para um mês.

Entorno de equipamentos são áreas mais afetadas

A construção do piscinão Mercedes/Pauliceia, em São Bernardo, parecia a solução para os problemas de enchente nas ruas vizinhas ao equipamento. “Por cinco anos foi assim. mas dessa última vez, a água subiu dois metros”, lamentou a doméstica Maria de Lourdes Oliveira, 67 anos, que passou a madrugada de domingo para segunda-feira com o filho, na lavanderia, na parte superior da casa na Rua São José. “Perdi tudo. Não sobrou nada”, contou, sem conter as lágrimas. Na Rua Giacomo Gobato, a dona de casa Rosângela de Fátima Barrete, 59, perdeu além de bens materiais, a cachorra Mel, 4 anos. “Minha neta olha as fotos dela no celular e chora”, contou.

Na Vila Orlandina, também em São Bernardo, o transbordamento do piscinão da Vila Vivaldi inundou as casas da Rua Guilherme de Almeida. “A gente sempre ouvia as bombas funcionando, mas dessa vez, não ouvimos como antes”, afirmou o casal Marli Turossi, 56, e Sergio Turossi, 60, que mora em frente ao equipamento. “Se pudesse, vendia a casa e saía daqui. Mas, depois disso, vai ser difícil”, pontuou Marli. 

Sete ruas do bairro ficaram mais de 48 horas alagadas. As bombas da estação elevatória Jardim Helena não funcionaram, após o gerador queimar, o que agravou a enchente na região. A Prefeitura de São Bernardo informou que está verificando se existem novas tecnologias de bombeamento para adaptar ao sistema. “Está sendo realizada a manutenção das bombas, painel e gerador do local”, relatou em nota. 




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