Economia Titulo No Grande ABC
Setor automotivo perde participação no PIB

Representação automobilística caiu de 28%, em 2006, para os atuais 24% na geração de riquezas da região

Yara Ferraz
do Diário do Grande ABC
03/03/2019 | 07:17
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André Henriques/DGABC


A crise econômica, que afetou todo o País, principalmente a partir de 2014, impactou mais no Grande ABC. No período entre 2006 e 2016, o PIB (Produto Interno Bruto) regional despencou 12%. Se for considerado somente o setor industrial, principal pilar do desenvolvimento da região, a queda foi ainda maior, de 43%. A estimativa é a de que o setor automotivo também tenha reduzido a participação no total da região, de 28% em 2006, para 24% atualmente.

Considerando os valores deflacionados, a geração de riquezas da região passou de R$ 127,2 bilhões para R$ 112,04 bilhões, perda de praticamente R$ 15 bilhões. No caso da indústria, o dado passou de R$ 42,2 bilhões para R$ 24, 2 bilhões, ou seja, reduzido a praticamente a metade.

Os dados foram levantados em estudo do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), com base nas informações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

De acordo com o economista e professor convidado da USCS Luis Carlos Burbano Zambrano, responsável pelo levantamento, a dependência da região – que atualmente concentra seis montadoras – do setor automobilístico derrubou os índices regionais, que caíram em ritmo quatro vezes maior do que os dados nacionais, principalmente no auge da crise (veja mais na arte acima). “Qualquer problema na economia nacional sempre vai ter impacto maior no Grande ABC por conta da matriz econômica estar concentrada no setor automobilístico. E temos que destacar que o segmento sofre fortes transformações globais”, disse,

Com base nos dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), levantados pelo especialista, o número de empregos formais no setor automotivo também despencou na década. A indústria mantinha 222,5 mil trabalhadores em 2006 e, deste total, 62,6 mil eram empregados na fabricação de veículos. Dez anos depois, o número de funcionários da indústria da região caiu 22,2%, para 173,5 mil, e o da indústria automobilística teve redução ainda maior, de 31,7%, com 42,7 mil empregados.

“Houve uma queda no consumo, por conta da redução da capacidade de compra das famílias, causada pelo aumento do desemprego. E obviamente isso gerou queda na compra de veículos, já que a prioridade passa a ser compras necessárias, como alimentação. Tivemos um endividamento e agora ainda passamos por redução da exportação de veículos, efeito da crise na Argentina. Por tudo isso, acabamos sendo muito mais atingidos como região”, analisou Zambrano.

Mesmo com a perda da participação no PIB do setor, o professor coordenador do Conjuscs Jefferson José da Conceição se diz otimista. “Não vejo como um setor da ferrugem e do passado. Ele tem potencial para nos conectar com o futuro, por meio de novas tecnologias, pesquisa/desenvolvimento e inovação e conexão com as universidades e escolas técnicas. O que está faltando é uma política regional e estadual que unifique os esforços”, afirmou.

Para especialista, modernização é necessária

Para que as constantes quedas na geração de riqueza do Grande ABC parem de acontecer com o decorrer dos anos é necessário que o modelo de indústria seja reinventado. De acordo com o professor universitário Luis Carlos Burbano, responsável pelo estudo, a inovação precisa ser principalmente no setor automotivo, para que a região não se transforme em local de plantas fabris vazias. O anúncio de fechamento da unidade da Ford na região agrava ainda mais o cenário.

“Temos que repensar este modelo de desenvolvimento, que é a nossa liderança regional. Não dá para continuar fazendo o mesmo que era feito há dez anos ou mais. Precisamos de uma grande inovação na nossa indústria. A economia está crescendo a pouco mais de 1%, e a expectativa é a de que todo o País cresça 2% em 2019, ou seja, a recuperação está muito lenta, o que dificulta ainda mais a situação”, explicou o especialista.

O anúncio do fechamento da planta da Ford, em São Bernardo, cidade que concentra cinco das seis montadoras do Grande ABC, feita pela própria empresa há duas semanas, também preocupa. A companhia norte-americana anunciou que vai deixar de atuar no segmento de caminhões na América do Sul, o que inviabiliza a continuidade da unidade, que mantém 2.800 funcionários diretos e produz três modelos de pesados, além do automóvel New Fiesta, que também deixará de ser produzido.

“O impacto imediato será nos empregos, e isso deve se reproduzir em toda a cadeia, podendo superar até 20 mil postos. Com o desemprego, a demanda cai, o que também se reflete no consumo. A estimativa é a de que, se de fato a Ford fechar, o impacto seja de 1% a 2% no crescimento do PIB no Grande ABC. Ou seja, se esse índice fosse crescer 4%, sem a Ford vai crescer 3%”, afirmou Zambrano.

O especialista também citou o programa do governo federal Rota 2030, aprovado no fim de 2018 pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), e destinado ao incentivo do setor automotivo.

“Muitas mudanças tecnológicas devem ser feitas para se adequar ao programa. Em relação ao próprio mercado mundial, não está se falando mais dos veículos a combustão, mas sim dos autônomos e elétricos. Isso sem falar na própria demanda dos veículos compartilhados, já que muitas pessoas não querem mais comprar automóveis. Temos que refletir sobre modelo de desenvolvimento para esse tipo de mercado. Se isso não acontecer, corremos o risco de virar outra Detroit”, afirmou o especialista.

INVESTIMENTOS
Algumas empresas já estão se adequando a estas demandas de mercado. Entre os exemplos está a montadora japonesa Toyota, que testa modelo de car sharing, ou seja, compartilhamento de veículo, dentro da fábrica de São Bernardo. Inicialmente em projeto piloto, a empresa disponibilizou modelos de veículos para serem alugados a funcionários por determinadas horas ou dias. A ideia é que a iniciativa possa ser expandida.

Em relação a investimentos, na última semana a Mercedes-Benz inaugurou linha de montagem de cabinas de caminhões na fábrica de São Bernardo, que custou R$ 100 milhões e segue os conceitos da indústria 4.0, com mais tecnologia e conectividade. O aporte está dentro de valores anunciados em março do ano passado pela empresa, de R$ 2,4 bilhões, que serão investidos na planta até 2022.

Em agosto do ano passado, a Scania também inaugurou fábrica 4.0, que integra o parque industrial em São Bernardo. A unidade fabril para solda a laser de 19 modelos de cabinas foi a primeira do País e está localizada em área de 13 mil m². O investimento foi de R$ 340 milhões. Concebida para produzir a nova geração de caminhões da companhia, a capacidade de produção é de até 25 mil cabinas por ano.  




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