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Deputado federal custa mais de R$ 88 mil por mês
Murilo Murça de Carvalho
e Ginny Carla Morais
Correspondentes em Brasília
28/05/2005 | 07:25
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Do orçamento de R$ 2,4 bilhões da Câmara dos Deputados para este ano, R$ 103,8 milhões irão diretamente para o bolso dos 513 deputados, se somados os salários mensais de R$ 12.847, mais o auxílio moradia de R$ 3.000.

Eles ainda embolsarão R$ 92,16 milhões em verbas indenizatórias para cobrir gastos como material de expediente, gasolina, aluguel de escritórios em suas cidades de origem, consultorias etc.

As verbas para manutenção de gabinetes, R$ 45 mil para cada deputado, somarão ao final do ano R$ 276,48 milhões e mais R$ 92,1 milhões em passagens aéreas, correio e telefone. Ao final, cada deputado custa aos cofres públicos R$ 88.312,75 por mês.

Isto sem contar os gastos cobertos pelo orçamento global da Câmara - como luz, água, café e açúcar, o salário dos funcionários de carreira, reforma e manutenção de instalações, além de jardinagem, limpeza de piscina e um sem número de gastos. E um número incontrolado de viagens nacionais e internacionais, cobertas com dinheiro público.

Não há qualquer auditoria ou questionamento para os gastos com "verbas indenizatórias", o que tem levantado suspeitas sobre a verdadeira destinação dos R$ 15 mil mensais, que podem ser distribuídos ao longo de um semestre, até o limite de R$ 90 mil.

Tomando por base a maior bancada na Câmara, os 70 deputados de São Paulo já receberam, nos primeiros quatro meses do ano, verbas indenizatórias no valor de R$ 3,95 milhões, com gasto médio de R$ 56.452,86. Vale lembrar que o ano legislativo começou no dia 15 de fevereiro, depois do recesso de final de ano.

Na bancada paulista, o campeão em recuperação de gastos, de janeiro a abril, foi o deputado Neuton Lima, do PTB, com R$ 74.866, seguido por José Mentor (PT), com R$ 73.820,25; Paulo Lima (PMDB) com R$ 73.086,94; e Marcelo Ortiz (PV) com R$ 72.570,17. Chico Sardelli, do PFL, tomou posse no dia 28 de abril e, em apenas dois dias, pediu indenização de R$ 532,23, gastos, segundo seu gabinete, com gasolina.

O deputado paulista que menos gastou no primeiro quadrimestre deste ano foi o ex-presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT), apenas R$ 22.125,22. Mas há que se dar o desconto que, nos primeiros dois meses do ano, quando ainda era presidente da Câmara, morava na residência oficial, com todos as despesas pagas, e a maior parte dos gastos cobertos pelo orçamento do gabinete da Presidência da Câmara.

Privilégio que agora cabe a Severino Cavalcanti (PP/PE), o que aparentemente arrefeceu seu ímpeto em equiparar o salário dos deputados com os dos ministros do Supremo Tribunal Federal, de mais de R$ 19 mil. Severino prometeu, no entanto, derrubar o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao aumento de 15% dado aos funcionários do Congresso e do Tribunal de Contas da União, mesmo sabendo que um motorista da Câmara pode ganhar R$ 12 mil.

Campeões - Por setor de gastos indenizados pelos cofres públicos, os campeões dos primeiros quatro meses do ano foram o presidente do PL, deputado Valdemar da Costa Neto, que gastou R$ 49.807,76 com aluguel e manutenção de escritório regional; Paulo Lima (PMDB), com R$ 21.400 em material de expediente; Jamil Murad (PC do B) com R$14.391,44 em TV a cabo, revistas, jornais, internet e correspondências; Vicente Cascione (PTB) com R$ 52.554,08 em combustível para carro, sendo R$ 19.916 só em janeiro, quando a casa estava em recesso.

José Mentor (PT) alegou gastos de R$ 47.300 com consultorias e Marcos Abramo (PFL) R$ 46.240,00 com divulgação parlamentar. O campeão geral, Neuton Lima, também foi o que mais gastou com locomoção, hospedagem e alimentação, R$ 55.526,78, e Vadão Gomes (PP) foi indenizado em R$ 22.042,61, gastos com combustível para aeronaves.

Paulo Lima, terceiro colocado em maiores gastos, usou, em um único mês, R$ 10.400 em "material de expediente". Em tese, suficientes, por exemplo, para comprar 52 mil folhas de papel ofício ou mais de 20 mil canetas. No quadrimestre, o gasto com esse tipo de material foi de R$ 21.400.

O deputado Vanderlei Assis, do PP, consumiu no mês de março R$ 16.309,65 em combustível para carro, ou seja, 7.092 litros de gasolina a R$ 2,30 o litro, o que daria para rodar cerca de 90 mil quilômetros em um carro econômico. Com consumo médio de 13 km por litro, esse carro teria que rodar ininterruptamente o mês de março todo e ainda precisaria rodar mais umas 200 horas em abril para gastar todo o combustível. Se fosse possível, teria dado pouco mais de duas voltas na terra.




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