A Guarda Nacional Bolivariana revistou os celulares dos 152 brasileiros autorizados a cruzar a fronteira num acordo entre Venezuela e Brasil. A fronteira está fechada desde quinta-feira. Segundo relataram ao Estado, os brasileiros foram obrigados a descer dos carros e entregar telefones para a checagem dos soldados, que buscavam registros dos conflitos de pessoas em situação miserável, efeito da crise econômica. Outros turistas que haviam chegado antes tiveram de ouvir discurso político com elogios a Nicolás Maduro feito por militares.
"Fomos orientados a não fotografar nada e a apagar o que tivéssemos gravado", disse a servidora pública Adriana Brum, de 32 anos. "Revistaram celular, mochila, tudo. O grupo anterior teve de ouvir um general fazer uma palestra enaltecendo Maduro", afirmou a atuária Francieli Cruz, de 27 anos.
Adriana e Francieli faziam parte de uma expedição ao Monte Roraima. A caminhada durou sete dias, sem que recebessem qualquer informação sobre os confrontos. Elas se assustaram quando chegaram à cidade venezuelana de Santa Elena de Uairén e viram caminhões queimados, marcas de bala nas paredes das casas e o comércio fechado.
"Havia um toque de recolher. Os guias nos diziam que o Exército era muito violento. E até entendermos que os milicianos estavam junto dos militares, contra o povo, demorou. Ficamos com medo do Estado venezuelano. Está muito pior do que aparenta. O povo está desesperado, aguardando intervenção. É ditadura mesmo. Não temos noção no Brasil do que é esse cerceamento. E olha que sofremos só por umas 30 horas", relata Adriana. "Ficamos com medo do risco iminente de intervenção militar estrangeira. Se tivesse, não teríamos saído de lá tão cedo", afirma Francieli.
Os relatos se contrapõem ao esforço midiático do regime de Maduro para tentar passar a sensação de normalidade no país, apesar dos confrontos entre militares e milicianos com os opositores, dentro da Venezuela e nas fronteiras com o Brasil e a Colômbia.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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