Economia Titulo Montadora anunciou saída de S.Bernardo
Se Ford mantiver decisão, mercado não reabsorve trabalhadores, diz sindicato

Ao todo, são 4.300 profissionais com emprego em risco na fábrica de São Bernardo

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
20/02/2019 | 12:07
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Nario Barbosa/DGABC


Caso a Ford não recue, e mantenha a decisão de fechar fábrica em São Bernardo em novembro, o mercado não conseguirá reabsorver trabalhadores, afirma o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão.

Somente o chão de fábrica emprega hoje cerca de 2.000 operários, além de 800 das áreas administrativa e de manufatura. Somados aos 1.400 terceirizados diretos, se tem 4.300 profissionais com emprego em risco. “Na prática, estão todos demitidos, só que no longo prazo, por conta da estabilidade prevista no acordo coletivo até novembro, o que só aumenta a agonia”, disse Wagnão, em frente à portaria 18 da Ford, ao reforçar que o impacto em todo o País pode chegar a 27 mil trabalhadores, considerando toda a cadeia automotiva, desde os fabricantes de autopeças até as concessionárias.

“O mercado não deve absorver esse contingente de trabalhadores. As montadoras estão no limite de contratação para este ano e o ano que vem, uma vez que elas estão aumentando reduzindo a ociosidade e aumentando o volume de produção com o contingente de operários que elas já têm”, afirmou. Um profissional que perde o emprego leva, em média, 50 semanas para se recolocar no mercado de trabalho, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). “Imagina um trabalhador sequelado, que tem problema nos ombros, nos braços, na coluna. Parte deles às vésperas de se aposentar, com 45 ou 50 anos. Não serão absorvidos”, sentenciou.

Outro impeditivo citado pelo sindicalista é a média salarial do empregado da Ford na região, que gira em torno de R$ 6.000. “Com certeza, o salário oferecido seria até 60% menor. Não há mercado de trabalho à disposição a esses profissionais.”

No entanto, Wagnão assinalou acreditar na reversão da decisão da Ford, “senão estaríamos discutindo agora PDV (Programa de Demissão Voluntária)”. “Não aceitamos nem acreditamos nessa decisão. Muitos dedicaram a vida a produzir patrimônio da Ford”, disse. Hoje, a montadora detém 28% do segmento semi-leve (caminhões pequenos) – três anos atrás eram 41%, mas, segundo ele, ainda é fatia representativa. “Se a montadora quer vender no Brasil, ela tem de produzir no Brasil. Não adianta enxergar o País somente como mercado consumidor sem fabricar aqui. Isso nós não vamos aceitar.” Hoje, a Turquia, além do Brasil, produz caminhões.

Desde a madrugada de hoje, cerca de 80 profissionais fazem vigília em frente à portaria 18 da Ford, a fim de impedir que alguém tentasse entrar na fábrica. Em torno de 30 ônibus passaram pelo local, vazios, e apenas fizeram retorno em frente à planta. De acordo com o diretor do sindicato José Quixabeira de Anchieta, o Paraíba, que também é coordenador geral do CSE (Comitê Sindical de Empresa), ninguém passaria. “Só entram guardas, bombeiros e jovens aprendizes”, afirmou. “Quanto aos executivos, só gerente e diretor. Só quem tem um D, de designado. Nem supervisor entra.”

Paraíba reforçou aos colaboradores em vigília que é preciso ter controle emocional e que eles não se exponham. Até terça-feira que vem, a orientação do sindicato é que eles fiquem em casa. Nesse dia, haverá assembleia no mesmo lugar, às 7h, para definir novos encaminhamentos.

Saída - Depois de 51 anos em São Bernardo, a Ford anunciou ontem que irá encerrar a produção de veículos na cidade ainda em 2019. A planta da região fabrica caminhões das linhas Cargo, F-4000 e F-350, além do New Fiesta e, segundo a montadora, os modelos deixarão de ser comercializados assim que terminarem os estoques. O motivo apontado para o fim das operações na cidade, no ano em que a Ford celebra 100 anos no Brasil, é a decisão global de reestruturação que deixará de atuar no segmento de caminhões na América do Sul.

Veja o pronunciamento do presidente da Ford, Lyle Watters sobre os motivos que levaram à decisão do fechamento da fábrica na região.

Crédito: Comunicação da Ford




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