Economia Titulo Após ameaçar sair do País
GM cogita novo ciclo de investimentos em S.Caetano, mas pede contrapartidas

Montadora diz que negociações com governos e sindicatos podem reverter situação

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
22/01/2019 | 07:21
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Yara Ferraz/DGABC


Atualizada às 15h37

Durante a manhã, os prefeitos de São Caetano, José Auricchio Júnior (PSDB), e de São José dos Campos, Felicio Ramuth (PSDB), se reuniram na cidade do Interior de São Paulo com diretores da GM (General Motors)  e representantes dos sindicatos dos dois municípios para definir o futuro das atividades da montadora norte-americana no País.

O encontro, ao qual a imprensa não teve acesso, aconteceu após declarações recentes d
a presidente global da empresa norte-americana, Mary Barra, que levantaram a possibilidade de fechamento da operação na América Latina – Argentina e Brasil. Após a conversa, a montadora garantiu que irá negociar junto aos envolvidos a possibilidade de um novo ciclo de investimentos a partir de 2021, o que dependerá das contrapartidas de governos, sindicatos e do restante da cadeia. 

De acordo com Auricchio, a diretoria da GM cogitou novo ciclo de investimentos, a fim de dar continuidade ao programa vigente, que teve início em 2014 e se estenderá até 2020, de injeção de R$ 13 bilhões nas operações brasileiras, sendo R$ 1,2 bilhão na planta de São Caetano. No entanto, a decisão dependerá do que for negociado especialmente junto aos governos. “Os quatro pilares (Estado e prefeituras, sindicatos, concessionárias e fornecedores) vão trabalhar de forma harmônica para que os investimentos sejam garantidos. O primeiro pleito é a questão tributária, junto ao governo do Estado, o que já está bem adiantado (o prefeito de São José já teve algumas reuniões com a esfera)”, afirmou.

Ele disse ter saído da reunião esperançoso, mas não aliviado, uma vez que a GM não detalhou quais serão seus pedidos junto às prefeituras. “Não saio mais tranquilo, mas saio otimista. Acredito que todos os atores entenderam a gravidade da situação e, dentro do possível, cada um vai fazer sua parte."

Se houver novo ciclo de investimentos, Auricchio estima que isso represente uma garantia de pelo menos mais dez anos de funcionamento da planta da região. Ele lembrou que é esperado para dezembro o início da produção de modelo de SUV, que segundo o mercado deverá ser o Tracker, hoje importado do México. 

O presidente do sindicato de São Caetano, Aparecido Inácio da Silva, o Cidão, contou que uma nova reunião junto à montadora foi marcada para amanhã, em São Caetano. A ideia é que a empresa detalhe o plano e alguma contrapartida dos trabalhadores. “A reestruturação da montadora já causou fechamentos de plantas em outros locais. Não queremos que isso aconteça aqui, mas também não vamos aceitar a retirada de direitos dos trabalhadores”, avisou.

 

Veja o que Auricchio disse após a reunião:

 

 

REPERCUSSÃO

Entidades representantes das centrais sindicais dos metalúrgicos reagiram na segunda-feira (21), em comunicado conjunto, ao dizer que os trabalhadores não podem “pagar o pato”. A nota foi assinada pelo presidente do SMABC (Sindicato dos Metalúrgicos do ABC), Wagner Santana, o Wagnão, e o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, Aparecido Inácio da Silva, o Cidão. Junto aos representantes da região aparecem os presidentes da CNTM (Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos), Miguel Torres, da CNM (Confederação Nacional dos Metalúrgicos), Paulo Cayres, entre outras entidades.

Conforme o texto, o comunicado assinado pelo presidente da GM no Mercosul, Carlos Zarlenga, e distribuído aos funcionários na sexta-feira com citações de Mary, alegando que a situação da empresa é crítica, naturalmente gera apreensão. Eles apontam, porém, que a direção “contradiz com a realidade, visto que a GM anunciou lucro global superior a US$ 2,5 bilhões, o equivalente a R$ 10 bilhões, no último trimestre, e é líder de vendas na região (América do Sul).”

Em 2018, o Onix – que tem sua versão de entrada fabricada em São Caetano – foi o carro mais vendido do Brasil pelo quarto ano consecutivo. Dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) mostram que foram emplacadas 210.458 unidades em 2018. O número, superior à soma das vendas do segundo e terceiro colocados, o Hyundai HB20 (105.506) e o Ford Ka (103.286), garante a liderança isolada ao veículo da GM.

De acordo com o documento dos sindicalistas, a empresa aproveita o momento para fazer uma reestruturação, com demissões e fechamento de plantas, como algumas já anunciadas nos Estados Unidos e no Canadá. “Os trabalhadores não podem mais uma vez pagar o pato. Repudiamos esta possibilidade de paralisação da produção no Brasil e na América Latina, e também que nos sejam exigidos mais sacrifícios, como diz o comunicado da empresa, já que foram feitas várias concessões à GM e a empresa sempre querendo mais.” A nota ressaltou ainda que as entidades não aceitam que a situação seja utilizada para reduzir direitos, anunciar demissões ou fechar fábricas.

Cidão afirmou que o intuito é fazer o possível para manter a planta em São Caetano e os empregos – hoje 8.500. “Não fazemos a mínima ideia do que eles vão nos propor lá, mas imagino que seja alguma flexibilização até entre a concessionária e o fornecedor. Vamos analisar o que será proposto para definir se é possível ou não (fazer alguma concessão). Da nossa parte, vamos fazer o que estiver em nosso alcance para manter a fábrica aqui, mas não podemos entregar ou perder direitos”, disse.

O coordenador de MBA em gestão estratégica de empresas da cadeia automotiva da FGV, Antonio Jorge Martins, destacou que a montadora é uma das que mais tiram proveito do mercado brasileiro, mas que ela também enfrenta mudanças significativas. “Quando a GM se instalou aqui (1930) não havia uma concorrência acirrada, e a busca de maior competitividade não era foco das empresas. A estratégia era diferente do que existe hoje em dia. Além disso, havia outro modelo de mercado, que exigia que você lançasse novos produtos a cada seis anos. Hoje, isso precisa ser feito no máximo a cada dois anos, como forma de sobrevivência. Consequentemente, a empresa também precisa investir em menor prazo.”




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