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Política para a paz
Dom Pedro Cipollini
07/01/2019 | 07:07
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Ninguém duvida da necessidade que temos de paz. Paz que não é ausência de conflitos inerentes à vida cotidiana, mas é esperança de caminhar confiante na realização da própria vida. O papa Francisco escreveu uma mensagem para o Dia Mundial da Paz no primeiro dia deste ano. Comento aqui alguns tópicos.

Jesus, ao enviar em missão seus discípulos, disse-lhes: “Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’” (Lc 10, 5-6). Oferecer a paz está no coração da missão dos discípulos de Cristo. E esta oferta é feita a todos os homens e mulheres que, no meio dos dramas e violências da vida, apostam na paz. A ‘casa’, de que fala Jesus, é cada família, comunidade, país. Antes de mais nada, é cada pessoa.

Existe um instrumento para construir a paz e que chamamos de política. Ela é um meio fundamental para construir cidadania e as obras do homem, mas, quando aqueles que a exercem não a vivem como serviço à coletividade humana, pode tornar-se instrumento de opressão, marginalização e até destruição.

O papa Francisco assinala que somente é bom político quem serve aos interesses da população. Tomar a sério a política, nos seus diversos níveis – local, regional, nacional e mundial – é afirmar o dever do homem, de todos os homens, para procurarem realizar juntos o bem da cidade, da nação e da humanidade.

E isso é caridade! A função e a responsabilidade política são desafios permanentes para todos que recebem o mandato de servir o seu país, proteger as pessoas que habitam nele, trabalhar para criar condições de um futuro digno e justo, onde se respeita a vida e dignidade de cada um.

Todas as pessoas, em especial os cristãos, são chamadas a esta ‘caridade política’. Quando o empenho pelo bem comum é animado pela caridade, tem uma valência superior à do empenho simplesmente secular, do político profissional. A ação política que se inspira na caridade é um programa no qual se podem reconhecer todos os políticos honestos, de qualquer afiliação cultural ou religiosa, que desejam trabalhar juntos para o bem da família humana. A política exercida na caridade pratica as virtudes humanas que caracterizam uma boa ação política: a justiça, a equidade, o respeito mútuo, a sinceridade, a honestidade, a fidelidade.

A propósito, vale a pena recordar as ‘bem-aventuranças do político’, propostas por uma testemunha fiel do Evangelho, o cardeal vietnamita Francisco Xavier Nguyen Van Thuan, falecido em 2002:

“Bem-aventurado o político que tem uma alta noção e uma profunda consciência do seu papel. Bem-aventurado o político de cuja pessoa irradia a credibilidade. Bem-aventurado o político que trabalha para o bem comum e não para os próprios interesses. Bem-aventurado o político que permanece fielmente coerente. Bem-aventurado o político que realiza a unidade. Bem-aventurado o político que está comprometido na realização duma mudança radical. Bem-aventurado o político que sabe escutar. Bem-aventurado o político que não tem medo.”

Cada renovação nos cargos eletivos, cada período eleitoral, cada etapa da vida pública constituem uma oportunidade para voltar à fonte e às referências que inspiram a justiça e o direito. Duma coisa temos a certeza: a boa política está ao serviço da paz; respeita e promove os direitos humanos fundamentais e é exercida como caridade, ou seja, um modo de praticar o bem.

A par das virtudes, não faltam infelizmente os vícios na política. Esses vícios enfraquecem a vida democrática autêntica, são a vergonha da vida pública e colocam em perigo a paz social: a corrupção, a negação do direito, a falta de respeito pelas regras comunitárias, o enriquecimento ilegal, a tendência a perpetuar-se no poder... A paz é fruto de um grande projeto político, que se baseia na responsabilidade e na solidariedade. Mas é também desafio que requer ser abraçado cada dia. A paz é uma conversão do coração e da alma.

Fazemos votos que o novo governo, que tomou posse no início deste mês, possa governar nosso País, com base na política inspirada na ‘caridade’ como Jesus ensinou, e não na ganância e submissão ao poder econômico em desprezo às pessoas.

Só assim construiremos a paz. 




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