ABC da Economia Titulo ABC da Economia
Desigualdade racial e mercado de trabalho
Jefferson José da Conceição, professor coordenador, e por Gisele Yamauchi e Vânia Viana, pesquisadoras do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano)
28/12/2018 | 07:21
Compartilhar notícia


A desigualdade racial foi uma vez mais objeto da Pesquisa Seade/Dieese. O relatório de 2018, intitulado ‘Os Negros no Mercado de Trabalho da Região Metropolitana de São Paulo’ (que inclui o Grande ABC), atualizou os indicadores sobre o tema. Com base nele, produzimos algumas considerações em nota publicada no Observatório da USCS.

Verificando-se a distribuição dos ocupados por vínculos de emprego e raça/cor, nos últimos 15 anos, constata-se a desigualdade entre negros e não negros no mercado de trabalho.

Entre 2004 e 2014, houve melhoria no processo de formalização de todos os trabalhadores em geral, negros e não negros. O percentual de negros em ocupações com relações formalizadas subiu de 50,7% para 66,1%, enquanto o percentual de não negros aumentou de 51,8% para 64,7%. Já o percentual de negros em ocupações sem relação formalizadas caiu de 44,3% para 27,9%, ao passo em que o percentual de não negros diminuiu de 35,4% para 23,9%.

A informalização, em 2014, foi maior entre os negros (27,9%) em relação aos não negros (23,9%). Mas a desigualdade foi menor do que em 2004, quando 44,3% dos negros estavam informalizados, contra 35,4% dos não negros. É provável que esta melhora guarde relação com forte crescimento do período, assim como as políticas afirmativas implementadas.

Entre 2014 e 2018, o quadro se inverte. Há piora na situação de enquadramento de todos os trabalhadores, negros e não negros, mas esta piora é ainda mais aguda para os negros.

O percentual de negros em ocupações formalizadas caiu de 66,1% para 64,1%, enquanto o percentual de não negros diminuiu de 64,7% para 63,7%. Já o percentual de negros em ocupações não formalizadas aumentou de 27,9% para 28,7%, ao passo em que o percentual de não negros manteve-se sem variação em 23,9%.

Um ponto de destaque é o dos autônomos para o público em geral sem contribuição à Previdência Social. O crescimento econômico do período 2004-2014 refletiu-se na queda desse tipo de ocupação, tanto para os negros (cujo percentual caiu de 10,7% em 2004 para 7,8% em 2014), quanto para não negros (cujo percentual reduziu de 8,1% para 6,5%). O percentual dos trabalhadores negros sem contribuição à Previdência é maior que o dos trabalhadores não negros.

A piora do quadro econômico a partir de 2014 fez com que o percentual dos autônomos para o público em geral sem contribuição à Previdência Social voltasse a subir: entre os negros o percentual passou de 7,8%, em 2014, para 10,4%, em 2018 (variação de 2,6 pontos percentuais); entre os não negros, de 6,5%, em 2014, para 8,2%, em 2018 (variação de 1,7 pontos percentuais).

A respeito das trabalhadoras domésticas (a quase totalidade da categoria no Brasil é constituída de mulheres), os percentuais evidenciam um quadro de bastante movimento neste mercado, especialmente no caso das trabalhadoras negras.

Entre 2004 e 2014, o percentual das empregadas domésticas mensalistas negras com carteira de trabalho assinada caiu de 4,8% para 4,1% e também das empregadas domésticas mensalistas negras sem carteira, de 6% para 2%. Dois fatores pesaram nestas reduções: o crescimento econômico do período, que levou à busca de oportunidades fora do emprego doméstico; a aprovação e entrada em vigor da lei número 150, de 1º de junho de 2015, que ampliou os direitos da empregada doméstica, como a obrigatoriedade do FGTS, levando um grande número de empregadores a optarem pela contratação da empregada doméstica como diarista. Observa-se, entre 2004 e 2014, elevação das empregadas domésticos diaristas negras.

Entre 2004 a 2014, os movimentos entre as empregadas domésticas não negras são mais suaves. O percentual das empregadas domésticas mensalistas com carteira não negras sobe de 1,8% para 2%; o das empregadas domésticas mensalistas sem carteira não negras cai de 2,9% para 1,1%; o percentual das empregadas domésticas diaristas sobe de 1,4% em 2004 para 2% em 2014.

Entre 2014 e 2018, o que se percebe é o aumento do percentual de trabalhadoras diaristas negras: de 3,3%, em 2014, para 3,9%, em 2018, e também se eleva o percentual de domésticas diaristas não negras, de 2% para 2,1%. Pode-se levantar a hipótese de que parte das trabalhadoras que saíram do mercado doméstico no período de crescimento econômico está voltando na condição de empregadas domésticas diaristas (sem carteira). 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;