Crise e mudanças de comportamento faz região perder 295 comércios de livros em cinco anos
Nos últimos cinco anos, no Grande ABC, 295 instituições do segmento de comércio varejista de livros fecharam as portas. Apesar do número assustador, a região conta ainda, segundo o Sindicato do Comércio Varejista, com 655 empresas exercendo a atividade econômica de comércio de livros. Recentemente o País observa duas de suas maiores livrarias do País enfrentarem grandes problemas. No fim de outubro a Cultura pediu recuperação judicial (medida que, por intermédio da Justiça, tenta evitar a falência de uma empresa) e, poucos dias depois, a Saraiva anunciou o fechamento de 20 lojas.
Apesar do cenário de desvantagem, o mercado nacional de livros apontou crescimento nos últimos meses. A pesquisa Painel das Vendas de Livros no Brasil, realizada pelo SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros) em parceria com a Nielsen Bookscan Brasil, mostra que entre os dias 13 de agosto e 9 de setembro o faturamento com a venda de livros aumentou 5,37% na comparação com o mesmo período de 2017. O valor saltou de R$ 130.533.413,34 para R$ 137.542.821,45. Foram vendidos 3.421.616 exemplares em 2018, enquanto no ano anterior foram comercializados 3.546.497, o que representa alta de 3,65%.
Diante dos números positivos, como explicar o fechamento de tantas lojas? O professor e escritor Sérgio Simka acredita que a falta de interesse dos brasileiros pela leitura é um dos fatores principais. “A Cultura é tida pela maioria como algo inútil”, diz. Tanto é que a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de 2016, aponta que 44% da população não lê e 30% nunca compraram um livro. “Com o dinheiro minguando o povo prefere cortar gastos, e adivinhe o que não figurará na cesta básica? O livro”, observa.
Já para Felipe Pacobello, gerente dos sebos Pacobello, o crítico cenário se dá por conta do avanço da tecnologia, que permite a compra e leitura de livros on-line. “O fechamento dessas lojas, creio eu, trata-se de estratégia, visando reduzir o custo altíssimo de aluguéis e ampliar sua operação on-line”, comenta. Percebendo o cenário de mudança no hábito de consumo dos brasileiros, Pacobello investiu na venda de livros pela internet e, hoje, atende clientes em todo o Brasil e Exterior. “Por enquanto não fomos afetados por essa crise e não acho que isso aconteça”, acrescenta.
O proprietário da livraria andreense Alexandria Sebos, Alexandre Ribeiro, que também adotou a estratégia, acredita que o crescimento das vendas pela internet, bem como a leitura on-line, faz com que as pessoas percam o interesse pelas compras em lojas físicas. “Dessa forma perde-se o maravilhamento de encontrar algo, da liberdade de fuçar”, diz.
E é exatamente esse encantamento que chama a atenção do jornalista Thiago de Paula, 23 anos, que, mesmo com acesso às versões digitais das obras, prefere consumir livros físicos. “Eu gosto de tê-lo, sentir o papel na minha mão. É mais gostoso ler assim”, reflete. Ele diz ainda que, com o exemplar em mãos, é possível conseguir autógrafos de autores que admira. “Na versão digital isso não é possível”, inclui o mauaense, que costuma comprar livros de terror, suspense e fantasia nos sebos de Mauá e São Caetano.
A relação afetiva pelas obras físicas é explicação plausível daqueles que ainda não migraram, nem pretendem migrar para a leitura digital. “Sou dependente do livro físico, gosto de virar as páginas, sentir o cheiro. Não consigo ler em tablet, celular ou computador”, conta a diretora de teatro Andréa Weber.
São por esses e outros motivos que o mercado de livro digital no Brasil se mostra tímido e com pouco crescimento. Segundo o Censo do Livro Digital, divulgado no ano passado pela CBL (Câmara Brasileira do Livro) e pelo SNEL, ele representa 1,9% do faturamento total das editorias. Do total de 794 analisadas, apenas 294 disponibilizam e comercializam versões digitais das obras.
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