Como você viu, a atriz Cristiane Machado filmou as agressões físicas e psicológicas que sofreu do marido, o empresário Sérgio Thompson-Flores, e expôs no programa Fantástico, da Rede Globo, no domingo, dia 18 de novembro. Na última segunda-feira, dia 26, o ex-diplomata se entregou à polícia do Rio de Janeiro após diversas acusações feitas pela artista, como lesão corporal e tentativa de feminicídio. Ainda na segunda-feira, Cristiane foi ao Superpop, programa da Rede TV!, falar mais sobre os momentos abusivos que viveu o lado de Sérgio - e ainda fez relatos emocionantes e perturbadores sobre seu relacionamento com o gestor.

- A violência doméstica acontece entre quatro paredes, né? Com a pessoa que você pensa em construir uma vida, que eu chamava de príncipe encantado. E que eu esperei a vida inteira. E daqui a pouco a sua vida desmorona com agressões, até chegar a esse momento em que ele quase me matou. Então eu acho que eu ainda estou entendendo o que está acontecendo no meu coração. Mas acho que a gente não pode ficar preso em uma gaiola. Eu sempre fui uma mulher muito batalhadora. Meus pais são de família simples, meu pai é deficiente visual e minha mãe é deficiente física. Eu casei com o Sérgio no dia 7 de novembro no civil. Até então vivíamos muito bem. Ficamos juntos quase dois anos. Eu o conheci porque o Sérgio precisava de formadores de opiniões e atrizes para uma academia de ioga que ele tinha e ele me chamou para conhecer e divulgar. Eu estava fazendo trabalhos, novelas e nunca conseguia conciliar, e nisso acabou passando um ano. Ele voltou a me procurar, nós marcamos um jantar. Ele me dizia que era solteiro. O jantar foi para falar do trabalho em si. Aí você vai conversando com a pessoa, vendo afinidade, começamos a frequentar feirinhas de produtos orgânicos, cinema. E aí acabamos nos relacionando. Começamos a namorar em março, no dia 5 de agosto de 2017 ele me pediu em casamento. Foi uma paixão muito forte, encontrei o homem da minha vida. Eu queria viver tudo o que eu não tinha vivido na minha vida, casar, ter filhos. E no 7 de novembro nos casamos. Ele era um lorde inglês, um príncipe encantado, confessou a atriz.

- Eu percebia coisas, como por exemplo, determinadas roupas que ele não gostava que eu usasse, ter senha no celular não podia... Ele era grosso e eu me sentia diminuída. [A primeira agressão foi] no dia 4 para o 5 de março de 2018, quando nós já estávamos com o casamento no religioso pronto. Um mês e meio antes ele me agride. Ele chegou muito nervoso em casa. O Sérgio é um homem muito voraz no trabalho, ele é uma pessoa difícil de se dizer 'não'. Não pode contrariar. E a briga começou por um assunto banal. Ele chegou em casa muito nervoso, estressado e eu fui perguntar o quê aconteceu. Aí ele subiu, disse 'Não se mete na minha vida. Quem é você?' E eu respondi 'Eu sou sua mulher. Você não vai falar assim comigo, Sérgio. Vai me tratar com respeito'. E aí foi o primeiro empurrão. Ele me empurrou com muita raiva e deu um tapa no meu rosto. Eu enfrentei. Subi as escadas para pegar minhas coisas e ir embora. Meu mundo caiu naquele segundo. E aí ele começou a ficar desesperado. 'Você não vai sair, você vai fazer o que eu quero e o que eu mandar'. Aí a gente começou a discutir, ele me pegou no braço e me jogou no chão. E aí foram agressões sucessivas. Ele não me deixou sair de casa. Trancou as portas, quebrou os telefones. Tentei sair correndo, abrir a porta. Desci a escada, morávamos numa casa grande. Ele tentou ir atrás de mim, pegou uma faca e mandou eu voltar. Ele disse 'Volta para cá senão eu vou te matar'. Colocou a faca na minha barriga, me mandou ajoelhar e falou 'Diz que eu estou sempre certo'., contou.

- Isso foi uma madrugada inteira de brigas. Ele furou o pneu do meu carro, eu estava sem celular e não tinha com quem me comunicar. Meu pai cego, coitado, ligou para ele e ele atendeu dizendo que estava tudo bem, e a casa toda quebrada. Estou resumindo bem. Fui para a casa do meu pai, para a delegacia e prestei queixa. Ele foi preso em flagrante, pagou uma fiança (mil e quinhentos reais) e saiu em duas horas. Ele me mandou quinhentas mensagens. Duas semanas depois ele disse que queria conversar comigo com os filhos dele presente. Disse que estava passando por uma fase difícil, ajoelhou na rua, pediu pelo amor de Deus, chorou, que eu era a mulher da vida dele, que queria morrer comigo. Voltei para a casa. Eu fiquei com medo dele, mas eu, Cristiane, acho que todo mundo merece uma segunda chance. Não estou falando no sentido da agressão. Ele falou com tanta verdade para mim, e eu ainda estava muito apaixonada. Tinha acabado de me casar. Eu queria acreditar que aquilo não estava acontecendo.

Câmeras

Cristiane também explicou o motivo de ter instalado as câmeras para comprovar as agressões. Ela ainda relatou que foi à delegacia por cerca de quatro ou cinco vezes, e em que em uma dessas ocasiões, esperou por cinco horas para fazer o boletim de ocorrência.

- Eu coloquei as câmeras porque ele ameaçou o meu pai, eu tenho um áudio dele dizendo que se eu o entregasse, ele me matava e matava os meus pais. Isso foi em julho. Eu gravei esse áudio e logo depois eu consegui colocar as câmeras. Porque o Sérgio é um lorde, quem o conhece acha que ele é uma pessoa altamente inteligente. Todo mundo gosta dele. Ele é uma pessoa influente, que se acha acima do bem e do mal., admitiu.

- Eu morro de medo. Ele quebrou a medida protetiva várias vezes. Acho que eu estou viva por causa de Deus. Eu não tinha a menor dúvida de que ele iria me matar. Ele estava possuído de tanto ódio, tanta raiva. Ele não me deixou sair da casa nunca, eu tentei sair várias vezes. Quando ele me enforcou, chegou um momento que ele apertou tanto o meu pescoço que eu não conseguia respirar. O Sérgio bateu tanto na minha cabeça que criou um coágulo no meu tímpano direito. Ainda não consegui fazer o teste de quanto de audição eu perdi do ouvido direito., confessou.

Término da relação

A atriz esclareceu como finalmente saiu daquela situação drástica; entretanto, no papel, ela permanece casada com Sérgio. Posteriormente, Cristiane conseguiu resgatar as filmagens das agressões pela internet.

- Do dia 31 de agosto para o dia 1º de outubro eu saí de casa só com a roupa do corpo, sem documentos. Eu consegui porque ele dormiu, eu sabia que o caseiro chegava às nove horas. Eu peguei a minha cachorra, que ele tinha aberto a cabeça dela. Pedi para o caseiro entregar a cachorra na casa da minha tia. E aí eu saí a pé, sem meu celular porque o Sérgio tinha quebrado. Ao todo, foram seis celulares quebrados. Fiz o boletim de ocorrência, fui para o IML. Aí ele ficou desesperado, bateu o carro três vezes, ficou fazendo chantagem emocional para a minha família tentando me achar, para que eu não prestasse queixa dele. Mas aí eu não poderia mais voltar atrás. Ou eu morria ou eu morria. Eu não tinha outra opção. E mesmo vivendo com a vergonha, porque a gente fica com vergonha de expor uma situação dessas, eu decidi tornar isso público. Quero dizer para as mulheres que eu sou uma sobrevivente e que elas também podem mudar a vida delas. A gente tem que ter coragem.

Descobertas

Após expôr o relacionamento abusivo, a artista recebeu diversas mensagens de mulheres que já haviam sido agredidas por Sérgio.

- Recebi mensagens de ex-namoradas dele, e ele me dizia que nunca tinha agredido ninguém. Que isso era comigo, um fato isolado. E aí essas mulheres vieram me dizer que passaram pela agressividade, pela violência sexual, pela agressão mesmo... Fui descobrindo outras agressões de outras mulheres. Essas mulheres me relataram que, durante o sexo, ele colocava a mão no pescoço delas. Eu não sofri violência sexual, mas eu também não podia dizer não.

Futuro

Apesar do empresário estar preso, Cristiane ainda teme pela sua segurança e pela segurança de sua família.

- Soube que ele estava preso por um jornalista que me telefonou. Estou me revezando em lugares até conseguir fazer a mudança toda. Ainda não me senti aliviada. Tenho muito medo do que vai acontecer daqui para frente, da raiva dele, dele ser solto. Não me sinto segura. O meu emocional está abaladíssimo. Ainda estou pensando em como vou reconstruir a minha vida. Também me preocupo com os meus pais.

Se você conhece alguém que esteja sofrendo violência doméstica e precise de ajuda, denuncie nos seguintes locais:

Delegacias de Polícia ou Delegacias de Atendimento à Mulher;

Emergência (190);

Ministério Público e Defensoria Pública;

Disque-Denúncia (180).