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‘Prefeituras serão próximas metas do MBL’, diz Kim Kataguiri

Kim Kataguiri,líder do MBL e deputado federal eleito

Por Daniel Tossato
Do Diário do Grande ABC
26/11/2018 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Aos 22 anos, Kim Kataguiri (DEM) estreou na política eleitoral se elegendo deputado federal com 465,3 mil votos, o quarto melhor desempenho em São Paulo. Além dele, lideranças do MBL (Movimento Brasil Livre) passaram pelo teste de fogo das urnas. Tanto que o grupo, criado durante as manifestações contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), projeta concorrer a diversas prefeituras em 2020.


Em entrevista ao Diário, Kim aposta na derrocada do PT e volta a falar que será candidato a presidente da Câmara, apesar de contestações com relação à sua idade. “Trabalho com aqueles que entraram agora na Casa.”

Quais os planos do MBL (Movimento Brasil Livre) no Grande ABC?

Minha votação e a do Arthur (do Val, deputado estadual eleito pelo DEM) foram expressivas na região e a ideia é catalisar todos esses eleitores e ampliá-los até as eleições (de 2020). Podemos eleger vereadores e até lançar o Márcio Colombo (coordenador do MBL em Santo André) para prefeito. Já contamos com o grupo na cidade há um tempo. O Colombo já atuava na política de Santo André e regional até antes da criação do MBL. Agora ele poderá contar com toda a força que o MBL ganhou nesses últimos anos, com vereadores e deputados eleitos. Estamos, cada dia, adentrando nos poderes. O Executivo, sem dúvida, será uma das próximas metas do MBL. Em São Caetano também teremos candidatos, mas ainda não temos nomes.

Como o MBL analisa as gestões dos prefeitos na região?

Orlando Morando (PSDB,São Bernardo) tem realizado a melhor gestão entre os prefeitos da região. O que mais avançou nas pautas liberais. Ainda mais porque pegou a cidade com rombo em termos orçamentários. Maior do que aqueles encontrados por Paulo Serra (PSDB, Santo André) e (José) Auricchio (Júnior, PSDB, São Caetano) e ainda assim está conseguindo manter os investimentos, que é uma das primeiras coisas que você corta quando o governo está em crise. Paulo Serra tem feito trabalho razoável, mas não tem feito governo tão liberal quanto a gente esperava, mas, de qualquer maneira, não dá para dizer que nos arrependemos de apoiá-lo, até porque era a opção mais razoável. Esperávamos de Paulo Serra mais corte de impostos, mesmo que tenha pego um caixa ruim, comparando com São Bernardo, pegou um caixa melhor, poderia ter implementado mais cortes de gastos na máquina pública. O corte no primeiro escalão é mais simbólico do que efetivo, o que realmente traz impacto é cortar uma grande quantidade de cargos comissionados principalmente, nesse sentido ele não fez esse trabalho, tanto que Santo André não tem caixa suficiente para abrir mão de arrecadação. E o Auricchio, bem, entramos com pedido de impeachment, que ainda está na Câmara (pedido foi rejeitado pelos parlamentares) e estamos acompanhando os avanços na Justiça.

O PT nasceu em São Bernardo e ainda tem muita força na região. Nas últimas eleições, foi visível a perda de forças da legenda no Grande ABC. Como o senhor analisa a queda do PT na região?

Acho que as eleições de 2016 foram aquelas em que se consolidou a queda do PT no poder e o Grande ABC é um dos maiores símbolos disso. Hoje, a região não tem nenhuma Prefeitura petista pela primeira vez na história. Acho que em 2018, pelo menos pelo que acompanhei na representação na Assembleia e na Câmara dos Deputados, também não se vê a força de outrora dos petistas daqui da região. Acho que dá para dizer que o enfraquecimento se consolidou, não foi alguma coisa momentânea como chegou a se cogitar em 2016.

Cientistas políticos atestam que um dos maiores perdedores desta eleição foi o PSDB. Geraldo Alckmin amargou quarto lugar na disputa presidencial, mesmo tendo o maior tempo de TV. O senhor concorda com essa leitura?

O PSDB foi um dos maiores derrotados destas eleições. Fez aliança com o Centrão, piorou a imagem nacionalmente. Imagem que já não estava boa, vide denúncias de corrupção envolvendo o (senador) Aécio (Neves, MG) e outros integrantes. Perdeu grande parte da bancada e acredito que vá perder mais ainda na eventual criação de outro partido ou na saída de políticos durante a janela eleitoral. Há várias alas se movimentando dentro partido. O PSDB sempre foi um partido rachado e agora esse racha vai expor ainda mais o partido e enxugá-lo ainda mais. Muitos políticos acabaram perdendo as eleições deste ano por estarem filiados ao PSDB, que é um pouco do que acontece com políticos petistas.

O senhor acredita que as fake news foram determinantes para as eleições deste ano?

Acho que influenciou, mas não foi de forma definitiva, não definiu a eleição. A maior parte das pessoas que votaram no Jair Bolsonaro (presidente eleito pelo PSL) votou por questões verdadeiras, como a questão de ser antiestablishment e defender a questão da Segurança Pública. As pessoas que votaram no Fernando Haddad (candidato a presidente pelo PT) também votaram nele por questões de ideologia e por estar ligado ao (ex-presidente Luiz Inácio) Lula (da Silva) e por ser contra o Bolsonaro. A influência será cada vez menor de agora em diante. Primeiramente temos esse impacto inicial, mas isso com o tempo vai diminuindo. A questão do WhatsApp, de que pesou muito nas eleições, é discurso político. É até irônico você pegar um partido que fez um esquema de corrupção bilionário, que financiou comprovadamente veículos de imprensa que fizeram propaganda de seu governo, que comprou parlamentares, que comprou tempo de televisão, dizer que o grande problema está na ‘tiazinha’ que compartilha meme do Bolsonaro pelo celular.

Como o senhor viu o impacto da internet nas eleições? A internet é o futuro da política?

A internet teve um peso bem maior do que imaginávamos. A gente sabia que ela teria um peso importante, mas não desta forma. Não esperávamos que teria mais peso que a televisão. Acho que agora é um ciclo sem volta. A partir do momento em que as pessoas se informam mais rapidamente pela internet, elas não vão querer voltar a ver televisão ou rádio. Qualquer notícia que sai na televisão e rádio já está atrasada em relação à internet e às redes sociais e as pessoas querem debater e criar opiniões sobre a notícia.

Após o impeachment de Dilma Rousseff, qual avaliação o senhor faz do governo de Michel Temer (MDB)?

Acho que o Brasil parou de piorar e esse era nosso objetivo central. Não é nenhum governo dos sonhos, mas teve bastante corte de gastos discricionários, que é aquele que o governo tem de cortar. E na questão ética, nem tem o que falar, o outro governo trocava a mãe por um ministério.

Como o senhor vê a nomeação dos ministros no governo Bolsonaro e a participação do DEM na gestão?

Não posso falar por todos os nomes escolhidos, mas a maior parte dos que eu vi são nomes dos setores para os quais foram indicados e preparados com experiência. Até agora não vi ninguém que seja réu em ação penal, acho que esse seria um problema. Ainda que sendo réu não pode ser considerado culpado, acho complicado um governo recém-eleito bancar um réu como ministro de Estado. São nomes razoáveis. Sobre a participação do DEM no governo, o Bolsonaro não pede para o ACM (Neto, prefeito de Salvador, presidente nacional do partido) as indicações, basicamente ele (Bolsonaro) está tirando de sua cota pessoal esses nomes e colocando nos ministérios sem ter apoio do próprio DEM. Então hoje o DEM está super-representado no governo, mas não garante apoio do próprio partido, pois isso não está sendo costurado. Ele tem negociado mais com as bancadas do que com os partidos. Não nego que isso gere ciúmes em outros partidos.

Desde que se elegeu, o senhor tem dito que pretende se candidatar à presidência da Câmara. Essa intenção ainda persiste? Como ficaria a reeleição do atual presidente da Casa, Rodrigo Maia, também do DEM?

Mantenho minha estratégia de ser candidato à presidência da Câmara. Minha estratégia é trabalhar com aqueles que estão entrando agora na Câmara, enquanto ele (Rodrigo) trabalhará com aqueles que foram reeleitos. Tentaram colocar a questão da idade como impedimento, mas não é assim. A Constituição diz que para ser presidente da República precisa ter 35 anos e fizeram uma analogia com a presidência da Câmara, mas não precisa (oposição à candidatura de Kim aponta que, como presidente da Casa, ele entraria na linha sucessória e, com 22 anos, desrespeitaria a Constituição).

Há movimentações para o MBL se tornar um partido. Por que isso não foi pensado desde o começo?

A gente defende que nesta legislatura seja aprovado sistema distrital misto. Nessa modalidade eleitoral, a gente acredita que faz sentido o MBL ter um partido político e não se tornar um partido, porque acreditamos que o MBL é maior que isso. Ter um partido para seus integrantes disputarem a eleição, porque aí você passa a ter debate e passa mais perto daquilo que o MBL defende de debate ideológico na internet. Hoje, teríamos que arregimentar prefeitos, vereadores e demais políticos para disputar eleição e criar quociente eleitoral. Isso é uma discussão que ainda temos, se realmente esse seria o caminho ou não, mas é uma possibilidade real. Lembrando que a representação constitucional é a menos importante dos pilares do MBL, pois é a última a ser construída. Primeiro você constrói uma base social, militância e comunica seus ideais para depois disputar cargos públicos.

Como o senhor analisa os primeiros passos de João Doria (PSDB) como governador eleito de São Paulo?

Doria já começou com o pé esquerdo ao indicar o ministro Gilberto Kassab (PSD) para chefia da Casa Civil. As urnas deram o recado de que esse é o tipo de prática totalmente inaceitável. Trocar um apoio partidário por uma secretaria, independentemente da capacidade daquela pessoa para ocupar aquele cargo, é justamente o que foi rejeitado nestas eleições. Ele começou na contramão daquilo que inclusive o elegeu. Vejo com bastante cautela essa expectativa de uma mudança completa no governo do Estado, porque começou com mais do mesmo. A nomeação de Kassab para a Casa Civil criará outras discordâncias, já que é onde acontece articulação junto à Assembleia Legislativa. Nós sabemos como o Kassab faz política, da maneira antiga. A atuação do MBL no governo Doria será similar à do governo Bolsonaro, mas com mais discordâncias do que em nível federal. São deputados independentes que votarão defendendo a pauta liberal.

RAIO X

Nome: Kim Patroca Kataguiri

Estado civil: Solteiro

Idade: 22 anos

Local de nascimento: Salto, e mora em São Paulo

Formação: Estudante de Direito

Hobby: Barzinho, cinema, mangá e Dota (jogo de videogame)

Local predileto: Minha casa

Livro que recomenda: O Espírito das Leis, de Charles Louis de Secondat, conhecido como Montesquieu

Artista que marcou sua vida: Juliana Kataguiri (irmã e artista plástica) e Ronald Reagan (ex-presidente dos Estados Unidos)

Profissão: Deputado federal eleito

Onde trabalha: A partir de fevereiro, na Câmara Federal




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