Eleita há 4 anos, Dilma despendeu R$ 350 mi; vitorioso agora, Bolsonaro investiu R$ 2,5 mi
Os números da prestação de contas dos candidatos traduzem a percepção de uma campanha mais barata na comparação com 2014. Dados fornecidos pelos postulantes ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) indicam que a corrida presidencial custou 66% menos e que as despesas no pleito ao governo paulista caíram 55%.
Os valores ainda precisam ser atualizados com os custos do segundo turno – tanto na eleição presidencial quanto na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes –, mas já é possível cravar economia considerável de quantias financeiras.
A discrepância mais gritante é a do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Deputado federal pelo Rio de Janeiro, o capitão reformado declarou ter investido R$ 2,5 milhões em sua campanha. Isso quer dizer que Bolsonaro despendeu 99% menos do que a presidente reeleita em 2014, Dilma Rousseff (PT), que desembolsou R$ 350,2 milhões há quatro anos. O segundo colocado à ocasião, Aécio Neves (PSDB), encerrou o processo eleitoral com despesa na ordem de R$ 227,4 milhões.
Entre os candidatos a governador, o custo também foi reduzido. Geraldo Alckmin (PSDB) foi reeleito para o quarto mandato em 2014 numa campanha que custou R$ 40,4 milhões – ele triunfou já no primeiro turno. O ex-prefeito da Capital João Doria (PSDB) venceu a eleição deste ano tendo desembolsado R$ 19,2 milhões (52,4% a menos). Doria precisou do segundo turno para bater Márcio França (PSB) e, portanto, esses números serão atualizados, mas não devem chegar perto do que Alckmin gastou há quatro anos.
“Quando tem a proibição do financiamento privado de campanha, tenta dar sinalização aos políticos de que a força do poder econômico não pode suplantar a capacidade de convencimento dos políticos. Significou redução substancial do custo da campanha, especialmente a televisiva. (O ex-presidente) Lula (PT) e Dilma gastaram milhões com marqueteiros. Tanto João Santana e Duda Santana ganharam, via caixa dois, em dólares, no Exterior. Era custo altíssimo. A campanha da Dilma foi absurda. Vejo com bons olhos política que dependa menos dos marqueteiros e tenha proximidade maior com o eleitor”, analisou o cientista político Rodrigo Prando, da Mackenzie.
O especialista alertou, porém, para um efeito colateral visto nesta eleição. “Bolsonaro, com R$ 2 milhões (de despesa), focou nas redes sociais, ninguém deu tanta atenção. O problema disso é a manipulação via redes sociais, as fake news, direcionamento e compras de dados. Precisamos de pesquisas quantitativa e qualitativa para mensurar o impacto concreto e efetivo do WhatsApp, do Facebook, do Instagram, do Twitter na composição do voto para o eleitor.”
Entre os deputados eleitos pelo Grande ABC, o dispêndio também sofreu forte retração. Os nove eleitos em 2014 gastaram, juntos, R$ 16,2 milhões. Os oito vencedores deste ano desembolsaram R$ 4,6 milhões – 71,7% a menos.
Apesar de ter aumentado as despesas (de R$ 1,18 milhão para R$ 1,26 milhão), o deputado federal reeleito Alex Manente (PPS) argumentou que a tendência é de aversão do eleitor a campanhas mais voluptuosas. “Sempre exigi que os custos da minha campanha fossem contabilizados dentro da lei. O caixa dois é o mal que precisa ser combatido, a partir da legislação que aprovamos (para barrar o financiamento privado). A tendência é as campanhas diminuírem. A força econômica nesta eleição mostrou que não é mais preponderante para vitória. Houve ruptura eleitoral bastante clara. Há outro meio de se chegar ao eleitor, que não só contratar cabos eleitorais, materiais, mas com relação de se comunicar com eleitor”, discorreu o popular-socialista, que também aposta em impacto na eleição de 2020, em especial entre os postulantes à vereança. “Nunca houve tamanha renovação, eleitos com baixíssimos custos. Vale menos o recurso e mais o conceito.”
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