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Há dez anos, o planeta diminuiu
Luciane Mediato
Do Diário do Grande ABC
14/06/2011 | 07:26
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A primeira década deste século guarda acontecimentos que podem definir o que ainda está por vir. Em dez anos, a geopolítica mundial foi transformada por fatos como os atentados às Torres Gêmeas e a eleição de um metalúrgico como presdidente do Brasil. Mas o que isso significou em nossas vidas? O jornalista Daniel Piza traz algumas respostas no livro 'Dez Anos Que Encolheram o Mundo' (Editora Leya, 224 páginas, R$ 34, 90).

O autor dividiu a análise em cinco temas: política e economia, cultura e comportamento, ciência e tecnologia, meio ambiente e metrópoles e esportes. Entre outros assuntos, ele aborda a influência das inovações na tecnologia da informação para as mudanças na maneira de ver, entender e atuar no mundo, constatando que praticamente todas as profissões sofreram, de uma forma ou de outra, mudanças em seu modus operandi. Por outro lado, com as novas tecnologias, as distâncias tornaram-se praticamente inexistentes, daí o encolhimento do mundo.

Piza, além de fazer retrospectiva dos grandes acontecimentos que marcaram o período de janeiro de 2001 a dezembro de 2010, propõe a análise dos principais fatos que influenciaram o curso da história nesse período. Uma obra importante para quem vê o mundo de maneira crítica, mas principalmente para aqueles que não conseguiram acompanhar nem entender o que de mais relevante aconteceu no planeta nesse início de século, ditando os rumos da humanidade. O autor conversou com o Diário sobre o primeiro livro da América Latina que trata da década.

DIÁRIO - Quais os fatos mais surpreendentes no século 21 para você? O que foi consequência de fatos históricos e o que aconteceu de inédito?

PIZA - Qualquer fato histórico é consequência de processos anteriores, mas seguramente o atentado às Torres Gêmeas e a eleição de Obama não foram previstos e tiveram muitas consequências. Outros são processos que se acentuaram agudamente no período, como o crescimento chinês e a expansão da internet.

DIÁRIO - Como você enxerga as guerras atuais? Seriam elas uma versão das guerras por conquista de colônias e disputas de riquezas?

PIZA - Bem, toda guerra tem como estopim questões de posse e sobrevivência econômica, mas não estamos mais no tempo do colonialismo, da espoliação de riquezas naturais alheias. Ao contrário, vimos que países produtores de commodities como o Brasil - ferro, soja, carne, café - estão crescendo em ritmo maior do que os países desenvolvidos. As guerras da atualidade ou dizem respeito a reações geopolíticas a ataques como o 11 de setembro, as quais envolvem a questão do petróleo, ou são motivadas pelo esgotamento de regimes autoritários, como nos países árabes da África, ou ainda uns conflitos tribais que infelizmente restam.

DIÁRIO - Seria possível fazer uma comparação entre a primeira década do século 21 com algum outro período histórico?


PIZA - É difícil. Há uma ampliação da classe média e uma explosão de novos meios de comunicação que lembram a década de 1950, mas, por outro lado, hoje há uma série de políticas restritivas contra fumo, por exemplo, que são opostas ao clima libertário dos fifties.

DIÁRIO - Você acredita que a China ameaça a supremacia dos Estados Unidos?

PIZA - Os Estados Unidos vão demorar a perder a condição de economia mais desenvolvida do planeta, pois mesmo que a China ultrapasse seu PIB, terá mais de 1,3 bilhão de pessoas para alimentar. E a cultura norte-americana em muitos aspectos ainda nos molda, como se vê na World Wide Web e na universalidade do idioma inglês, nos seriados de TV e nos filmes de maior sucesso. Mas a China vai ficar cada vez mais importante, pode ter certeza. Eles levam educação e tecnologia muito mais a sério do que, por exemplo, o Brasil.

DIÁRIO - Como você enxerga o mundo daqui uma década?

PIZA - Futurologia não é minha praia, mas acho que há algumas tendências, como essa ascensão dos emergentes, as revoltas no mundo árabe e a cultura das celebridades. Será um mundo cada vez mais oscilante entre novas formas de relação coletiva - talvez o consumo mais consciente, do ponto de vista ambiental - e de excessos individualistas. É bem complexo.




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