Turismo Titulo Rota da Uva de Jundiaí
Histórias de gente que faz

Pequenos produtores se unem para dar visibilidade aos negócios e pôr Jundiaí de vez no mapa da uva

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
01/11/2018 | 07:22
Compartilhar notícia
Divulgação


Por trás dos rótulos de vinhos produzidos na Rota da Uva de Jundiaí estão histórias de gente batalhadora que, na maioria das vezes, herdou o negócio familiar de pais e avós num período em que o setor vinícola estava em baixa, e mesmo sem ter tanta intimidade com o assunto passou a estudá-lo, a conversar com concorrentes diretos e a se unir em cooperativa, a fim de expandir o negócio e colocar a cidade de vez no mapa da uva no País.

Evandro Marquesim, por exemplo, era caminhoneiro quando decidiu, para ficar mais perto dos filhos, assumir a adega de seu pai, então com produção anual de 2.000 litros de vinho. Hoje ele triplicou o volume e planta o equivalente a 12 mil pés de uva – 10% da quantidade que era 20 anos atrás. A Adega Marquesim é uma das 20 cooperadas que se uniram para sair da informalidade, envasar a bebida e comprar sacolas para presente por preço menor. “A ideia é nos juntar para que todos se ajudem e se fortaleçam. Queremos crescer muito, agregar valor ao nosso produto, caprichar cada vez mais no vinho e no atendimento.”

Algo semelhante aconteceu com Antônio Galvão Júnior, que largou o ramo da automação industrial para retomar o negócio do avô – pelo qual seu pai não se interessou e se tornou caminhoneiro. “Preservei 90 pés de uva da época do meu avô, que um dia somaram 35 mil, mas, por conta da mão de obra escassa, foram diminuindo. Hoje tenho 350 pés. Minha produção, que em 2017 foi de 4.000 litros, neste ano chegará a 6.000 e, em 2019, 9.000. Sou fissurado nisso. Uva exige estudo e estou me dedicando ao tema”, conta ele, que também produz cerveja artesanal.

A psicóloga Angela Moniz também assumiu o negócio do pai e tem planos vigorosos para a Adega do Português que, inclusive, cogita mudar o nome para Adega da Portuguesa. Em dois meses vai abrir restaurante de culinária típica da Terrinha – sua família é da Ilha da Madeira – em casa centenária. Além disso, quer investir em produtos com um quê de inclusão, confeccionando garrafas especiais para pessoas com deficiência, e apostar cada vez mais no olhar feminino para a viticultura: só mulheres trabalham no local, com exceção de seu filho. Um dos produtos desenvolvidos, inclusive, é um cooler, vinho branco refrescante com pêssego, que possui menor teor alcoólico (7,2%). “Um dia quero produzir vinho orgânico, totalmente livre de agrotóxicos.”

APOSTA NO ESPUMANTE - A Adega Beraldo di Cale também é chefiada por duas mulheres: a bancária Solange Paolini, que resolveu mudar de área para tocar negócio fundado pelo avô, e sua filha, Ariana Sgarioni, enóloga que foi para o Sul se especializar. “Em quatro anos, queremos ter 100% da uva que utilizamos plantada aqui. Hoje produzimos 18 mil garrafas de vinho por ano e 2.000 de espumante”, conta. Aliás, este último começou a ser produzido neste ano. “Antes não era permitido. Em março fizemos o registro e agregamos mais valor.”

Amarildo Martins, proprietário da Adega Don Martê, que produz 5.000 litros de vinho por ano, também tem apostado no espumante. “Fizemos o primeiro vinho espumante com uva niágara no Estado de São Paulo”, revela. “Assim como existem as denominações champagne, prosecco e espumante, conforme a região produtora, queríamos registrar produto com o nome niágara.”

Para Martins, o maior prazer da profissão está em vender sua história engarrafada.


Vinho ''''santo'''' com a chancela do Vaticano

Sabia que quando um papa visita algum país o Vaticano analisa, previamente, o vinho que será servido a ele durante cerimônia, com preferência às bebidas produzidas localmente?

E que o vinho servido a dois papas, Bento XVI e Francisco, para a celebração das missas em visita a Aparecida (Interior) em 2007 e 2013 foi escolhido de uma vinícola de Jundiaí?

Trata-se da Adega Maziero, fundada há 130 anos e que tem a terceira geração da família de mesmo sobrenome na ativa na fábrica. Segundo a coordenadora e guia turística da Rota de Uva, Mary Bueno, é para onde vai o maior fluxo espontâneo de Jundiaí, e um dos motivos para isso é que a degustação em tonéis é aberta à população, sem custo extra.

Conforme relata, orgulhoso, Clemente Maziero, um dos proprietários, em 2007 integrantes do Vaticano analisaram 23 amostras de vinho nacional, e a de vinho de uva niágara rosada doce da adega foi escolhida como a mais pura. “Isso alavancou bastante os negócios, e impulsionou o nome da adega”, conta ele, atribuindo o sucesso dos negócios à chancela da meca da Igreja Católica.

“Da segunda vez, nosso vinho foi indicado automaticamente. E isso fez com que nossas vendas dobrassem de tamanho”, revela Maziero.

Anualmente, a vinícola, que possui 60 mil pés de uva em sua propriedade, produz 80 mil litros de vinho por ano, sendo 25 mil do tipo rosado produzido com a uva niágara, que ficou popularmente conhecido como ‘vinho do papa’. “Ele é o nosso carro-chefe. Estamos só esperando o anúncio de mais uma visita do papa ao Brasil”, diz, na torcida.

Os rótulos da adega, inclusive o vinho ''''santo’, custam de R$ 25 a R$ 30.
 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.

Mais Lidas

;