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Made in China

Ai Weiwei expõe obras pela primeira vez no Brasil; algumas foram confeccionadas em São Caetano

Daniela Pegoraro/Especial para o Diário
21/10/2018 | 07:56
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Divulgação


Ao passar em frente aos portões do Parque Ibirapuera, em São Paulo, é possível vislumbrar o trabalho artístico que chegou com ineditismo ao País. Ao ar livre, a instalação Forever Bicycles chama a atenção com todo o tom arquitetônico, de encaixe e profundidade criado por bicicletas prateadas que se conectam uma a outra em estrutura única. Mas é no interior do espaço expositivo do parque, na Oca, que se encontra Raiz, a maior exposição já realizada pelo chinês Ai Weiwei. Com 8.000 m², a mostra apresenta trabalhos consagrados do artista e produções realizadas no Brasil – uma das obras, inclusive, teve confecção das peças pela Porcelana Teixeira, em São Caetano.

Dentre as esculturas e instalações, as obras têm irreverência, crítica, ativismo político e senso de denúncia de Weiwei. A ideia de trazer o trabalho do chinês para terras brasileiras vem desde 2011, por iniciativa do curador Marcello Dantas. O artista se interessou, mas foi preso ainda naquele ano sob acusação de evasão de impostos pelo governo chinês, o qual confiscou seu passaporte por cerca de quatro anos. Uma vez no Brasil, desenvolveu obras especialmente para a exposição na cidade de Trancoso, na Bahia. “Fizemos um projeto sem patrocínios ou vínculos com instituições porque o artista não quis trabalhar sob tutela de ninguém, quis ter total liberdade criativa”, explica o curador.

E ideia não faltou. De forma a interpretar a cultura e natureza brasileira, o chinês utilizou raízes desenterradas de pequi-vinagreiro, árvore típica da Mata Atlântica e em risco de extinção, para criar esculturas. “Grande parte do trabalho do Weiwei é de resgatar as raízes apagadas da cultura chinesa. Ao mesmo tempo, traz para a exposição a concepção de que as árvores se comunicam por suas raízes. Uma árvore da China pode ter ‘conexão’ com uma do Brasil, por exemplo”, conta Dantas, de forma metafórica.

PRODUÇÃO NA REGIÃO
Foi na fábrica Porcelana Teixeira, de São Caetano, que se deu a produção de uma das obras de Ai Weiwei, que está na Oca. O artista encomendou a confecção de réplicas de frutas-do-conde, ostras, dendês e abacaxis. As peças em questão formam a obra chamada F.O.D.A. “Certo dia, Weiwei perguntou como se traduzia a palavra fuck para o português, e resolveu criar uma obra com frutas que tivessem aquelas iniciais”, relembra o curador Marcello Dantas. “Claro que, quando chegamos à letra ‘O’ foi um problema. Sugeri então utilizarmos a ostra, um fruto do mar e que remete à sexualidade, ao afrodisíaco”.

Coordenada pela designer Rachel Hoshino, a fábrica da região, que está no mercado de porcelanas há 20 anos, passou a dar vida às ideias do artista chinês. A designer conta que foram indicações que levaram Weiwei até seu trabalho. “Nunca tinha feito peças para grandes exposições antes, foi diferente”, comenta. Foram envolvidos no projeto artesãos, artistas e mestres. “A produção foi difícil. O processo inteiro durou cerca de seis meses: três para desenvolvimento técnico das peças e três para a confecção.” No total, foram produzidas 1.200 frutas. Quatro delas estão na exposição – uma de cada ‘inicial’ – e as demais réplicas estarão à venda pela galeria ArtEEdições.

Ai Weiwei Raiz – Exposição. Na Oca no Parque Ibirapuera – Avenida Pedro Álvares Cabral, s/n, em São Paulo. Até 20 de janeiro. De terça-feira a sábado, das 11h às 20h, e domingos e feriados, das 11h às 19h. Ingr.: R$ 10 a R$ 20.  




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