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Triste manhã
Por Rodolfo de Souza
11/10/2018 | 07:00
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Triste manhã esta em que constato aquilo que vinha protelando constatar ao longo de toda a minha vida. Refiro-me, evidentemente, ao descaso com a inteligência refinada, perfil tatuado no gene humano que habita estas paragens. A velha canção diz que se trata de um povo marcado e feliz, o que ficou claro nesse dia de corrida às urnas em que essa gente teve a oportunidade de, quem sabe, colocar um ponto final na exploração que leva à retumbante desigualdade social debaixo desta imensa lona, mas se recusou a fazê-lo.

Todavia, há quem diga que o fato não está consumado. 

Aquela parcela da população, que pensa e que ainda sonha com uma reviravolta nesta angustiante batalha pela liberdade. São pessoas que cuidam para que não se apague a pequenina chama de esperança que persevera em meio ao caos que ora se avizinha. Vamos à luta! – dizem entusiasmadas, embora a consciência lhes cochiche no ouvido que não será nada fácil vencer a truculência. A mesma que não vem de um só homem, que vem de toda uma população que, há muito, a guarda no peito, contida, quieta, esperando o momento certo para explodir numa catarse, numa espécie de orgasmo que conduz o indivíduo à violência contra o seu semelhante e, consequentemente, contra a democracia. É ele, afinal, que sente verdadeira paixão em promover a selvageria no trânsito, nos campos de futebol, em toda parte sem saber que sua conduta é que torna feio e ruim este mundo, contra o qual se revolta como meio de justificar a estupidez. Não sabe, inclusive, que o candidato só fez explodir este sentimento nefasto que, há muito, habita seu coração. Talvez sua autoestima baixíssima veja nele, no candidato, o libertador, aquele, por meio de quem possa dar vazão ao seu recalque reprimido. E nem ele, o tal presidenciável, tem noção da fúria que seu discurso, sob um disfarçado viés de justiça, despertou, com direito, inclusive, de calar o outro que se diz contrário à sua causa. Principalmente se este lhe oferecer as costas.

Mas é manhã, e, como toda manhã anuncia um novo dia, um recomeço cheio de garra deve vir com ela. É o que proclama quem se nega a acreditar na derrota. 

Não sei. A democracia está por um fio, e sabe que depende de alianças, alianças que se encontram, por ora, magoadas pelo resultado negativo. Muito natural no ser humano este sentimento pungente que maltrata a alma frustrada. 

Dá até para entender um sujeito cheio de conhecimento, que domina como ninguém os assuntos pertinentes ao meio governamental, se ver, de repente, derrotado por um ser que nem sabe ao certo o que faz ali, que passou quase três décadas no Congresso de seu país e nada aprendeu sobre o ofício de governar. E é justamente este que se lançou candidato ao mais alto posto do governo desta terra de ninguém, e que ainda conseguiu o apoio da maioria que viu, por meio de sua retórica, despertar a sua fera pessoal que já andava meio afoita por um barulho.

Conter a turba agora, nem mesmo ele, se eleito, conseguirá. Aliás, também será cobrado quando não puder colocar em prática seus anseios violentos. 




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